São Paulo, segunda-feira, 09 de julho de 2001

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Agentes viram claque em atos de Garotinho

ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO

Jovens do programa social Agentes Comunitários da Paz, do governo do Rio, estão comparecendo a atos políticos e solenidades públicas promovidos pelo governador Anthony Garotinho (PSB), pré-candidato à Presidência da República.
O programa é parte do projeto Jovens Pela Paz, iniciado em agosto passado, que tem o apoio da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e orçamento de R$ 2,5 milhões mensais.
O secretário de Governo, Fernando William, responsável pelo programa, diz que a participação é espontânea e serve para aumentar o grau de consciência política dos jovens, condição que afirma ser necessária para que os agentes desenvolvam suas atividades, que têm o objetivo de diminuir a violência em áreas carentes.
Os 3.100 agentes têm entre 16 e 24 anos e moram em 305 favelas ou conjuntos habitacionais conturbados pelo tráfico. Para dar aulas e fazer apresentações artísticas, recebem R$ 240 mensais, dos quais R$ 90 devem ser gastos em alimentação e transporte.
Na última semana, agentes estiveram presentes em três solenidades promovidas por Garotinho. Em uma delas ele aproveitou para fazer ataques a seus adversários na disputa pela Presidência.
Em junho, os agentes participaram da caminhada contra o apagão e a corrupção, apoiada pelo governador e na qual ele criticou o governo federal.
Para acompanhar os trabalhos dos agentes, Fernando William comanda uma estrutura que conta com um coordenador, cinco supervisores e 41 monitores.
Os outros programas dos Jovens Pela Paz envolvem cerca de 4.600 integrantes da mesma faixa etária, que também recebem remuneração, prestando serviços em quartéis da PM (reservistas) e em órgãos e secretarias estaduais (infratores em liberdade assistida e deficientes físicos).
O governo pretende expandir os programas até chegar a 10 mil participantes, mas o coordenador dos Agentes Comunitários da Paz, Celso Ribeiro, diz que isso pode não ser possível, pois há resistências na véspera de um ano que antecede eleições.
O receio de Ribeiro reflete o temor de Garotinho diante de problemas com a Justiça Eleitoral. O Tribunal Regional Eleitoral já suspendeu, há duas semanas, programas do governador na rádio Tupi e na TV Record.
O tribunal atendeu a pedido do procurador Antonio Carlos Martins Soares, para quem o governador fazia propaganda eleitoral ilícita. Garotinho diz que apenas usava os programas para prestar contas de suas realizações.
No principal cenário da última pesquisa de intenção de voto do Datafolha, Lula (PT) tem 35%; Ciro Gomes (PPS), 15%; Itamar Franco (PMDB), 12%, e Garotinho, 11%. O governador aparece em primeiro lugar na pesquisa que mediu a satisfação quanto ao desempenho dos governadores.

Universitários
Além dos programas sociais para a juventude carente, Garotinho também tem frentes de expansão junto à juventude universitária.
O último congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), realizado no mês passado em Goiânia, contou com cerca de 700 delegados do Rio, a maioria militantes recém-filiados ao PSB.
Cerca de metade da delegação fluminense não pôde votar devido à suspeita de irregularidades levantada pelos organizadores do congresso, que se disseram surpreendidos pelo crescimento do número de socialistas do Rio.
O aumento dos militantes do PSB é diretamente influenciado pela entrada na legenda de Garotinho, que saiu do PDT no final de 2000. Números da direção regional do partido indicam 15 mil novos filiados. Antes da entrada do governador, eram cerca de 5.000.
O deputado federal Alexandre Cardoso, presidente regional do PSB, defende esse crescimento, visto como explosivo pelo senador Saturnino Braga e pelo deputado estadual Jamil Haddad, militantes históricos do partido.
Para Cardoso, a expansão incorpora jovens que estavam fora da política institucional. "Temos uma estratégia para crescer, mostrando que a participação partidária pode mudar a sociedade."
Entre os novos filiados do PSB está Celso Ribeiro, que diz que os Agentes Comunitários da Paz não são induzidos a fazer o mesmo. "Eles sabem que não precisam ser filiados para continuar a receber o benefício do programa."
Um dos supervisores do projeto é Daniel Avelino, 21, filiado ao PSB há seis meses. Ele é responsável pelo trabalho de mil agentes, que atuam em 98 bairros do Rio.
"Discutimos com os jovens e mostramos que toda ação transformadora é política. Não podemos criar um mundo novo se permitirmos que continuem as velhas práticas de corrupção", diz.


Colaborou ANTÔNIO GOIS, da Sucursal do Rio


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