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ELEIÇÕES 2004/MÁQUINA PÚBLICA
Estudo cruza dados eleitorais com despesas de municípios e mostra estímulo à irresponsabilidade fiscal; 2.793 querem ficar no cargo
Gasto maior dá a prefeito chance de reeleição
PLÍNIO FRAGA
DA SUCURSAL DO RIO
Prefeito que gasta mais aumenta
sua chance de reeleição. Dos que
tentaram o segundo mandato,
perto de 60% foram vitoriosos.
Nos grandes centros, 47,1% dos
prefeitos candidatos conseguiram
ser reeleitos já no primeiro turno.
As eleições municipais, como as
que o país viverá em outubro, são
as mais influenciadas pelo peso da
máquina de quem está no poder.
Um estudo preparado pelos
economistas Marcos Mendes e
Alexandre Rocha, para a Consultoria Legislativa do Senado, mostra que as chances de reeleição de
um candidato a prefeito estão associadas à expansão dos gastos.
Em média, um prefeito que tenha reduzido em 10% a despesa
corrente ao longo de quatro anos
de mandato teve uma probabilidade de reeleição de 28%. Um
prefeito que tenha aumentado a
despesa em 50% teve a probabilidade ampliada para 43%.
Os dados foram obtidos a partir
de um estudo econométrico, um
processo que usa modelos matemáticos para tentar encontrar parâmetros de comportamento com
uso de dados estatísticos.
No caso, os economistas cruzaram os resultados da eleição de
96% de 5.561 municípios com os
gastos em despesas correntes dessas cidades.
Um prefeito que tenha reduzido
em 33% suas despesas correntes
tem a probabilidade de reeleição
de apenas 20%. Um que tenha aumentado os gastos em 67% atinge
60% de chances de ser reeleito.
Responsabilidade fiscal
Na avaliação do estudo, a forma
como os municípios são financiados -a maior parte dos recursos
vem de transferências dos governos estaduais e federal, sendo a
receita obtida a partir de tributos
menos importante- não estimula a responsabilidade fiscal.
"Os eleitores não conseguem fazer associação clara entre os tributos que pagam e as despesas do
governo municipal (ilusão fiscal)
ou não têm poder de barganha
para forçar o governante a administrar com prudência o Orçamento", diz Mendes, também
pesquisador do Instituto Fernand
Braudel de Economia Mundial.
"Como a tributação é feita principalmente pelos governos federal e estadual, com posterior
transferência aos municípios, o
comportamento racional dos eleitores e de seus representantes é no
sentido de obter o máximo possível de recursos federais e estaduais para expandir o gasto local à
custa do restante do país ou do
Estado", analisa.
Levantamento da Confederação
Nacional de Municípios diz que
2.793 prefeitos tentarão a reeleição neste ano, o que representa
49,69% do total de cidades.
A julgar pela série histórica,
30% do total de prefeitos pode obter o segundo mandato. Em 2000,
dos 5.505 municípios onde poderia haver reeleição, 2.169 (39,4%)
prefeitos ficaram no cargo.
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