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São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2003

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EXCLUSÃO

Baixo índice de crescimento da economia do país estende o desemprego aos trabalhadores com nível universitário

Colchão social exclui "neopobres" do país

GABRIELA ATHIAS
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O baixo índice de crescimento da economia brasileira, em média 2,2% ao ano entre 1981 e 2002, criou a categoria dos "neopobres", chamados por pesquisadores de "novos excluídos" e para os quais o país não tem política de atendimento.
A maioria das políticas sociais do país é voltada para os chamados "excluídos tradicionais": famílias numerosas, cujos chefes têm baixo nível de escolaridade e filhos com algum nível de desnutrição. Essa população, que está abaixo da linha da pobreza, sobrevive com menos de US$ 1 por dia. O governo brasileiro estima a existência de 9,1 milhões de famílias nessa situação.
O conceito dos "neopobres", apresentado pelo economista Márcio Pochmann, secretário do Trabalho da Prefeitura de São Paulo, foi debatido ontem durante o seminário Pobreza e Desigualdade no Brasil, promovido pela Unesco (braço da ONU para a Educação e a Cultura). Pochmann trabalhou a idéia na elaboração do recém-lançado "Atlas da Exclusão".
O estudo foi lançado em março e contém indicadores sociais de todos os municípios brasileiros. Ontem, Pochmann divulgou dados sobre os "neopobres" apenas da cidade de São Paulo.
Os "neopobres" têm perfil diferente: são desempregados, muitos dos quais com nível universitário, e os jovens que concluíram o ensino médio (antigo 2º grau) e até mesmo a universidade, mas não conseguem entrar no mercado de trabalho.
Apesar do alto nível de escolaridade, se comparados a maioria dos brasileiros, os "neopobres" são filhos de famílias que perderam renda ao longo dos últimos 20 anos, não têm herança e dependem de ocupação para se manter. Os "neopobres" são um fenômeno típico das capitais mais ricas do país. A renda dessa população ainda não foi estudada, mas muitos já vivem abaixo da linha de pobreza.
Pochmann disse que na capital paulista há 45 mil desempregados com nível superior ante 23 mil desempregados analfabetos.
Segundo o secretário, de cada dez pobres da cidade de São Paulo, seis fazem parte da categoria dos "velhos excluídos" e quatro já são "neopobres".
Pochmann crê que a melhor política social para os "neopobres" é o crescimento econômico do país.
Para ele, a aprovação das reformas tributária e da Previdência não é o suficiente para retirar os "neopobres" da exclusão. As reformas, diz ele, vão melhorar o "fluxo" de caixa do governo, mas não vão alterar o estoque de riqueza do país: ela continuará concentrada na mão dos 10% mais ricos da população.
Ainda no campo dos "velhos excluídos" -que são os alvos das políticas sociais- a pesquisadora Sônia Rocha, coordenadora de projetos da Fundação Getúlio Vargas, disse que a eficácia dessas políticas depende mais do fato de as famílias serem obrigadas manter os filhos na escola e frequentar os postos de saúde do que do dinheiro propriamente dito.
Estudo feito por ela com base nos recursos transferidos pelas chamadas "bolsas" -escola, alimentação e vale-gás- mostra que os programas têm um impacto muito pequeno na redução de pobreza no país: um ponto percentual.
Rocha estudou a renda de 9,1 milhões de famílias que vivem abaixo da linha da pobreza. Usou dados da Pnad (Pesquisa Nacional da Amostra de Domicílios) de 99, quando ninguém no país recebia dinheiro do governo federal por meio dessas bolsas. Essas famílias representavam 35% dos pobres do país.


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