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RUMO A 2002
Senador afirma que informou Lula da sua decisão na segunda-feira e comenta o que mudou na sua relação com Marta
Sou candidato a presidente, diz Suplicy
SANDRA BRASIL
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O senador Eduardo Matarazzo
Suplicy (PT-SP), 59, lançou sua
pré-candidatura à sucessão do
presidente Fernando Henrique
Cardoso. Na segunda-feira passada, Suplicy foi à casa do líder petista Luiz Inácio Lula da Silva, em
São Paulo, para colocar o seu nome à disposição do partido para
concorrer em 2002.
"Quero ser presidente da República", disse o senador em quatro
horas de entrevista à Folha.
Suplicy, que foi um dos fundadores do PT em 1980, afirmou que
o seu casamento de 36 anos com a
prefeita eleita de São Paulo, Marta
Suplicy (PT), está em um dos
"melhores momentos". Ele admitiu, no entanto, que chegou a se
sentir "preterido" quando Marta
foi convidada para ser a candidata
do partido ao governo de São
Paulo, em 1998.
A seguir, trechos da entrevista
concedida à Folha.
Folha - O sr. quer ser candidato à
Presidência?
Eduardo Suplicy - Eu me disponho a ser candidato à Presidência
da República. Quero ser presidente da República. Acho muito saudável para o PT que haja muitas
pessoas que se disponham a ser
presidente. E feliz é o PT por ter
um número tão grande de pessoas hoje, a começar pelo próprio
Lula, que é sem dúvida alguma a
maior liderança popular das últimas décadas no Brasil. O partido
tem ainda nomes como o do ex-governador Cristovam Buarque,
os três governadores do PT (Olívio Dutra, Zeca do PT e Jorge Viana), o presidente nacional do PT,
José Dirceu, o deputado federal
José Genoino, o líder do PT na Câmara, deputado Aloizio Mercadante, o prefeito recém-eleito
Tarso Genro e, obviamente, porque está se constituindo numa
das principais lideranças nacionais, a prefeita eleita Marta Suplicy.
Folha - Mas não há um compromisso dos prefeitos eleitos do PT de
cumprirem os quatros anos de
mandato?
Suplicy - Se eu não tivesse citado
o Tarso Genro e a Marta Suplicy,
estaria cometendo uma injustiça
com eles. Eles são valores hoje
considerados pela base do PT e
pela opinião pública como presidenciáveis desde agora.
Folha - Por que o senhor quer ser
presidente?
Suplicy - Mais importante do
que eu ser presidente é que o próximo presidente da República
realize o que acredito seja necessário: a realização da justiça de
forma compatível com a liberdade e a democracia no sentido mais
amplo da palavra.
Folha - O senhor seria o presidente da renda mínima?
Suplicy - Muito mais do que isso.
Eu, se eleito presidente, colocaria
a realização da prática da justiça
num país que, infelizmente, tornou-se um dos campeões mundiais da desigualdade socioeconômica. Faria da erradicação da
pobreza e da construção da equidade o objetivo principal. E, assim
como, por exemplo, Juscelino Kubitschek disse que construiria
Brasília em cinco anos e mudaria
a capital para o Planalto e o fez,
acho que o grande desafio de um
governo do PT seja erradicar a pobreza absoluta, a fome e promover os instrumentos de maior
igualdade no Brasil.
Folha - O senhor já informou ao
partido de que tem a intenção de se
candidatar?
Suplicy - Sim. Muitas pessoas
têm transmitido a mim em todos
os lugares onde vou, tanto dentro
como fora do partido, que eu deveria me colocar à disposição de
ser candidato a presidente.
Folha - Inclusive a prefeita eleita
Marta Suplicy?
Suplicy - Eu conversei muito
com ela nesses dias (sobre esse assunto). Eu recordei que há uma
dificuldade. A Constituição diz
que o cônjuge não pode ser sucessor na eleição seguinte ao do seu
mandato. Por exemplo, eu não
posso ser candidato à sucessão da
Marta como prefeito. A Marta, na
hipótese de eu ser escolhido candidato a presidente pelo PT e ser
eleito, não poderá me suceder.
Folha - E ela, o que falou?
Suplicy - Ela me disse: Eduardo,
se for por essa razão, se você acha
que quer ser, não se limite por isso, porque eu acho justo que você
possa ser.
Folha - Por que o senhor ainda
não havia lançado publicamente a
sua candidatura?
Suplicy - No primeiro trimestre
deste ano, recebi centenas de
mensagens sugerindo que eu me
candidatasse à Presidência. Recebi também um manifesto por escrito de alguns amigos e diversos
professores. Eles disseram:
"Eduardo, você já deveria dizer
que está disponível para o partido
para ser candidato à Presidência".
Foi então que, em tomando conhecimento disso, a coordenação
da campanha da Marta pediu
uma reunião comigo. Umas dez
pessoas que escreveram o manifesto participaram do encontro.
Eles ouviram comigo as ponderações feitas pelos coordenadores
da campanha. A Marta estava em
casa, mas não participou dessa reflexão. Eles ponderaram que, se
eu viesse a declarar que era candidato à Presidência desde o primeiro trimestre de 2000, isso poderia prejudicar a campanha da
Marta e colocaram diversas razões com as quais eu concordei
inteiramente.
Folha - E por que eles não queriam que o sr. se lançasse naquele
momento?
Suplicy - Porque poderia criar
uma reação de certas pessoas,
dentro e fora do partido, que poderiam prejudicar a própria imagem da Marta. "Ah, imagine, marido e mulher! Esse casal já está
querendo demais! A mulher quer
ser prefeita, o marido, presidente!". O outro argumento é que poderia causar dentro de certos segmentos do partido um espírito de
não colaboração com a própria
campanha da Marta.
Folha - Agora o senhor está liberado...
Suplicy - Estou. Há ainda dois
outros episódios importantes.
Um ocorrido há um ano, aproximadamente, e o outro ocorrido
ontem (segunda-feira) à noite. O
Lula sugeriu ao presidente José
Dirceu que convidasse para um
jantar Cristovam Buarque, Tarso
Genro, Mercadante, Genoino e eu
para um diálogo sobre a questão
da sucessão presidencial e o PT.
Nessa reunião, o Lula nos transmitiu que ele estava considerando
a hipótese de ser candidato à Presidência, que uma pessoa que tem
cerca de 30% nas pesquisas de
opinião deveria considerar isso
com responsabilidade. Não poderia facilmente abrir mão disto.
Entretanto, queria transmitir a
nós que poderia também decidir
por não ser candidato. Que ele estava perfeitamente aberto para esta possibilidade tanto de ser
quanto de não ser. O Lula nos disse: "Vocês são as pessoas que a base do partido considera que poderiam ser também candidatos à
Presidência. Quero transmitir essa minha ponderação porque
quero que vocês estejam preparados para a eventualidade de eu
decidir não ser". Eu me senti bem
e honrado com as palavras dele e
levei a sério. Eu sempre atendi a
apelos do partido.
Folha - E o que aconteceu ontem
(na última segunda-feira)?
Suplicy - Foi uma conversa com
o Lula. Eu fui visitá-lo ontem à
noite na casa dele. Cheguei lá por
volta das 21h30. Saí de lá por volta
das 23h30. Eu disse ao Lula que
será muito saudável para o PT ter
diversos candidatos à Presidência, que obviamente inclui a pessoa dele, que é a lideranças das
oposições mais forte no Brasil.
Disse ao Lula o que eu transmiti à
Marta: mais importante do que eu
ser presidente do Brasil, é que as
minhas idéias possam ser levadas
adiante, porque eu acredito nelas.
Agora, considero legítimo e
bom para o partido que eu defenda as minhas proposições. Se o
partido quiser que eu seja candidato à Presidência, eu me disponho. E eu também disse ao Lula
que só faria isso na medida em
que eu percebesse que, com essa
atitude, eu não o estaria prejudicando ou magoando ou perturbando a pessoa dele e o PT. E aí,
ele se mostrou extremamente responsável, generoso e aberto dizendo que achava perfeitamente
razoável, legítimo e que eu me
sentisse inteiramente livre para
começar a dizer isso publicamente. Ele disse que conversaria com
as outras pessoas que participaram do jantar.
Folha - O senhor acha que a sua
candidatura é viável?
Suplicy - Sim.Eu acho perfeitamente viável. Ainda ontem, estava viajando de Curitiba para São
Paulo. Estava ao meu lado uma
psicanalista amiga da Marta e um
empresário. Ele iniciou o diálogo
perguntando quem é que vai ser
candidato do PT? E disse que gostava do José Dirceu. Não passou
um minuto e as três pessoas que
estavam no banco da frente ao
meu se levantaram e disseram:
"Nós queremos que você seja candidato a presidente".
Folha - E como é a convivência, na
mesma casa, de dois possíveis presidenciáveis do PT?
Suplicy - Tem sido de um aprendizado mútuo extraordinário, de
muito respeito um pelo outro e de
muito carinho e amizade. Tem
havido poucos momentos de tensão, mas sobretudo há um respeito muito grande e com situações
novas que surgiram a partir da
eleição dela para prefeita. Combinei com ela e acho que teve muita
razão em ponderar isso, que eu
não deva ser um porta-voz.
Folha - O que significou essa ascensão política da Marta para o casamento de vocês?
Suplicy - Eu posso dizer que estou num estágio do nosso casamento de 36 anos de muita profundidade no amor, na compreensão mútua, na percepção.
Em poder sempre dizer a ela todos os meus sentimentos. Então,
as pessoas procuram construir
uma vida em comum e, felizmente, o meu casamento com a Marta
tem uma compreensão formidável neste período de convivência
política, em que ambos disputamos eleições e temos projetos que
são apresentados.
Folha - O casamento melhorou?
Suplicy - Muito. O meu casamento com a Marta hoje tem uma
qualidade que posso afirmar como uma das melhores que houve
em toda nossa vida.
Folha - O senhor levou a Marta
para o PT. Ela já era uma psicanalista e sexóloga bem-sucedida, mas a
vida política dela começou em função da sua atuação política. Nesse
momento em que os holofotes estão voltados para ela, o que mais
incomoda o senhor?
Suplicy - Depois da reunião em
que a Marta foi escolhida candidata a governadora (de São Paulo,
pelo PT, em 1998), houve um período em que eu fiquei assim com
um possível sentimento de estar
sendo preterido e tal. Daí, eu li o
livro "Despertar da Águia", do
Leonardo Boff. Ele coloca com
muita propriedade que, se nós
quisermos uma boa sociedade,
saudável, civilizada, é muito importante que nós homens compreendamos o quão bom pode ser
alternar no comando do poder
ora o homem, ora a mulher. Porque a mulher tem algumas qualidades e sensibilidades e um olhar
diferente de nós, homens. E, desde que eu li isso, eu me senti muito bem, não apenas passei a dizer
como a sentir que era muito justo
que ela fosse candidata.
Folha - Em geral, as primeiras-damas do municípios são responsáveis pela área social do governo.
Mesmo sendo senador, o senhor
pretende ajudar na área social do
governo da Marta diretamente?
Suplicy - Vou continuar senador. Vou estar acompanhando de
perto a aplicação de todos programas de natureza social, sobretudo
aqueles voltados para garantir
renda, emprego e trabalho.
Folha - Qual é o segredo para um
casamento de 36 anos?
Suplicy - Todo casamento para
dar certo envolve muita compreensão, enorme respeito, muita
vontade de amar, isso inclui a
atração sexual que um tem pelo
outro, a vontade de compartilhar
sentimentos, de estar juntos nas
horas difíceis, a atenção para com
as pequenas coisas. E isto é algo
que tem que ser permanente.
Folha - Das atitudes de Paulo Maluf durante a campanha em São
Paulo, o que mais incomodou?
Suplicy - Felizmente, o Maluf foi
um obstáculo ultrapassado e eu
não preciso mais me referir a ele
nem quero. Se tiver mais perguntas sobre isso, está encerrada a entrevista. Eu não tenho nenhum
prazer de estar falando sobre ele.
Ele não procedeu com respeito à
minha família e aos meus filhos.
Folha - A prefeita eleita ajuda ao
senhor, por exemplo, a escolher
roupa?
Suplicy - Se eu descuido um
pouco, ela chama atenção. Se eu
vestir uma camisa que não combina com a gravata e o terno, ela
diz: "Isso não! Imagina! Tá horrível isso!". Manda voltar para trocar, e eu volto. Na maior parte das
vezes, escolho bem. Ela me fez ficar mais atento a escolher bem.
Folha - E a plástica que o senhor
fez na região dos olhos, ela teve alguma influência nisso?
Suplicy - Fiz porque eu estava
com excesso de gordura e o médico me disse que isso acabava me
cansando mais. Eu tive muita resistência, desde que a Marta tinha
me recomendado. Fiz em 97 e foi
tranquilo.
Folha - E o que o senhor achou da
plástica que a prefeita eleita fez?
Suplicy - Disse a ela que não precisava ter feito porque ela era bonita do jeito que era. Não precisava! Mas ela avaliou que era muito
significativo fazer e, quando fez,
eu dei a maior força. E realmente,
para ela, ficou melhor. Cumprimentei muito o doutor Pitanguy.
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