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TRANSIÇÃO
Vaga em diretoria do BC espera representante do vencedor em outubro
Armínio abre o governo para sucessor "agir rápido"
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Fazenda, Pedro
Malan, convidou o futuro presidente, seja quem for, a destacar
uma equipe depois das eleições
para integrar o atual governo durante novembro e dezembro e assim garantir uma "transição tranquila, com serenidade e confiança". O convite foi feito em entrevista coletiva.
Em telefonema à Folha, o presidente do Banco Central, Armínio
Fraga, explicou: "Todo governo
começa com uma lua-de-mel
com o Congresso e com os agentes econômicos, os financeiros e a
sociedade. Queremos ajudar o futuro presidente a não perder tempo, a agir rápido".
"Ele não precisa esperar até janeiro [data da posse" para adquirir um pouco de "know-how", descobrir onde estão as cascas de banana, saber onde estão as coisas,
abrir as gavetas, mexer na papelada, saber quem é quem", acrescentou o presidente do BC.
Objetivamente, Armínio reafirmou que uma das nove diretorias
do BC está vaga justamente
aguardando um representante do
novo governo a partir das eleições
de outubro.
"As duas equipes vão poder ficar juntas um tempinho", disse.
O presidente do BC conversou
mais de uma vez com o candidato
do PPS à Presidência, Ciro Gomes, durante as negociações com
o FMI (Fundo Monetário Internacional). Na quarta-feira, dia do
anúncio do acordo, ele voltou a
telefonar ao candidato, enquanto
FHC e Malan conversavam com
as demais campanhas, e relatou
parte da conversa à Folha.
Avisou que faltavam apenas alguns detalhes e o acordo estava
prestes a sair. Um acordo, descreveu, "bom para o país, sem criar
ônus", e também "limpinho, sequinho, sem penduricalhos, flexível". Pediu, então, "confiança".
Indagado sobre a resposta de
Ciro Gomes, Armínio riu e falou
em tese: "O Brasil está dando uma
demonstração de maturidade política para o mundo. Isso é importantíssimo".
Ele não disse, mas o presidente
do BC também ligou ontem de
manhã para avisar ao deputado
federal Aloizio Mercadante (PT-SP) que participaria em seguida
de uma entrevista coletiva sobre o
acordo. Conforme a Folha apurou, Armínio disse ao petista para
ficar tranquilo: "Não há nenhuma
pegadinha [no acordo]", brincou.
"Minimalista"
Na coletiva da manhã, no Ministério da Fazenda, Malan, Armínio e o ministro do Planejamento, Guilherme Dias, insistiram no tom político e na necessidade de os candidatos à Presidência "expressarem formalmente o
compromisso com o acordo", como disse Malan.
Indagado se o cronograma de liberações dos US$ 24 bilhões de
2003 (já no próximo governo,
portanto) dependia de um compromisso formal já do novo presidente, respondeu que em nenhum minuto se pensou em pedir
uma carta assinada dos candidatos, mas sim a ratificação de manifestações públicas que eles já
vêm dando.
Malan leu trechos da "Carta ao
Povo Brasileiro", na qual o PT se
compromete inclusive com um
superávit primário alto, e citou
Mercadante e o também petista
Guido Mantega. Depois, com a
Folha, Armínio brincou: "O Malan anda com uma pasta com uns
30 a 40 recortes de jornais com o
compromisso dos candidatos
com a estabilidade".
"E do Garotinho [Anthony Garotinho, candidato do PSB]?, perguntou-lhe a Folha. Armínio respondeu: "Bem. Eu tentei falar
com ele [Garotinho], e ele respondeu que não queria falar comigo.
Então, encerrei o assunto".
O acordo com o FMI é "minimalista", classificou Armínio pela
manhã. Disse que o acordo se
concentra nas questões principais, "mas não significa nenhuma
restrição aos rumos que o futuro
presidente queira dar ao país".
Malan acrescentou: "Rejeitamos
categoricamente a interpretação
de que o acordo engessa o próximo governo".
Uma ponte
Na conversa com a Folha, Armínio explicou por que a coletiva
havia sido centrada na parte política: "Daqui em diante o foco vai
aumentar em cima dos candidatos. Nós demos munição e uma
ponte fortíssima para consolidar
o eventual governo de cada um".
"Sucesso garantido?", perguntou-lhe a Folha.
Resposta: "Bem. Pode não ser
uma garantia suficiente para a felicidade econômica-financeira,
mas com certeza já é um caminho, uma ponte. Há um grau de
conscientização muito forte de
que as medidas são boas para o
país, sem ônus".
Depois, enviou uma espécie de
recado indireto para os candidatos: "Lidar com crise após crise
não tem graça nenhuma".
Sempre considerado bem-humorado, quase uma esfinge, Armínio atravessou os piores momentos do pico do dólar praticamente sem alterar a expressão,
sem mexer um músculo do rosto
nas suas aparições públicas.
Ontem, porém, respondeu rispidamente a uma pergunta na coletiva sobre a queda dos juros como efeito do acordo.
"Você está perdendo tempo",
disse ao jornalista. À tarde, se disse "mortificado": "Eu nunca poderia ter feito isso".
Passada a negociação com o
FMI, Armínio acha que ainda há
muito o que fazer até dezembro.
Segundo ele, não dá para parar a
partir de agora: "Seria um tiro no
pé". Ontem mesmo, disse que
"trabalhou sem parar": "Falei
com bancos e agências de rating
da Europa, fiquei horas com a imprensa, conferi o dólar".
Agora, aliás, é hora de continuar
de olho no dólar porque, como
ensinou, "falta de liquidez e medo
[do mercado] não param do dia
para a noite". Além disso, "se o
câmbio for bem, o resto também
vai bem".
Para encerrar, o presidente do
BC disse que, se for chamado pelo
governo eleito em outubro para
colaborar com a transição, não se
negará: "Não serei tímido. Darei
minha contribuição".
Colaborou WLADIMIR GRAMACHO, da
Sucursal de Brasília
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