São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

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Publicitário foi avalista de tucano

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A lista de empréstimos nos bancos Rural e BMG que tiveram algum tipo de participação do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza -entregue pelas instituições à CPI dos Correios- revela que o empresário foi avalista de um funcionário graduado do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Valério avalizou operação de Luiz Otávio Mota Ziza Valadares, que durante cinco anos da gestão FHC exerceu o cargo comissionado de presidente da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos). Ziza obteve, em empréstimo pessoal, R$ 250 mil do Banco Rural no dia 16 de dezembro de 2002 -pouco antes de deixar o cargo, em janeiro de 2003.
Em 1992, Ziza foi secretário de Esportes do hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) na sua gestão como prefeito de Belo Horizonte (MG). Segundo ele, nada houve de irregular no empréstimo. "Eu e Valério somos amigos e ele se ofereceu para ser avalista. Paguei, graças a Deus, naquela época mesmo", disse Ziza. O empréstimo foi quitado em 8 de agosto de 2003.

"A pedidos"
A versão apresentada à Folha por Valério na última sexta-feira, por escrito, por meio de sua assessoria, diverge num ponto da de Ziza. O publicitário afirmou ter assinado o aval "atendendo a pedidos do amigo".
A CBTU, empresa que opera trens urbanos em seis capitais e atualmente financia a construção dos metrôs de Salvador e de Fortaleza e a ampliação dos metrôs de Recife e de Belo Horizonte, era ligada ao Ministério dos Transportes até 2002. Hoje, está vinculada ao Ministério das Cidades.
Ziza disse ter sido indicado ao cargo pelo então ministro dos Transportes, Eliseu Padilha (PMDB-RS).
"A CBTU nunca teve contratos com Marcos Valério. Nunca teve nada de publicidade", afirmou o ex-presidente da companhia, que preferiu não dizer à reportagem que destino deu aos recursos do empréstimo que contraiu.

Outro tucano
Além do ex-presidente da CBTU, outro tucano de projeção em Minas Gerais teve Valério como avalista num empréstimo pessoal. O tesoureiro da campanha eleitoral de Azeredo ao governo de Minas em 2002, Cláudio Mourão, também obteve R$ 200 mil em empréstimo pessoal do Banco Rural.
Segundo os documentos enviados às CPIs, Valério foi avalista de Mourão ao lado de Bruno Bedinelli Filho, dono da empresa Diedro Construções. A empreiteira chegou a vencer uma licitação lançada pela CBTU para a construção de uma estação de metrô em Belo Horizonte, mas o contrato sofreu objeções do TCU (Tribunal de Contas da União) em 2002 e não saiu do papel, segundo Ziza.
"Quanto ao senhor Cláudio Mourão, Marcos Valério prestou-lhe um favor, dando-lhe seu aval em empréstimo bancário, em nome do bom relacionamento que mantiveram durante a campanha para o governo de Minas Gerais, em 1998, do atual senador e presidente do PSDB, Eduardo Azeredo", afirma o texto enviado pela assessoria do publicitário.
Valério montou com Mourão, em 1998, uma operação nos mesmos moldes da realizada pelo PT nacional entre 2003 e 2004. Contraiu empréstimos no Rural para repassar os recursos a políticos ligados à campanha dos tucanos. (RUBENS VALENTE e MARTA SALOMON)

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