São Paulo, quarta-feira, 09 de maio de 2007

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Aborto contrapõe governo e igreja na chegada do papa

Lula diz que tema é questão de saúde pública; CNBB vê incentivo à promiscuidade

D. Geraldo Majella afirma que entidade fará grande campanha para que os fiéis rejeitem o aborto no caso de um plebiscito sobre o tema


EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ (SC)

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na véspera da chegada do papa, dois ministros, José Gomes Temporão (Saúde) e Nilcéia Freire (Mulheres), criticaram a Igreja Católica e grupos religiosos pela "agressividade" e tentativa de "censurar" o debate sobre o aborto. O presidente da CNBB, d. Geraldo Majella, acusou o governo de promover a promiscuidade no país.
Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou que o aborto é uma questão de saúde pública. Sobre o posicionamento dos líderes católicos, afirmou: "Eu acho que a Igreja tem, primeiro, autonomia e idade pra tomar as decisões que melhor lhe convenha", disse Lula em São José (SC).
Seus ministros concordam, mas criticam a maneira como a igreja tem discutido o assunto.
"É um tema que deve ser tratado com delicadeza. Não tenho percebido isso em alguns setores da Igreja, que fizeram declarações muito agressivas e distantes dos ensinamentos de Jesus", disse Temporão à rádio CBN. "Não é possível ignorar que milhares de mulheres se submetem a esse procedimento e as pessoas digam que nada está acontecendo."
"Acho importante que a igreja ou grupos fundamentalistas ou religiosos não ajam como censores de uma discussão que a sociedade deve ter", disse Nilcéia. Estima-se que 1 milhão de abortos clandestinos ocorrem no país a cada ano. Salvo em casos previstos em lei, a interrupção da gravidez é crime, punível com até três anos de prisão.
O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Geraldo Majella, reagiu. À BBC Brasil, criticou a iniciativa de Temporão de debater o aborto e disse que, se houver plebiscito a igreja fará "um campanha grande" para incentivar os fiéis a votarem contra. Ele criticou o programa de educação sexual do governo. "Favorecer uma educação para quê? Para estimular a precocidade da criança, do adolescente, como no caso da camisinha. Será que é educativo? Isso é induzir todos à promiscuidade."
A distribuição gratuita de preservativos faz parte do programa nacional de DST e Aids.
A fala de Temporão -que admitiu que há falhas na distribuição de métodos contraceptivos- foi alinhada à de Lula, que repetiu ser contra a interrupção da gravidez, mas que, como chefe de Estado, tratará o tema como questão de saúde pública. "Ninguém é a favor do aborto. A pergunta não é se é contra ou a favor. A pergunta é: A mulher deve ser presa? Deve morrer? É preciso olhar a mulher como ser humano". Amanhã, em encontro com Bento 16, Lula pretende evitar o tema.
O arcebispo de Belém (PA), dom Orani Tempesta, disse que "não pode concordar que quem deva cuidar da saúde leve à morte crianças indefesas".
D. Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, disse desconhecer as declarações de Temporão, mas afirmou que os católicos não são agressivos. "A defesa da vida, que é a posição da igreja, é justamente contra a agressão à vida." Ele afirmou que a igreja quer discutir o aborto. "Que não se excluam da discussão os que têm posição diferente daquela que se pretende majoritária, mas que, pelas estatísticas, não é. A população não é favorável ao aborto." Pesquisa do Datafolha em março mostrou que 65% dos brasileiros defendem que a lei sobre aborto continue como está.


Colaborou a Agência Folha

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