São Paulo, segunda-feira, 09 de julho de 2001

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VIZINHO EM CRISE

Alfonsín pede aumento nos gastos sociais, e Cavallo não anuncia novo pacote de redução de despesas

Aliados adiam novos cortes na Argentina

ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES

Um impasse político impediu ontem o governo argentino de anunciar um novo pacote de cortes de gastos, frustrando a expectativa criada nos mercados financeiros desde a sexta-feira. Antes mesmo de ser anunciados, os cortes já começaram a sofrer ataques, provenientes, sobretudo, de aliados do governo.
A mais dura crítica veio do ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989), que defendeu o aumento de gastos nas áreas sociais. "Em momentos como este [de crise", deve-se aumentar o gasto social. Se dermos mais dinheiro às pessoas, ele irá para o consumo. E isso impulsionará a reativação [econômica"", afirmou Alfonsín, que lidera o partido do presidente Fernando de la Rúa, a União Cívica Radical.
Após uma reunião de quase quatro horas com De la Rúa e outros membros do gabinete, na noite de ontem, o ministro da Economia, Domingo Cavallo, anunciou que "nos próximos dias" deverá encaminhar dois projetos de lei para reformar o Estado e a Anses (o equivalente local ao INSS).
Cavallo, que retornou ontem pela manhã de uma viagem de quatro dias à Europa, disse que haverá cortes de gastos, mas evitou dar números ou detalhes das áreas afetadas. Ele limitou-se a dizer que "não serão afetadas as áreas sociais".
Antes da reunião, havia uma expectativa sobre um possível anúncio de que a Anses e o Pami (assistência médica a aposentados e pensionistas) passassem à órbita de influência de Cavallo, que poderia, assim, vencer a queda-de-braço com os opositores de cortes dentro do governo. O Pami é um dos "feudos" controlados atualmente por Raúl Alfonsín dentro do governo.
Diversos analistas políticos consideram que a influência de Alfonsín sobre De la Rúa é um dos maiores entraves a cortes de gastos mais profundos até agora.
O antecessor de Cavallo no Ministério da Economia, Ricardo López Murphy, renunciou duas semanas após tomar posse, em março, por conta da reação negativa ao anúncio de um pacote de cortes de US$ 4,5 bilhões em dois anos.

Províncias
Cavallo disse que voltará a negociar com os governadores cortes de gastos nas Províncias, altamente endividadas. "Estamos trabalhando, a nação e as Províncias, para reduzir nossas necessidades de créditos e recuperar a confiança dos investidores."
Na semana passada, diversos boatos -que incluíam versões sobre a possível renúncia de Cavallo ou de De la Rúa- aumentaram a desconfiança dos investidores sobre a Argentina e praticamente cortaram o acesso do país a créditos financeiros.
O risco-país, índice que mede a sobretaxa paga pelo país ao tomar empréstimos em relação ao que pagam os Estados Unidos, chegou na sexta-feira a 1.132 pontos (11,32% de sobretaxa), em nível inferior somente ao alcançado no final de abril, quando boatos sobre uma iminente moratória elevaram o índice a 1.284 pontos.
Alfonsín não foi o único a criticar os possíveis cortes. "Se for necessário produzir ajustes conjunturais e momentâneos, não podem atingir os programas sociais", afirmou o deputado Darío Alessandro, líder da Aliança (a coalizão governista) na Câmara dos Deputados.
As críticas também vieram da oposição, que ameaça agora revogar os poderes especiais que foram concedidos ao Executivo em março -a pedido de Cavallo- e que dão ao governo capacidade de atuar como Legislativo em alguns casos, alterando leis.



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