|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O MUNDO
Nações ricas abrigam 100 milhões de pessoas com rendimentos abaixo do nível de pobreza, diz relatório da ONU
EUA têm mais pobres entre os países ricos
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
Os Estados Unidos, o país mais
rico do mundo, são também o país
desenvolvido com maior porcentagem de pobres: 16,5% de sua população vive na pobreza, de acordo com o IPH (Índice da Pobreza
Humana).
Trata-se de um indicador coletado pela primeira vez pelas Nações
Unidas, como parte de seu caudaloso Relatório do Desenvolvimento Humano.
O IPH leva em conta não apenas
a tradicional avaliação da renda
das pessoas, mas também a porcentagem da população que tem
expectativa de vida inferior a 60
anos, a porcentagem de analfabetos funcionais (alfabetizados que
não conseguem nem sequer
acompanhar uma leitura básica),
os que estão desempregados há 12
meses ou mais e os que ganham
menos da metade dos rendimentos pessoais médios.
É com base nesse critério que os
Estados Unidos aparecem com o
maior número relativo de pobres
entre os países considerados ricos,
seguidos da Irlanda e do Reino
Unido.
Desempregados
Nos Estados Unidos, 20% da população é composta por analfabetos funcionais e 13% não passarão
dos 60 anos de vida, um padrão
inferior ao da Nicarágua, por
exemplo.
Mas não são apenas os EUA que
comportam uma grande pobreza
em meio à abundância.
O relatório do PNUD (Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento) afirma que as nações
mais ricas do mundo abrigam 100
milhões de pessoas com rendimentos abaixo do nível de pobreza, mais de 37 milhões de desempregados, 100 milhões de sem-teto
e 200 milhões com expectativa de
vida inferior aos 60 anos.
"Os números são assustadoramente altos no seio da abundância", lamenta James Gustave
Speth, administrador do PNUD.
Suécia
A Suécia é, entre os países ricos,
o mais bem colocado no Índice de
Pobreza Humana, com apenas 7%
de sua população considerada pobre, pelos critérios do relatório.
No item educação, o relatório
faz constatações, sobre os países
ricos, que se equivalem às comumente feitas para países como o
Brasil.
"Não obstante o fato de os países industrializados terem atingido a escolarização total, a qualidade da educação ministrada fica
aquém das expectativas dos empresários", afirma o texto.
De fato, 18% dos adultos de 12
países ricos da Europa e da América do Norte revelaram tão baixos
níveis de competência que "nem
sequer conseguem corresponder
às exigências básicas de leitura em
uma sociedade moderna".
Tudo somado, o PNUD recomenda a adoção de "políticas que
visem assegurar maior equidade
no acesso à educação, aos serviços
de saúde e a um rendimento mínimo indispensável para evitar a exclusão".
O pobre paga
Se existe esse fosso dramático
entre ricos e pobres, nos países desenvolvidos, a brecha é imensamente maior entre os países ricos
e os em desenvolvimento, afirma
o relatório.
Um dado é impressionante: dos
US$ 24 trilhões que compõem o
consumo mundial de bens e serviços, 86% é feito por apenas 20% da
população mundial, majoritariamente concentrada nos países desenvolvidos.
Qualquer que seja o bem escolhido para comparações, os dados
são igualmente alarmantes.
Exemplos:
1 - Os 20% mais ricos do mundo
consomem 45% da carne e do peixe, deixando apenas 5% para os
20% mais pobres.
2 - Os 20% mais ricos açambarcam 74% das linhas telefônicas
existentes no planeta, enquanto os
20% mais pobres ficam com apenas 1,5%.
3 - Dos veículos existentes no
mundo, 87% são de propriedade
dos 20% mais ricos. A faixa mais
pobre tem menos de 1%.
Meio ambiente
O padrão de consumo dos países
ricos gera outro fenômeno perverso, assim descrito pelo relatório
do PNUD:
"Uma criança que nasça hoje
em Nova York, Paris ou Londres
vai consumir, gastar e poluir mais
durante a sua vida do que 50
crianças de um país em desenvolvimento. Mas os que consomem
menos são os que suportarão o
grosso dos danos ambientais".
Consequência, sempre segundo
o relatório do PNUD: "Um quinto da população mundial, que vive
em países de renda mais elevada,
contribui com 53% das emissões
de dióxido de carbono, que conduzem ao aumento do aquecimento da atmosfera. O quinto
mais pobre contribui só com 3%,
mas vive nas comunidades mais
vulneráveis às inundações costeiras" (um dos efeitos do aquecimento global).
Canadá, o 1º
O Canadá, pelo quinto ano consecutivo, ficou em primeiro lugar
no Índice de Desenvolvimento
Humano, seguido por França e
Noruega (o Brasil é o 62º).
Na outra ponta, existem cem
países em desenvolvimento (ou
em transição do comunismo para
o capitalismo) em que graves crises econômicas levaram a renda
per capita a cair a níveis inferiores
a 10, 20 ou até 30 anos atrás.
No total, segundo o relatório, 1,3
bilhão de pessoas vivem com menos de US$ 1 por dia.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|