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RELAÇÕES PERIGOSAS
Petista rememora acusação de ex-namorada na campanha de 89 e chora em reunião do partido
Lula diz ser alvo de nova Miriam Cordeiro
Paulo de Tarso Venceslau, ex-secretário de administrações do PT
CARLOS EDUARDO ALVES
da Reportagem Local
Um longo e
emocionado desabafo de Luiz
Inácio Lula da
Silva marcou a
reunião do Diretório Nacional
do PT, sábado e
ontem em São Paulo.
"Criaram a segunda Miriam
Cordeiro na minha vida", disse
Lula, chorando, ao comparar denúncia do economista Paulo de
Tarso Venceslau com a participação de uma ex-namorada na campanha eleitoral de 89, que o acusou
de pedir o aborto de uma gravidez
em programa da TV de Fernando
Collor.
Lula entregou, na noite de sábado, carta em que comunicava seu
afastamento do diretório para não
constranger a comissão interna
que apura a denúncia de suposto
favorecimento de prefeituras petistas à empresa Cpem, que, segundo Venceslau, é ligada a Roberto Teixeira, compadre de Lula.
Lula reclamou, também chorando, da falta de solidariedade no
comportamento de petistas. Citou
como exemplo carta em que membros da "esquerda" da direção defendiam investigação profunda do
caso, sem que, em nenhum momento, houvesse a defesa do líder.
"Isso me feriu muito e eu não
perdôo", afirmou. Criticou também a utilização do escândalo na
luta interna entre as correntes do
PT. "Estou de saco cheio da guerra interna", declarou.
Dizendo-se "magoado" com a
repercussão do caso, Lula relatou
ao diretório a alteração do seu cotidiano desde que eclodiu a acusação de Venceslau. "Vocês não
imaginam o que é ficar com a Marisa procurando talão de cheque
até as 3h para provar que eu mesmo paguei o meu apartamento."
O líder petista referia-se à denúncia, depois negada, que apontava o Sindicato dos Metalúrgicos
de São Bernardo do Campo como
o emissor do cheque que pagou o
apartamento de Lula.
"Ninguém pode imaginar o que
é saber que seus filhos sofrem na
escola com a divulgação dessas
coisas", disse. Durante o discurso,
vários petistas choraram.
No final, Lula foi aplaudido de
pé. O ex-prefeito de Porto Alegre
Olívio Dutra solicitou, em nome
da cúpula, que Lula desistisse do
pedido afastamento. Não foi atendido. Mas a cúpula petista diz que
ele está mantido como um dos vice-presidentes do diretório.
Dois caciques da "esquerda" do
PT, o prefeito Raul Pont e o deputado Milton Temer (RJ), disseram
que compreendem o desabafo,
mas que os militantes têm direito
de expressarem opiniões políticas.
A depressão de Lula praticamente paralisou o partido. Ontem de
manhã, uma caravana de 13 parlamentares foi até a casa de Lula para
prestar solidariedade ao anfitrião.
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