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ELIO GASPARI
Uma boa leitura: "Lula e Mefistófeles"
Está na internet a melhor narrativa da crise do
PT-Federal. Chama-se "Lula e
Mefistófeles" e foi escrita por
Norman Gall, diretor-executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, sediado em São Paulo. É uma
produção típica do padrão Gall
de qualidade. Longo (equivale
a 80 páginas de livro), metódico (não esquece uma só maracutaia) e rigoroso (segue o argumento do título). Mefistófeles, o "arcanjo da corrupção", é
Roberto Jefferson e tudo o que
teve em volta, do petequeiro
dos Correios a Marcos Valério e
José Dirceu. Para quem está
atrás de foco, o encadeamento
do trabalho é enciclopédico.
Devastador na simplicidade:
"Lula teve suas escolhas. O que
ele fez com elas reflete uma personalidade muito complexa,
alguém cuja ascensão espetacular gerou uma arrogância
que o fez perder seu norte moral". Lula fez um pacto com Asmodeu, e a conta chegou. Gall
mostra o que há de estrutural
na crise e o que nela foi injetado pela trama petista.
Achou dois antecedentes históricos. Um, produzido pela
acomodação do Estado inglês a
uma nova ordem econômica,
foi o escândalo financeiro da
Bolha dos Mares do Sul (1711-1730) que emporcalhou família
real, ministros, parlamentares
e plutocratas. Outro foi o governo cleptófilo do presidente cubano Carlos Prío Socarrás
(1948-1952), no qual líderes estudantis de biografias românticas meteram-se no que o historiador inglês Hugh Thomas
chamou de "gangsterismo".
Nos anos 70, quando o Congresso brasileiro aprovou por
unanimidade o acordo nuclear
assinado com a Alemanha,
Gall escreveu um artigo na revista americana "Foreign Policy", mostrando que aquilo estava mais para maluquice. Hoje, com números e fatos conhecidos, ele associa o PT e os esquemas do Banco Rural às descobertas da CPI do Banestado,
em que reinou a paleolítica figura do deputado federal José
Mentor (PT-SP).
Para quem acha que atravessar 80 páginas de baixaria é tarefa dura, na segunda terça
parte do trabalho Gall demonstra que ter esperança no Brasil
é um bom negócio. Comparando Pindorama com a Rússia, a
Índia e a China, garante que
dias melhores poderão vir. Na
parte final do "Mefistófeles" há
a proposta de um consenso para que o Brasil mude de crises e
de cara. Basicamente, são
idéias para previdência, educação e infra-estrutura. O julgamento dessa plataforma dependerá da opinião de cada
um, mas Gall sabe expor a sua.
Noves fora o tom de "eu sei"
dos viajantes do século 19, algumas sugestões são instigantes,
sobretudo para a educação.
É difícil que alguém repasse o
artigo a Lula. O texto explica
porque: "Tendo estudado apenas até a quinta série, Lula (...)
é um improvisador altamente
inteligente que possui o dom de
ouvir e que convive com a dificuldade de ler. Uma pessoa de
seu convívio próximo disse que
é doloroso ver Lula, o presidente, fazendo força por uma hora
para ler uma única página impressa". Uma hora por página
parece exagero, mas num outro
trecho é Lula quem informa:
"Sabe, nunca na vida li livro
nenhum".
De fato, no memorável depoimento ("Lula, Filho do Brasil")
em que o "nosso guia" contou
sua história à jornalista Denise
Paraná, não há a palavra livro.
São 103 páginas.
É o seguinte o endereço do
Instituto Fernand Braudel, em
que está o "Lula e Mefistófeles"
em português e em inglês:
http://www.braudel.org.br/.
A boa briga: Google x Microsoft
Quem fez mais pelo conforto e
pelo bem-estar da classe operária: Fidel Castro ou Levi Strauss?
Em 1873, na Califórnia, Levi cortou uma lona de carroça e produziu a primeira calça jeans. Naquele ano, notícia importante
era a roubalheira do governo do
general Grant, reeleito presidente dos Estados Unidos.
As grandes mudanças ocorridas na vida da humanidade geralmente acontecem sem grandes coberturas jornalísticas. Numa época em que lideranças como Lula e George Bush parecem
ser o início e o fim das coisas, há
uma boa briga para prestar
atenção: Microsoft x Google. Ela
junta criatividade, inteligência e
riqueza. É um bálsamo contra
mensalões e improvisos.
De um lado está a Microsoft de
Bill Gates, 50 anos/US$ 46 bilhões. Do outro, o Google de
Larry Page, 31 anos/US$ 4 bilhões, e de Sergey Brin, 31 anos/
US$ 7 bilhões. Gates vende programas e licenças. Os outros dão
seus acessórios de graça. Tanto
o instrumento de busca como
um endereço eletrônico de 2 gigabytes (500 mil páginas de texto). Ganham dinheiro com a publicidade que vendem.
O Google está recrutando as
melhores cabeças do mercado e
acaba de comprar a programadora Sun. Oferecerá programas
livres, como o OpenOffice, parecido, para pior, com o Office da
Microsoft. Mais: anunciou que
conectará os computadores de
São Francisco por ondas de rádio, sem cabos, tarifa de banda
larga ou mesada de provedor.
Ficção científica: o Google (ou
a próxima fábrica de sucessos da
rede) conecta os computadores
das grandes cidades de todo o
mundo, e a patuléia faz suas ligações telefônicas de graça. Em
vez de comprar as caixas do Office Standard de Bill Gates por
algo mais de R$ 1.000, o sujeito
usa o OpenOffice baixado do
Google.
Assim como Bill Gates sacou
que os grandes fabricantes de
máquinas não entenderam que
o negócio de computadores estava nos programas, o Google
pode ter sacado que na internet
dá certo o que é grátis.
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