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VIZINHO EM CRISE
Alfonsín pede aumento nos gastos sociais, e Cavallo não anuncia novo pacote de redução de despesas
Aliados adiam novos cortes na Argentina
ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES
Um impasse político impediu
ontem o governo argentino de
anunciar um novo pacote de cortes de gastos, frustrando a expectativa criada nos mercados financeiros desde a sexta-feira. Antes
mesmo de ser anunciados, os cortes já começaram a sofrer ataques,
provenientes, sobretudo, de aliados do governo.
A mais dura crítica veio do ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989), que defendeu o aumento
de gastos nas áreas sociais. "Em
momentos como este [de crise",
deve-se aumentar o gasto social.
Se dermos mais dinheiro às pessoas, ele irá para o consumo. E isso impulsionará a reativação
[econômica"", afirmou Alfonsín,
que lidera o partido do presidente
Fernando de la Rúa, a União Cívica Radical.
Após uma reunião de quase
quatro horas com De la Rúa e outros membros do gabinete, na
noite de ontem, o ministro da
Economia, Domingo Cavallo,
anunciou que "nos próximos
dias" deverá encaminhar dois
projetos de lei para reformar o Estado e a Anses (o equivalente local
ao INSS).
Cavallo, que retornou ontem
pela manhã de uma viagem de
quatro dias à Europa, disse que
haverá cortes de gastos, mas evitou dar números ou detalhes das
áreas afetadas. Ele limitou-se a dizer que "não serão afetadas as
áreas sociais".
Antes da reunião, havia uma expectativa sobre um possível anúncio de que a Anses e o Pami (assistência médica a aposentados e
pensionistas) passassem à órbita
de influência de Cavallo, que poderia, assim, vencer a queda-de-braço com os opositores de cortes
dentro do governo. O Pami é um
dos "feudos" controlados atualmente por Raúl Alfonsín dentro
do governo.
Diversos analistas políticos consideram que a influência de Alfonsín sobre De la Rúa é um dos
maiores entraves a cortes de gastos mais profundos até agora.
O antecessor de Cavallo no Ministério da Economia, Ricardo
López Murphy, renunciou duas
semanas após tomar posse, em
março, por conta da reação negativa ao anúncio de um pacote de
cortes de US$ 4,5 bilhões em dois
anos.
Províncias
Cavallo disse que voltará a negociar com os governadores cortes de gastos nas Províncias, altamente endividadas. "Estamos trabalhando, a nação e as Províncias,
para reduzir nossas necessidades
de créditos e recuperar a confiança dos investidores."
Na semana passada, diversos
boatos -que incluíam versões
sobre a possível renúncia de Cavallo ou de De la Rúa- aumentaram a desconfiança dos investidores sobre a Argentina e praticamente cortaram o acesso do país a
créditos financeiros.
O risco-país, índice que mede a
sobretaxa paga pelo país ao tomar
empréstimos em relação ao que
pagam os Estados Unidos, chegou na sexta-feira a 1.132 pontos
(11,32% de sobretaxa), em nível
inferior somente ao alcançado no
final de abril, quando boatos sobre uma iminente moratória elevaram o índice a 1.284 pontos.
Alfonsín não foi o único a criticar os possíveis cortes. "Se for necessário produzir ajustes conjunturais e momentâneos, não podem atingir os programas sociais", afirmou o deputado Darío
Alessandro, líder da Aliança (a
coalizão governista) na Câmara
dos Deputados.
As críticas também vieram da
oposição, que ameaça agora revogar os poderes especiais que foram concedidos ao Executivo em
março -a pedido de Cavallo- e
que dão ao governo capacidade
de atuar como Legislativo em alguns casos, alterando leis.
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