São Paulo, sexta, 9 de outubro de 1998

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VIAGEM OFICIAL
Ministro das Comunicações ficou em hotel de luxo em Madri
Telefónica paga estadia para Mendonça de Barros

ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio

ISABEL CLEMENTE
enviada especial a Madri

A Telefónica de España, maior empresa de telecomunicações do Brasil, pagou ontem a diária do hotel mais luxuoso de Madri para o ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros.
O ministro chegou a Madri anteontem e foi embora ontem. Segundo ele disse antes de embarcar, o objetivo da viagem era "acalmar investidores estrangeiros" em relação ao futuro do país. Depois de Madri, o ministro foi para Roma e, na sequência, iria para Paris.
Em Madri, hospedou-se no hotel mais luxuoso da cidade, o Palace. A multinacional reservou para o ministro uma suíte de US$ 520 a diária.
Com a privatização da Telebrás, a Telefónica se tornou a maior empresa de telefonia do Brasil.
Tem sob seu comando a Telesp fixa (5,5 milhões de assinantes), a Tele Sudeste Celular (980 mil assinantes), a gaúcha CRT (1,9 milhão de assinantes) e ainda participa acionariamente da Telesp Celular (1,5 milhão de assinantes) e da Tele Leste Celular (220 mil assinantes).
Mendonça de Barros é um dos ministros mais fortes do governo. Depois de substituir Sérgio Motta nas Comunicações e concluir a privatização da Telebrás, é cotado para ocupar o superministério da Produção, anunciado anteontem pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ele embarcou terça-feira à noite para Madri, onde chegou no início da tarde do dia seguinte.
Descansou por algumas horas no hotel e, acompanhado por funcionários da Telefónica, seguiu para a sede da empresa, na Gran Via (centro de Madri), onde o próprio presidente da companhia, Juan Villalonga, o aguardava na portaria. Quando a reunião começou, já era noite.
Ao deixar o hotel, na manhã de ontem, o ministro pagou apenas as despesas extras (como telefonemas), que somaram US$ 200. O pagamento da diária ficou por conta da agência de viagens El Corte Inglés, que, por sua vez, foi contratada pelo gerente de relações institucionais da Telefónica, em Madri, Carlos Sieiro.
As informações sobre quem pagou a diária do ministro foram checadas pela Folha na recepção do hotel, na agência El Corte Inglés e na própria Telefónica.
Segundo o Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado, os ministros recebem diária de US$ 330 para pagamento de hospedagem, transporte local e alimentação quando estão em viagem oficial na Espanha, França e EUA. A tabela varia de acordo com o custo de vida em cada país.
Na terça-feira, antes de embarcar para Madri, o ministro afirmou que iria tranquilizar as empresas de telecomunicações que investiram no Brasil.
"Os investidores estão meio nervosos com toda essa situação", afirmou, referindo-se à crise financeira mundial.
Outro objetivo da viagem, segundo ele, era convencer a Telecom Italia a antecipar o pagamento das ações das empresas Tele Centro Sul, Tele Sul Celular e Tele Norte Celular, que adquiriu no leilão da Telebrás, em 29 de julho.
Ou seja, o ministro tentaria repetir com os italianos a operação que acabara de fazer com a Telefónica de España, com a Iberdrola e com a Portugal Telecom.
Na quinta-feira da semana passada, as três compraram US$ 3,88 bilhões em títulos de dívida emitidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) como antecipação do pagamento da Telesp fixa, Tele Sudeste e Tele Leste Celular.
Mudança de trajeto
O "Diário Oficial da União" de sexta-feira passada publicou a autorização de Fernando Henrique Cardoso para que o ministro se afastasse do país entre os dias 5 e 15 de outubro. O despacho dizia que ele participaria de um seminário da UIT (União Internacional de Telecomunicações) em Minneapolis (EUA), de uma solenidade na Bolsa de Nova York e que iria a Paris e Roma "tratar de assuntos daquele ministério".
O roteiro publicado no "Diário Oficial" não incluía Madri. O ministro mudou o programa e desistiu da visita aos Estados Unidos.



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