São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

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O BRASIL QUE SAI DAS URNAS

Eleitos na esteira do sobrenome, parentes de famosos se preparam para atuar no Senado, na Câmara e nas Assembléias pelo país

Laços de família

CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

É um grupo político que não pára de crescer: a dos parentes de famosos, na política ou fora dela. São filhos, filhas, irmãos, mulheres e até mães que conquistam cargos eletivos a reboque de um sobrenome conhecido.
Na Bahia, onde está um dos patriarcados políticos mais evidentes, o senador eleito Antonio Carlos Magalhães (PFL) leva para a Câmara ACM Neto, campeão no Estado, com 400 mil votos.
Ao mesmo tempo, outra dinastia está se formando. Fábio Souto, filho do governador eleito Paulo Souto, lançado por ACM, chega à Câmara com mais de 200 mil votos. É o terceiro entre os deputados federais mais votados.
Os laços de família independem de partidos. Luciana Genro (PT), filha do prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, candidato a governador, elegeu-se deputada federal com a "forcinha" do sobrenome.
"É sempre referência, mas depois de oito anos como deputada estadual as pessoas sabem que não sou apenas a filha do Tarso", diz Luciana, que era professora de inglês até se decidir pela política. A escala na Assembléia Legislativa é praxe entre os parentes.
Janete Capiberibe, mulher do ex-governador e senador eleito João Capiberibe, ambos do PSB, acaba de saltar da AL do Amapá para a Câmara Federal. Já a história de Nelson Marchezan Jr. (PSDB-RS) é um pouco diferente.
Filho do ex-presidente da Câmara (1981-1983) no governo Figueiredo e deputado federal por seis mandatos Nelson Marchezan, ele conta ter se sentido "praticamente obrigado" a partir para a política com a morte do pai, por infarto, em fevereiro.
"Seria até desrespeito não dar continuidade ao trabalho dele", diz Marchezan Jr., 30, que, mais baixo e com mais cabelo, não explorou a semelhança física, mas o discurso do pai para se eleger. "Eu dizia: "Sou Júnior e quero continuar o trabalho de Nelson Marchezan". O sobrenome dele facilita muito, não há rejeição", diz.
O prefeito de Vitória (ES), Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), viveu situação oposta. Ao se aposentar pelo Tribunal de Contas do Estado, sua mãe, Mariazinha, aos 71 anos, decidiu se lançar à Assembléia Legislativa.
"Ela tem muito talento para a articulação política. Ficou mais de 20 anos no TCE, foi presidente do tribunal, é muito conhecida. Mas eu a apoiei, trouxe ela para o PSDB", conta o prefeito.
Rodrigo Maia (PFL), filho do prefeito do Rio, César Maia, diz que o sobrenome é sempre "uma ajuda", mas acha que conseguiu se reeleger deputado federal já por seus próprios méritos -mesmo tendo posado ao lado do pai em seus cartazes de campanha.
"Na primeira eleição, o nome dele pesou. Mas agora tenho uma base que vota comigo. Estou entre os congressistas mais influentes", afirma Rodrigo, que, aos 32, já pensa em levar seu sobrenome a outros vôos. "Não quero ser deputado a vida toda."
Um filho tragicamente famoso acabou empurrando Arlete Caramês (PPS-PR) para a política. Ela começou a ficar conhecida há 11 anos, depois que o filho Guilherme, de 8, desapareceu. Registrou-se como "Arlete Mãe do Guilherme" e foi eleita deputada estadual.
"Não vou dizer que é o caminho que gostaria de ter tomado", diz Arlete, que era bancária. "Mas é o lugar onde as autoridades te ouvem, onde você tem vez e voz."
Sobrenome famoso não é garantia de votos. Paulinho Bornhausen (PFL-SC), filho do senador Jorge, não se elegeu ao mesmo cargo do pai. E o filho do ator global Francisco Cuoco, Diogo, teve pouco menos de 18 mil votos para a AL do Rio e ficou fora.


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