São Paulo, sábado, 09 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PT adia decisão a respeito de Genoino

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A detenção de José Adalberto Vieira da Silva, assessor do deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão de José Genoino, pôs por terra os esforços do Campo Majoritário do PT, que se reuniu ontem tentando definir a permanência ou não de Genoino na presidência do partido.
Assim que soube desse caso, Genoino saiu da sala. Até então, o Campo Majoritário estava resoluto a viabilizar a permanência dele. A partir disso, todas as intervenções, segundo o deputado José Geraldo (PA) foram no sentido de que essa prisão traz nova informação, que precisa ser analisada.
Na reunião, houve uma leitura de que o fato pode ser uma armação, segundo Geraldo. "A minha interpretação é que [a detenção é um fato] planejado, que cumpre um papel." Esse papel seria o de enfraquecer Genoino.
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que tinha saído à tarde após defender a permanência de Genoino, voltou para a reunião às 20h30. O tesoureiro afastado do partido, Delúbio Soares, que não havia participado das discussões à tarde, chegou às 21h ao hotel onde ocorria a reunião.
No fim da reunião, foi montada uma comissão encarregada de discutir com as demais correntes do partido a mudança na Executiva. A comissão inclui o secretário nacional de Direitos Humanos Nilmário Miranda, o assessor especial da Presidência da República para Asssuntos Internacionais Marco Aurélio Garcia, o prefeito de Guarulhos (SP), Elói Pietá Genoino e Dirceu.
Desses, Elói Pietá já havia se manifestado favorável a saída de Genoino. Marco Aurélio falou para Genoino refletir a respeito.
Segundo o deputado João Paulo Cunha (SP), a negociação começa pela substituição de Delúbio e Silvio Pereira, mas pode ser ampliada. O deputado Odair Cunha (MG) diz que o Campo Majoritário está rachado e depende das demais correntes para tomar uma decisão.
Maria do Rosário, candidata do Movimento PT à presidência nas eleições marcadas para setembro, diz que o momento é gravíssimo "É necessária uma ação global do PT para tirar o partido dessa situação grave. Não há condição do companheiro Genoino permanecer na presidência do partido. Ele está esgotado como alternativa."

Antes da bomba
Antes do estouro da bomba que foi a detenção do assessor do irmão de Genoino, o Campo Majoritário havia decidido oferecer cargos da Executiva Nacional ao moderado Movimento PT e às correntes de esquerda para assegurar a permanência de José Genoino na presidência do partido. A proposta incluía a Secretaria-Geral, a tesouraria (vagas com o afastamento, na semana passada, de Silvio Pereira e Delúbio Soares) e a Secretaria de Comunicação, ocupada por Marcelo Sereno.
Os aliados do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) atuaram para que Genoino ficasse no comando do partido. De tão veemente, Dirceu chegou a ser ameaçador: "Se algum de vocês desconfia de nós, tem que ser franco e dizer na nossa cara", disse o deputado federal, indignado com a "guerra política" travada na CPI dos Correios.
Dirceu disse ainda que "aquele que defender a saída de Genoino terá de apresentar uma alternativa para seu lugar". Ele chamou de violência a quebra de sigilo dos petistas feita pela CPI e afirmou ainda que não há razão para permitir a saída de Genoino.
Numa reunião que consumiu todo o dia, Genoino disse que estava à disposição do Diretório Nacional. "Estou preparado tanto para sair quanto para ficar", disse, ressalvando que preferiria ficar.
Apesar da articulação em torno da manutenção de Genoino no cargo, havia, ainda na noite de ontem, dissidência dentro do próprio Campo Majoritário. De acordo com o presidente do PT do Rio, Gilberto Palmares, três hipóteses estavam sendo aventadas: a reestruturação total do comando do partido; a substituição pontual de Delúbio Soares e Silvio Pereira e o adiamento das eleições internas do partido.
Embora defendido por Dirceu, o Campo dava como certa a saída de Marcelo Sereno da Secretaria de Comunicação.
Na reunião, Genoino fez um mea culpa, reconhecendo que deveria ter prestado mais atenção nos empréstimos obtidos pelo PT.
O ex-ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini afirmou que "a direção precisa se recompor e cabe ao presidente Genoino decidir se tem condições do ponto de vista político, pessoal e psicológico de ficar".
Marco Aurélio Garcia, se disse surpreso com a aparição do novo empréstimo. Sobre Genoino, disse: "Meu coração está com ele, minha cabeça tem dúvida".


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Sai ou fica?
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.