São Paulo, sexta-feira, 09 de agosto de 2002

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PSDB e PT vêem vantagem eleitoral no acordo com FMI

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As cúpulas do PSDB e do PT, que demonstraram afinação inédita nas negociações de bastidor para viabilizar o novo acordo de US$ 30 bilhões com o FMI, têm uma avaliação em comum: são as duas forças políticas que mais saem ganhando eleitoral e politicamente com o acerto.
Na visão de tucanos e petistas, Ciro Gomes (PPS) ganha menos, porque um desastre econômico agora afundaria de vez as chances de José Serra (PSDB) chegar ao segundo turno da eleição e alimentaria o argumento de que é arriscado eleger presidente que não tem experiência administrativa -um carimbo negativo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Para Lula, o acordo é visto como a viabilização do seu primeiro ano de governo. Para Serra, será explorado como exemplo de que a segurança econômica é um dos grandes trunfos dos tucanos na condução do país.
A repercussão do acordo com o Fundo Monetário Internacional na candidatura Anthony Garotinho (PSB) é minimizada pelo PSDB e PT. Garotinho foi contra. Agora, segundo a assessoria, tende a apoiar com crítica. O fato é que tucanos e petistas acham que Garotinho está fora do jogo.
Na visão de Serra, desconstruir Ciro é a solução para chegar ao segundo turno, já que Lula parece ter garantida uma das duas vagas. Para Lula, importa impedir que o candidato do PPS chegue forte demais à segunda fase da eleição. Hoje, Serra é o terceiro nas pesquisas. O tucano está distante de Lula e Ciro, respectivamente, os dois primeiros colocados.
O presidente Fernando Henrique Cardoso comemorou muito o acordo por avaliar que está afastado o risco de uma crise econômica de proporções gigantescas explodir durante o seu mandato, o que mancharia sua biografia. FHC também crê que amarrou os passos do futuro presidente aos fundamentos da atual política econômica, que seria a única possível no atual grau de dependência econômica entre os países.
Apesar do tom crítico de apoio, o PT contabiliza dois pontos que reforçam a tese de que Lula sai ganhando com o acerto:
1) Os US$ 24 bilhões à disposição do próximo presidente podem diminuir temores de que haverá crise no primeiro ano de um eventual governo petista. Na cúpula do PT, avalia-se que haverá gradualismo nos primeiros dois anos de um governo do PT até que este diminua a vulnerabilidade externa herdada de FHC e aplique políticas distintas das atuais.
2) Os contatos com o presidente, conduzidos principalmente pelo presidente do PT, José Dirceu, e o apoio ao acordo demonstram à opinião pública e aos setores econômicos que o partido teria atingido maturidade e confiabilidade para chegar ao Planalto.
Apesar de Dirceu negar, FHC entrou em contato com ele em um dos dias em que a cotação do dólar explodiu, atingindo mais de R$ 3,50. No contato, o PT deixou claro que só avalizaria o acordo se fosse mantida a meta de superávit primário anual de 3,75% sem aumento de juros. A pressão petista ajudou o governo a negociar.



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