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Novo presidente
terá maior aperto
em seu mandato
MARTA SALOMON
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O sucessor do presidente Fernando Henrique Cardoso não terá alternativa pelo acordo fechado
com o FMI: três dos seus quatro
anos de mandato serão de muito
aperto nos gastos públicos e/ou
bastante aumento na arrecadação
de impostos.
O percentual de 3,75% do PIB
definido como piso para a economia de gastos públicos -o chamado superávit primário, diferença entre receitas e despesas antes do pagamento dos juros- representa uma montanha de dinheiro. Durante o segundo mandato de FHC, para cumprir as metas acertadas com o FMI, o setor
público economizou R$ 141,8 bilhões até junho, segundo dados
do Banco Central.
O que União, Estados, municípios e empresas estatais mantiveram em caixa para pagamento de
juros é mais do que o governo
FHC aplicou em investimentos
em seus dois mandatos. Chega
perto ao que foi gasto nesse período em saúde e educação. Equivale
a mais de sete anos de arrecadação da CPMF com alíquota de
0,38%, a maior da história do imposto do cheque.
Ontem, o ministro Pedro Malan
(Fazenda) preferiu não comentar
o tamanho do esforço de economia de gastos acertado com o FMI
para o mandato do sucessor.
O esforço é maior do que o que
foi feito em consequência dos
dois acordos anteriores com o
Fundo com o objetivo de conter
uma explosão da dívida pública,
em 1998 e 2001.
O colega Guilherme Dias (Planejamento) pediu que o superávit
primário fosse desmistificado:
""Pagar dívida é um bom indicador", insistiu na entrevista que explicou o acordo com o Fundo.
Na teoria, não há outro caminho para mostrar aos investidores
estrangeiros que o Brasil pretende
honrar seus compromissos e pagar sua dívida.
Na prática, a história dos superávits fiscais no governo Fernando Henrique mostra que a receita
está longe de ser indolor. A crise
energética, que quase levou o país
ao apagão, freou o crescimento da
economia e fez despencar a popularidade do presidente, foi um dos
produtos dessa política.
A Eletrobrás, estatal de energia
elétrica, foi obrigada a produzir
uma economia de R$ 800 milhões
em 2000 e 2001.
Sem investimentos, o governo
contou com os reservatórios de
água das usinas hidrelétricas além
do limite de segurança. A crise só
foi resolvida com redução do consumo e aumento do preço da
energia para o consumidor.
Área social
Os cortes de gastos não pouparam investimentos em obras listadas como prioridade de FHC nem
a área social.
A contenção de gastos da saúde
já foi motivo de estresse entre o
então ministro José Serra e Malan.
Os dois trocaram notas e farpas
em 2001 por conta do bloqueio de
uma verba de R$ 870 milhões.
"Não quero polêmica, só queremos o dinheiro", disse o presidenciável tucano na época.
Boa parte das despesas previstas
no Orçamento da União não saiu
do papel. Em 99, a pressão para
conter gastos levou à suspensão
por quatro meses da distribuição
de cestas de alimentos a 8,6 milhões de pessoas que vivem em
bolsões de pobreza no país.
No ano seguinte, em plena crise
na segurança pública, o Tesouro
Nacional bloqueou R$ 215 milhões do Fundo Penitenciário Nacional destinados a abertura de
vagas em presídios. No caixa do
governo federal, o dinheiro ajudou a melhorar o desempenho
das contas públicas.
Na semana passada, também
em nome da economia de gastos,
o Exército dispensou 44 mil recrutas antes do tempo. Na despedida, houve choro.
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