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ELEIÇÕES 2004/MARKETING
Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que prefeita aparece em cartazes de campanha com menos ruga e olhos mais azuis
Candidatos retocam rosto para atrair eleitor
EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA
O início das campanhas oficiais
às prefeituras, na última terça-feira, trouxe de volta as velhas imagens de candidatos à caça de situações de apelo popular. A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy
(PT), fez uma caminhada pelo
centro da cidade durante a qual
seu retrato oficial de campanha
podia ser visto em faixas, cartazes
e até nas kombis que transportam
os cabos eleitorais.
Para espanto geral a imagem
que começa a ocupar vários espaços na cidade mostra uma Marta
muito mais jovem, sem marcas de
rugas e com os olhos maiores e
mais azuis que o habitual.
O uso de retoques na imagem
de candidatos tem se tornado
uma constante nas últimas campanhas. A intenção, ao que parece, é fazer com que o candidato
transmita com seu semblante algo
que nem sempre é possível observar em seu rosto no dia-a-dia.
Segundo Lázaro Lúcio Júnior,
professor de software para mídia
impressa da Impacta e especialista em tratamento de imagens pelo
programa photoshop, a imagem
da prefeita foi nitidamente retocada com vários tipos de ferramenta
que o software possibilita.
"Certamente essa imagem foi
tratada com filtros que suavizam
e até eliminam imperfeições da
pele, como "clone stamp", "healing
brush", "brightness/contrast", "color balance", filtros "dust & scratches" e "unsharpen mask", por
exemplo. É possível fazer uma
verdadeira limpeza de pele alternando esses filtros. O branco dos
olhos, para dar mais vivacidade, e
a uniformidade da tonalidade dos
dentes também foram trabalhados. Fica claro o uso do filtro "liquify", ótima ferramenta para
abrir mais os olhos, diminuir o
nariz, alterar o queixo etc. O tom
amarelado que geralmente aparece nas imagens dos candidatos reforça a idéia de saúde", diz.
Produto
O fotógrafo Bob Wolfenson,
que já teve entre seus clientes vários políticos, prefere fotografar
homens sem maquiagem e utiliza
recursos de iluminação para amenizar ou acentuar algumas partes
do rosto. "Numa campanha do
José Serra para o Senado utilizei
uma chapa de alumínio que serviu de rebatedor para suavizar as
olheiras do candidato", diz. "Para
essas fotos geralmente utilizo
uma luz chamada de cosmética,
que é bem suave, sem relevo. Muitas vezes vejo a imagem finalizada
pela agência de publicidade do
candidato e me espanto ao ver no
que ela se transformou. Mas não
ligo, é como uma foto de produto,
não é um retrato que leva a minha
assinatura. Mais que a jovialidade, é a beleza que denota mais credibilidade. O Collor se elegeu por
conta do cuidado que havia com a
imagem dele", conclui.
Para a publicitária Maria Lúcia
Cucci, vice-presidente de mídia
da Publicis Salles Norton, que
atuou nas campanhas de Tancredo Neves e Ermínio de Moraes, a
função desses retratos retocados é
"encantar o eleitorado".
"Como a maior parte das pessoas nunca vai ter contato direto
com os candidatos, essa é a imagem que ficará na lembrança. É
preciso que o candidato transmita
afabilidade, além de um aspecto
bonito e saudável. Por isso, os
óculos do Maluf foram mudados,
e a Erundina aparece bem penteada, de batom e com um sorriso
bem estudado. Hoje, os candidatos são vendidos como produtos.
No fundo é tudo falso mesmo, é
como foto de comida que fica linda, mas não serve para o consumo. Também é uma forma de rebater as imagens que a imprensa
publica dos candidatos em situações constrangedoras."
"Mas essa imagem da Marta é
um deboche. Ficou um exagero o
rejuvenescimento. Na frente do
meu escritório, há uma foto dela.
No primeiro dia, estava com os
olhos muito azuis e o olhar meio
perdido. Depois, trocaram a foto
por uma com o azul dos olhos
mais escuros e olhar mais firme. O
artifício pode sair pela culatra.
Muito eleitor pode se sentir ludibriado por uma imagem falsa",
afirmou Cucci.
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