|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aborto contrapõe governo e igreja na chegada do papa
Lula diz que tema é questão de saúde pública; CNBB vê incentivo à promiscuidade
D. Geraldo Majella afirma que entidade fará grande campanha para que os fiéis rejeitem o aborto no caso de um plebiscito sobre o tema
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ (SC)
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na véspera da chegada do papa, dois ministros, José Gomes
Temporão (Saúde) e Nilcéia
Freire (Mulheres), criticaram a
Igreja Católica e grupos religiosos pela "agressividade" e tentativa de "censurar" o debate
sobre o aborto. O presidente da
CNBB, d. Geraldo Majella, acusou o governo de promover a
promiscuidade no país.
Enquanto isso, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou que o aborto é uma questão de saúde pública. Sobre o
posicionamento dos líderes católicos, afirmou: "Eu acho que a
Igreja tem, primeiro, autonomia e idade pra tomar as decisões que melhor lhe convenha",
disse Lula em São José (SC).
Seus ministros concordam,
mas criticam a maneira como a
igreja tem discutido o assunto.
"É um tema que deve ser tratado com delicadeza. Não tenho percebido isso em alguns
setores da Igreja, que fizeram
declarações muito agressivas e
distantes dos ensinamentos de
Jesus", disse Temporão à rádio
CBN. "Não é possível ignorar
que milhares de mulheres se
submetem a esse procedimento e as pessoas digam que nada
está acontecendo."
"Acho importante que a igreja ou grupos fundamentalistas
ou religiosos não ajam como
censores de uma discussão que
a sociedade deve ter", disse Nilcéia. Estima-se que 1 milhão de
abortos clandestinos ocorrem
no país a cada ano. Salvo em casos previstos em lei, a interrupção da gravidez é crime, punível
com até três anos de prisão.
O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil), d. Geraldo Majella,
reagiu. À BBC Brasil, criticou a
iniciativa de Temporão de debater o aborto e disse que, se
houver plebiscito a igreja fará
"um campanha grande" para
incentivar os fiéis a votarem
contra. Ele criticou o programa
de educação sexual do governo.
"Favorecer uma educação para
quê? Para estimular a precocidade da criança, do adolescente, como no caso da camisinha.
Será que é educativo? Isso é induzir todos à promiscuidade."
A distribuição gratuita de
preservativos faz parte do programa nacional de DST e Aids.
A fala de Temporão -que admitiu que há falhas na distribuição de métodos contraceptivos- foi alinhada à de Lula,
que repetiu ser contra a interrupção da gravidez, mas que,
como chefe de Estado, tratará o
tema como questão de saúde
pública. "Ninguém é a favor do
aborto. A pergunta não é se é
contra ou a favor. A pergunta é:
A mulher deve ser presa? Deve
morrer? É preciso olhar a mulher como ser humano". Amanhã, em encontro com Bento
16, Lula pretende evitar o tema.
O arcebispo de Belém (PA),
dom Orani Tempesta, disse que
"não pode concordar que quem
deva cuidar da saúde leve à
morte crianças indefesas".
D. Odilo Scherer, arcebispo
de São Paulo, disse desconhecer as declarações de Temporão, mas afirmou que os católicos não são agressivos. "A defesa da vida, que é a posição da
igreja, é justamente contra a
agressão à vida." Ele afirmou
que a igreja quer discutir o
aborto. "Que não se excluam da
discussão os que têm posição
diferente daquela que se pretende majoritária, mas que, pelas estatísticas, não é. A população não é favorável ao aborto."
Pesquisa do Datafolha em março mostrou que 65% dos brasileiros defendem que a lei sobre
aborto continue como está.
Colaborou a Agência Folha
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Memória: Em 1997, tema opôs bispos e Ruth Cardoso Índice
|