São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS
Pingos e cifrões

Embora as tais "comissões" cobradas pelo Movimento dos Sem-Terra sejam um dos alvos relacionados, a urgente e forte reação do governo à CPI da reforma agrária, pretendida pelos deputados donos de terras, elimina qualquer dúvida sobre o lado que mais tem a temer com a verificação dos dados reais da reforma e com investigações das evidências de corrupção em grande escala.
As acusações do ministro Raul Jungmann à biografia do deputado gaúcho Luis Carlos Heinze, "direitista comprometido com o latifúndio", não invalidam os dados reunidos na Comissão de Agricultura da Câmara sobre a improbidade no uso de verbas para reforma agrária. Caso, por exemplo, da fazenda comprada por um certo Nelson Ferriane, no Mato Grosso do Sul, por menos de R$ 400 mil em 98 e, já em 99, vendida ao Incra por quase R$ 900 mil, segundo o relatório do deputado que exaspera Jungmann.
Quem tanto tem falado contra a modesta contribuição de agricultores ao seu movimento, deve ao país melhor resposta, para denúncias de desvio do dinheiro público em sua pasta, do que reduzir o assunto a aspectos pessoais. Inclusive porque a bancada do direitismo ruralista integra o bloco parlamentar governista, e toda a direita compõe a principal força aliada, no Congresso, a Fernando Henrique Cardoso e seu governo.
A CPI pode ser uma boa solução para pôr os pingos e os cifrões nos lugares que lhes cabem, de fato.

Nosso também
Por erro meu, inexplicável não fossem as contribuições da computação, ao título da coluna de ontem seguiu-se um número, sugerindo outros artigos no mesmo tema -o significado das eleições americanas para o Brasil.
Não há segundo artigo, embora o entusiasmo que as eleições de lá me merecem. É admirável que não precisemos sair, entrar em fila e ir à urna para que seja eleito o nosso governante supremo. Os americanos fazem tudo isso por nós.

Uma criança
A luta entre a direita militar israelense e os palestinos já está reduzida pelo jornalismo - logo, pela opinião pública- a mais uma vulgaridade bélica. Há 15 dias, a morte de um menino de 12 anos, por um tiro assassino de soldado israelense, comoveu em quase todas as primeiras páginas. Em Nablus, anteontem, outro soldado israelense assassinou um menino de 8 anos. Não foi assunto jornalístico. Por que haveria de ser, se era só uma criança -inocente, assustada, desprotegida?



Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Questão agrária: MST invade fazenda antes de visita de FHC
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.