São Paulo, sábado, 09 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Delúbio diz ter PT em seu DNA, mas desiste de voltar

Sem maioria, ex-tesoureiro foi convencido a recuar para não afetar candidatura Dilma

Aliados de Delúbio, réu no STF, choraram e aplaudiram quando ele disse que não queria causar "embaraço" nem ser "motivo de divisão"

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Acusado de corrupção ativa e formação de quadrilha no esquema do mensalão, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares recuou na última hora de sua tentativa de retornar ao partido, ao perceber que perderia a disputa no Diretório Nacional. Em discurso na reunião realizada ontem, Delúbio anunciou que estava retirando a carta em que pedia a reintegração ao partido do qual foi expulso em 2005. Diversos petistas presentes acompanharam às lágrimas sua fala e irromperam em aplausos ao seu final. Uma fila de cumprimentos se formou para consolar o ex-tesoureiro.
"Não pretendo ser motivo de qualquer divisão interna. [...] Nem devo causar tipo algum de embaraço", disse Delúbio. A tendência era que o diretório aprovasse a retirada de pauta do pedido do ex-tesoureiro, numa articulação que juntou correntes da esquerda partidária -o grupo ligado ao ministro Tarso Genro (Justiça) e assessores palacianos comandados pelo chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, e o chefe de sua assessoria especial, Marco Aurélio Garcia.
Mesmo assim, Delúbio tem apoio interno para voltar. Ele vinha se mostrando firme em insistir na anistia, mas foi bombardeado com pedidos de reconsideração. Ontem, numa reunião fechada com o presidente do PT, Ricardo Berzoini, e membros da Executiva Nacional, Delúbio foi finalmente convencido a jogar a toalha.
Pesou a avaliação de que sua volta nesse momento seria prejudicial à pré-candidatura presidencial de Dilma Rousseff. Delúbio, réu no processo do mensalão que tramita no STF, agora deve articular um plano B para realizar o sonho de ser candidato a deputado federal por Goiás. São possibilidades filiar-se a PMDB, PR, PP e PTB.
O discurso misturou passagens emotivas sobre sua biografia com trechos pronunciados em tom de desafio. Disse, por exemplo, que nada fez sem autorização. "Não fui, senão, em todos os instantes, sem exceção, fiel cumpridor das tarefas que me destinou o PT." Também repetiu que o esquema de caixa dois que comandou ao lado do publicitário Marcos Valério de Souza deveria ser minimizado por ser prática corrente no país. "Quantos são os políticos brasileiros que realizaram campanhas eleitorais sem que alguma soma, por menor que fosse, não tenha sido contabilizada?", questionou.
Disse ainda que o PT está em seu DNA e que é o mesmo de sempre. "O Delúbio de hoje é o Delúbio de 1980 e será o Delúbio de amanhã", afirmou. Ao falar que ajudou a fundar o PT e que contava nos dedos "de uma das mãos os companheiros de então", disse que "muitos poderão dizer que valeu a pena. Mas muito poucos podem dizer como o companheiro expulso que vos fala: começaria tudo outra vez, se preciso fosse". Berzoini, apesar de ser contra o retorno, disse que ele foi "vítima de um processo político sedimentado de financiamento que não se sustenta mais".

Veto
O partido decidiu proibir todas as decisões de candidaturas nos Estados antes da definição nacional da estratégia eleitoral, no ano que vem. Isso significa que o diretório gaúcho terá que desistir de lançar neste ano o nome de Tarso. "Não podemos ter 12 ou 14 candidatos consolidados sem antes discutir a tática nacional", disse Berzoini. A resolução final acabou sem uma menção reiterando o apoio a Dilma, que trata um câncer linfático, como candidata. Segundo Berzoini, não houve mudança no fato de que há uma "convergência natural" para o nome da ministra.


Leia o discurso de Delúbio
www.folha.com.br/091289



Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Silvio Pereira acaba serviço comunitário e está fora de processo penal do mensalão
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.