São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2004

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ELEIÇÕES 2004/MARKETING

Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que prefeita aparece em cartazes de campanha com menos ruga e olhos mais azuis

Candidatos retocam rosto para atrair eleitor

EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA

O início das campanhas oficiais às prefeituras, na última terça-feira, trouxe de volta as velhas imagens de candidatos à caça de situações de apelo popular. A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), fez uma caminhada pelo centro da cidade durante a qual seu retrato oficial de campanha podia ser visto em faixas, cartazes e até nas kombis que transportam os cabos eleitorais.
Para espanto geral a imagem que começa a ocupar vários espaços na cidade mostra uma Marta muito mais jovem, sem marcas de rugas e com os olhos maiores e mais azuis que o habitual.
O uso de retoques na imagem de candidatos tem se tornado uma constante nas últimas campanhas. A intenção, ao que parece, é fazer com que o candidato transmita com seu semblante algo que nem sempre é possível observar em seu rosto no dia-a-dia.
Segundo Lázaro Lúcio Júnior, professor de software para mídia impressa da Impacta e especialista em tratamento de imagens pelo programa photoshop, a imagem da prefeita foi nitidamente retocada com vários tipos de ferramenta que o software possibilita.
"Certamente essa imagem foi tratada com filtros que suavizam e até eliminam imperfeições da pele, como "clone stamp", "healing brush", "brightness/contrast", "color balance", filtros "dust & scratches" e "unsharpen mask", por exemplo. É possível fazer uma verdadeira limpeza de pele alternando esses filtros. O branco dos olhos, para dar mais vivacidade, e a uniformidade da tonalidade dos dentes também foram trabalhados. Fica claro o uso do filtro "liquify", ótima ferramenta para abrir mais os olhos, diminuir o nariz, alterar o queixo etc. O tom amarelado que geralmente aparece nas imagens dos candidatos reforça a idéia de saúde", diz.

Produto
O fotógrafo Bob Wolfenson, que já teve entre seus clientes vários políticos, prefere fotografar homens sem maquiagem e utiliza recursos de iluminação para amenizar ou acentuar algumas partes do rosto. "Numa campanha do José Serra para o Senado utilizei uma chapa de alumínio que serviu de rebatedor para suavizar as olheiras do candidato", diz. "Para essas fotos geralmente utilizo uma luz chamada de cosmética, que é bem suave, sem relevo. Muitas vezes vejo a imagem finalizada pela agência de publicidade do candidato e me espanto ao ver no que ela se transformou. Mas não ligo, é como uma foto de produto, não é um retrato que leva a minha assinatura. Mais que a jovialidade, é a beleza que denota mais credibilidade. O Collor se elegeu por conta do cuidado que havia com a imagem dele", conclui.
Para a publicitária Maria Lúcia Cucci, vice-presidente de mídia da Publicis Salles Norton, que atuou nas campanhas de Tancredo Neves e Ermínio de Moraes, a função desses retratos retocados é "encantar o eleitorado".
"Como a maior parte das pessoas nunca vai ter contato direto com os candidatos, essa é a imagem que ficará na lembrança. É preciso que o candidato transmita afabilidade, além de um aspecto bonito e saudável. Por isso, os óculos do Maluf foram mudados, e a Erundina aparece bem penteada, de batom e com um sorriso bem estudado. Hoje, os candidatos são vendidos como produtos. No fundo é tudo falso mesmo, é como foto de comida que fica linda, mas não serve para o consumo. Também é uma forma de rebater as imagens que a imprensa publica dos candidatos em situações constrangedoras."
"Mas essa imagem da Marta é um deboche. Ficou um exagero o rejuvenescimento. Na frente do meu escritório, há uma foto dela. No primeiro dia, estava com os olhos muito azuis e o olhar meio perdido. Depois, trocaram a foto por uma com o azul dos olhos mais escuros e olhar mais firme. O artifício pode sair pela culatra. Muito eleitor pode se sentir ludibriado por uma imagem falsa", afirmou Cucci.



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