São Paulo, segunda, 9 de junho de 1997.



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RELAÇÕES PERIGOSAS
Petista rememora acusação de ex-namorada na campanha de 89 e chora em reunião do partido
Lula diz ser alvo de nova Miriam Cordeiro

Paulo de Tarso Venceslau, ex-secretário de administrações do PT CARLOS EDUARDO ALVES
da Reportagem Local


Um longo e emocionado desabafo de Luiz Inácio Lula da Silva marcou a reunião do Diretório Nacional do PT, sábado e ontem em São Paulo.
"Criaram a segunda Miriam Cordeiro na minha vida", disse Lula, chorando, ao comparar denúncia do economista Paulo de Tarso Venceslau com a participação de uma ex-namorada na campanha eleitoral de 89, que o acusou de pedir o aborto de uma gravidez em programa da TV de Fernando Collor.
Lula entregou, na noite de sábado, carta em que comunicava seu afastamento do diretório para não constranger a comissão interna que apura a denúncia de suposto favorecimento de prefeituras petistas à empresa Cpem, que, segundo Venceslau, é ligada a Roberto Teixeira, compadre de Lula.
Lula reclamou, também chorando, da falta de solidariedade no comportamento de petistas. Citou como exemplo carta em que membros da "esquerda" da direção defendiam investigação profunda do caso, sem que, em nenhum momento, houvesse a defesa do líder.
"Isso me feriu muito e eu não perdôo", afirmou. Criticou também a utilização do escândalo na luta interna entre as correntes do PT. "Estou de saco cheio da guerra interna", declarou.
Dizendo-se "magoado" com a repercussão do caso, Lula relatou ao diretório a alteração do seu cotidiano desde que eclodiu a acusação de Venceslau. "Vocês não imaginam o que é ficar com a Marisa procurando talão de cheque até as 3h para provar que eu mesmo paguei o meu apartamento."
O líder petista referia-se à denúncia, depois negada, que apontava o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo como o emissor do cheque que pagou o apartamento de Lula.
"Ninguém pode imaginar o que é saber que seus filhos sofrem na escola com a divulgação dessas coisas", disse. Durante o discurso, vários petistas choraram.
No final, Lula foi aplaudido de pé. O ex-prefeito de Porto Alegre Olívio Dutra solicitou, em nome da cúpula, que Lula desistisse do pedido afastamento. Não foi atendido. Mas a cúpula petista diz que ele está mantido como um dos vice-presidentes do diretório.
Dois caciques da "esquerda" do PT, o prefeito Raul Pont e o deputado Milton Temer (RJ), disseram que compreendem o desabafo, mas que os militantes têm direito de expressarem opiniões políticas.
A depressão de Lula praticamente paralisou o partido. Ontem de manhã, uma caravana de 13 parlamentares foi até a casa de Lula para prestar solidariedade ao anfitrião.



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