São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

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AMAPÁ

Dinheiro para compra de votos foi apreendido

Sessão espírita "escondia" crime eleitoral

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma complicada operação de busca e apreensão foi realizada em Macapá (AP), entre a noite de sábado e o domingo da eleição, a partir da denúncia de que R$ 1 milhão em espécie fora remetido de outro Estado para a compra de votos, operação feita sob a "proteção" de uma sessão espírita.
"Com mandado de busca, dois juízes eleitorais foram barrados pelos moradores, alegando que estava sendo realizado um culto religioso", diz o procurador da República Manoel Pastana, 40.
A casa foi cercada, para ser invadida pela manhã, mas, à noite, como forma de pressão, as sirenes foram ligadas. Surgiram dois advogados, que, a título de representar os proprietários, negociaram com o procurador a entrada dos oficiais e da polícia, desde que eles não fossem ao segundo andar, onde se realizava o culto.
"Desconfiei que estivessem queimando dinheiro no meio da cerimônia, pois as velas não eram suficientes para fazer tanta fumaça", diz Pastana.
O procurador conhece os advogados, que representam grupos políticos de Macapá. Mas Pastana evita informar a qual partido estão ligados, alegando que ainda não formalizou a acusação.
De madrugada, dois participantes tentaram sair da casa, dizendo que "iriam comprar cachaça para uma "entidade" que queria beber", mas o procurador não permitiu.
A confusão aumentou, segundo o procurador, quando o juiz eleitoral deu um tiro para o ar, tentando assustar um rottweiller que mordera um oficial de justiça.
Como o culto não terminava, a polícia foi autorizada a subir no telhado e a vasculhar o forro da casa. Com os gritos de um policial, avisando que encontrara dinheiro dentro de sacolas, a cerimônia foi interrompida.
No local do culto, foram apreendidos fichas e envelopes com nomes de eleitores e "material indicativo de captação de sufrágio", segundo narrativa de Pastana.
O procurador diz que as sacolas foram lacradas. Todos foram levados para a Polícia Federal.
"No caminho da delegacia, uma "entidade" incorporou num pai-de-santo e começou a me xingar", conta Pastana.


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