São Paulo, sábado, 09 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ MALA SUSPEITA

Segundo Thomaz Bastos, que se reuniu às pressas com o presidente, este pediu investigação do caso com rigor por a detenção se tratar de um fato "sério"

Prisão de petista parece pesadelo, diz Lula

ANA FLOR
KENNEDY ALENCAR

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que as imagens do dinheiro apreendido com o petista José Adalberto Vieira da Silva, preso no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, "pareciam um pesadelo", segundo relatos de seus auxiliares.
Lula se reuniu ontem à noite com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para se informar sobre a prisão.
À tarde, impaciente e sisudo durante a cerimônia oficial em que Lula deu posse a três novos ministros, Thomaz Bastos disse a jornalistas que tinha "uma emergência" a resolver. Buscava ainda detalhes da prisão efetuada pela Polícia Federal.
Ao ver imagens no noticiário, membros da cúpula do governo disseram que o episódio era grave e que poderia fortalecer o movimento para que José Genoino deixe a presidência do PT.
O petista preso é assessor do deputado estadual e líder do partido na Assembléia do Ceará, José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão de Genoino.
Além de falar que as imagens do dinheiro "pareciam um pesadelo", o presidente Lula fez a relação com o caso que acabou envolvendo a hoje senadora Roseana Sarney (PFL-MA).
No começo de 2002, a Polícia Federal fez uma batida na empresa do marido de Roseana, Jorge Murad, e apreendeu R$ 1,34 milhão em notas de R$ 50. O montante, segundo Murad e Roseana, era oriundo de doação feita para campanha eleitoral.
O dinheiro acabou sendo devolvido à dupla, mas o estrago político havia sido feito: a operação abortou a pré-candidatura presidencial de Roseana.

Ministro
Em rápida entrevista ontem à noite, depois da reunião com o presidente, Thomaz Bastos afirmou que Lula determinou uma "completa investigação" sobre a prisão pela PF de José Adalberto Vieira da Silva.
Bastos foi chamado ao Palácio do Planalto na noite de ontem para discutir a prisão com o presidente. "Reiteramos a determinação de que todos os fatos têm de ser apurados até o fim", disse. E completou: "Não perseguimos amigos, não protegemos amigos, não perseguimos inimigos".
Segundo o ministro, Lula reagiu ao relato da prisão com um pedido de rigor nas investigações, por se tratar de um fato "sério, que precisa ser investigado".
Bastos afirmou que a atual crise é uma oportunidade de se mudar o "paradigma" e se fazer uma "política de segurança de Estado, não de governo": "Ao invés de simplesmente caçar pessoas, fazer uma prova firme, substanciosa, uma apuração efetiva das coisas, que não se limite ao julgamento político".
Vieira da Silva foi preso pela Polícia Federal no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Ele carregava uma mala na qual havia R$ 200 mil em espécie e, sob a roupa, mais US$ 100 mil.
Questionado sobre a coincidência da prisão neste momento de uma pessoa relacionada ao PT -já que o preso Vieira da Silva é assessor do irmão de Genoino-, o ministro Thomaz Bastos descartou conjeturas.
"É uma hipótese difícil de se afirmar ou negar num primeiro momento. A pessoa estava com dólares e reais, tentando embarcar. Não foi no curso de uma investigação ou de um inquérito, foi flagrante delito", concluiu.


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