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A visita do papa
Bento 16 faz a viagem mais longa e distante
Apesar de ser menor do que duas viagens de João Paulo 2º ao país, vinda de Ratzinger papa se iguala em impacto político a 1980
No período de cinco dias, papa canonizará o primeiro santo brasileiro e fará o discurso de abertura da Conferência de Aparecida
LEANDRO BEGUOCI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao chegar hoje às 16h30 ao
aeroporto internacional de
Guarulhos (Grande São Paulo),
Bento 16 será o segundo papa a
visitar o Brasil.
Seu antecessor, João Paulo
2º, esteve no país em 1980, 1991
e 1997. A viagem do Bento 16
será menor que as duas primeiras do papa polonês em número de dias, cidades visitadas e
discursos proferidos, mas terá
importância e impacto político
para os rumos da Igreja Católica no Brasil e na América Latina semelhantes à primeira vinda ao país de seu chefe anterior.
Em 1980, João Paulo 2º visitou 13 cidades, em 12 Estados
do país. Durante 12 dias, fez 51
pronunciamentos. Em 1991, foi
a dez cidades em dez Estados
diferentes. Ao longo de dez
dias, fez 31 pronunciamentos.
O papa Bento 16 não deixará
o Estado de São Paulo durante
sua estada de cinco dias -além
da capital paulista, irá a Guaratinguetá e a Aparecida. Fará, ao
todo, 12 pronunciamentos,
afirma o Vaticano.
Nesse período, no entanto,
canonizará o primeiro santo
brasileiro -frei Galvão, na missa de sexta-feira, no Campo de
Marte (zona norte de São Paulo)- e fará o discurso de abertura da 5ª Conferência Geral do
Episcopado Latino-Americano
-a partir do próximo domingo,
bispos de toda a região decidirão linhas de evangelização e
ação social e política para a
igreja na América Latina.
Será, de toda forma, a maior
viagem internacional de todas
as seis realizadas por este papa
-em distância percorrida desde Roma (9.477 km; contra os
3.392 km percorridos até a Turquia) e em período no país visitado (cinco dias, três horas e 45
minutos, segundo o Vaticano).
Temas
Do ponto de vista da duração
e dos temas tratados, a passagem do novo papa pelo Brasil
lembrará mais a última visita
de João Paulo 2º, em 1997, que
as duas primeiras.
Em 1980, com o país ainda
sob a ditadura militar, o papa
polonês fez a defesa dos direitos humanos, do papel da igreja
na promoção da justiça social e
deu apoio público a um dos inimigos do regime, d. Hélder Câmara, abraçando-o diante das
câmaras e dizendo: "D. Hélder,
irmão dos pobres, meu irmão".
Em 1991, encorajou a igreja a
manter seus compromissos sociais, mas criticou a "vocação
materialista" da Teologia da
Libertação.
A visita de 1997 foi de só quatro dias, e João Paulo 2º permaneceu apenas no Rio. Nesses
dias, centrou seus discursos na
defesa da família e na condenação ao aborto, ao controle de
natalidade e ao divórcio.
Dez anos depois, esses temas
caros à igreja -a defesa da vida
e os limites que os valores cristãos devem impor aos avanços
da ciência e da razão- estão no
centro do debate público brasileiro e sofrem "ameaças" -do
ponto de vista católico- como
nunca antes.
O ministro da Saúde, José
Gomes Temporão, defendeu a
realização de um plebiscito no
país para decidir sobre a legalização do aborto. Está em discussão no Supremo Tribunal
Federal a possibilidade, sob críticas da igreja, de uso de células-tronco embrionárias para a
pesquisa científica.
A fatia de católicos na população do país, ademais, diminuiu. Em 1996, segundo o Datafolha, eram 74%; hoje são 64%
dos brasileiros.
O Vaticano tem sinalizado
que, nos próximos dias, Bento
16 deve fazer, em seus discursos, a "defesa da vida", ou seja,
condenar o aborto e o uso de
embriões. O papa também tratará da perda de fiéis pelo catolicismo, na maior parte para religiões protestantes pentecostais (eles são 17% hoje).
É esperada, ainda, uma mensagem de incentivo de Bento 16
à ação social da Igreja Católica
no continente. O secretário de
Estado do Vaticano, Tarcisio
Bertone, disse em entrevista à
Folha que o papa virá ao continente "para relançar um grande movimento de solidariedade, de promoção da justiça".
É um sinal de tolerância do
papa com setores mais à "esquerda" da igreja na América
Latina, duramente combatidos
por ele quando ainda era prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé.
Ele, no entanto, não abrirá
mão da crítica de fundo que
sempre fez à Teologia da Libertação -um produto intelectual
latino-americano-, ou seja, do
uso do marxismo para a compreensão não só da sociedade
mas também das estruturas de
poder da igreja.
Para essas "missões", Bento
16 trará consigo "auxiliares" de
peso. Bertone será o responsável pelo encontro "de Estado"
com o ministro das Relações
Exteriores, Celso Amorim.
O cardeal italiano Giovanni
Battista Re, prefeito da Congregação para os Bispos, está diretamente envolvido na organização da conferência de Aparecida. Ao brasileiro d. Cláudio
Hummes, que cuida dos padres
do planeta, caberá, entre outras
funções, medir a temperatura
da visita e sugerir eventuais
mudanças.
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