|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EXCLUSÃO
Baixo índice de crescimento da economia do país estende o desemprego aos trabalhadores com nível universitário
Colchão social exclui "neopobres" do país
GABRIELA ATHIAS
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O baixo índice de crescimento
da economia brasileira, em média
2,2% ao ano entre 1981 e 2002,
criou a categoria dos "neopobres", chamados por pesquisadores de "novos excluídos" e para os
quais o país não tem política de
atendimento.
A maioria das políticas sociais
do país é voltada para os chamados "excluídos tradicionais": famílias numerosas, cujos chefes
têm baixo nível de escolaridade e
filhos com algum nível de desnutrição. Essa população, que está
abaixo da linha da pobreza, sobrevive com menos de US$ 1 por
dia. O governo brasileiro estima a
existência de 9,1 milhões de famílias nessa situação.
O conceito dos "neopobres",
apresentado pelo economista
Márcio Pochmann, secretário do
Trabalho da Prefeitura de São
Paulo, foi debatido ontem durante o seminário Pobreza e Desigualdade no Brasil, promovido
pela Unesco (braço da ONU para
a Educação e a Cultura). Pochmann trabalhou a idéia na elaboração do recém-lançado "Atlas da
Exclusão".
O estudo foi lançado em março
e contém indicadores sociais de
todos os municípios brasileiros.
Ontem, Pochmann divulgou dados sobre os "neopobres" apenas
da cidade de São Paulo.
Os "neopobres" têm perfil diferente: são desempregados, muitos
dos quais com nível universitário,
e os jovens que concluíram o ensino médio (antigo 2º grau) e até
mesmo a universidade, mas não
conseguem entrar no mercado de
trabalho.
Apesar do alto nível de escolaridade, se comparados a maioria
dos brasileiros, os "neopobres"
são filhos de famílias que perderam renda ao longo dos últimos
20 anos, não têm herança e dependem de ocupação para se
manter. Os "neopobres" são um
fenômeno típico das capitais mais
ricas do país. A renda dessa população ainda não foi estudada, mas
muitos já vivem abaixo da linha
de pobreza.
Pochmann disse que na capital
paulista há 45 mil desempregados
com nível superior ante 23 mil desempregados analfabetos.
Segundo o secretário, de cada
dez pobres da cidade de São Paulo, seis fazem parte da categoria
dos "velhos excluídos" e quatro já
são "neopobres".
Pochmann crê que a melhor política social para os "neopobres" é
o crescimento econômico do país.
Para ele, a aprovação das reformas tributária e da Previdência
não é o suficiente para retirar os
"neopobres" da exclusão. As reformas, diz ele, vão melhorar o
"fluxo" de caixa do governo, mas
não vão alterar o estoque de riqueza do país: ela continuará concentrada na mão dos 10% mais ricos da população.
Ainda no campo dos "velhos
excluídos" -que são os alvos das
políticas sociais- a pesquisadora
Sônia Rocha, coordenadora de
projetos da Fundação Getúlio
Vargas, disse que a eficácia dessas
políticas depende mais do fato de
as famílias serem obrigadas manter os filhos na escola e frequentar
os postos de saúde do que do dinheiro propriamente dito.
Estudo feito por ela com base
nos recursos transferidos pelas
chamadas "bolsas" -escola, alimentação e vale-gás- mostra
que os programas têm um impacto muito pequeno na redução de
pobreza no país: um ponto percentual.
Rocha estudou a renda de 9,1
milhões de famílias que vivem
abaixo da linha da pobreza. Usou
dados da Pnad (Pesquisa Nacional da Amostra de Domicílios) de
99, quando ninguém no país recebia dinheiro do governo federal
por meio dessas bolsas. Essas famílias representavam 35% dos
pobres do país.
Texto Anterior: Viagem: Governadores querem recursos da Suframa Próximo Texto: Ministros não se entendem sobre políticas Índice
|