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ANÁLISE
Captação de votos indecisos, brancos e nulos foi fonte para que avaliação de institutos ficasse fora da margem de erro em 2002
Erros e acertos nas pesquisas eleitorais
MARCUS FIGUEIREDO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ao final do primeiro turno das
eleições os jornais estamparam
manchetes cobrando os "erros"
dos institutos de pesquisa, especialmente do Ibope e do Datafolha. Assunto recorrente derivado
de uma prática antiga: editores
comparam os valores pontuais
dos votos estimados nas pesquisas com os resultados fornecidos
pelo TSE.
Qualquer diferença, para mais
ou para menos, fornece munição
aos jornalistas e aos dirigentes
partidários derrotados -para as
matérias dos primeiros e, para os
segundos, para as reclamações de
uso espúrio dos resultados dos
institutos publicados nas vésperas
da eleição. Essa prática tem se repetido ano após ano, estimulando
alguns a até mesmo pedir CPIs e
explicações judiciais.
Razões das reclamações à parte,
o fato é que, estatisticamente, é
muito raro as estimativas dos institutos de pesquisas coincidirem,
pontualmente, com os resultados
oficiais. Há várias razões que concorrem para isso, razão pela qual
todos institutos a cada pesquisa
trabalham com uma margem de
erro de estimação.
Teoricamente o que se espera
das estimativas de intenção de voto é que, simultaneamente, os valores dos votos estimados e a consequente posição dos concorrentes na disputa fiquem o mais próximo possível do resultado final.
Esse objetivo o mais próximo
possível é regido pela teoria da
margem de erro de estimativa,
que cada desenho amostral estipula a priori, informação fundamental para se avaliar o desempenho da pesquisa.
Esse padrão de avaliação vale
tanto para as estimativas pontuais, candidato a candidato,
quanto para a avaliação global,
que consiste em estimar-se a média das diferenças das estimativas
pontuais de uma chapa completa
dos candidatos.
Metodologias
Existem várias metodologias de
avaliação das pesquisas de intenção de voto. No artigo intitulado
"The Polls Review: Was 1996 a
worse year for polls than 1948?", o
autor Warren J. Mitofsky faz uma
comparação do desempenho das
pesquisas eleitorais nas eleições
presidenciais americanas desde
1948. Em 1948, The Social Science
Research Council (SSRC) examinou a questão de como a precisão
das pesquisas deveriam ser medidas, ponderando as vantagens e
desvantagens de vários métodos.
Warren em seu estudo considera os mesmos oito métodos analisados naquela época.
Uns são mais rigorosos que outros. Apenas para exemplificar, o
método menos rigoroso considera a precisão da pesquisa somente
levando em conta a diferença, em
pontos percentuais, entre o índice
obtido sobre o total de votos pelo
candidato que lidera as pesquisas
e o seu resultado oficial.
Dentre os diferentes métodos
de avaliação os mais eficientes
são: a) Média das diferenças absolutas entre a intenção de voto declarada e votos apurados oficialmente (Método 1); b) Média das
diferenças absolutas entre intenção de voto estimada e votos válidos oficiais (excluem-se aqueles
que não citam candidatos, indicam branco ou voto nulo) (Método 2).
Após a eleição de 1998, fiz alguns testes preliminares sobre os
resultados publicados e propus
aos três maiores institutos associados da Anep, Ibope, Datafolha
e Vox Populi, que disponibilizaram os resultados das últimas
pesquisas eleitorais realizadas antes das eleições presidenciais de
1989, 1994 e 1998, e em conjunto
com eles foi possível avaliar as
pesquisas eleitorais brasileiras
através destes dois métodos.
Os resultados globais foram os
seguintes:
Comparando-se o desempenho
dos institutos americanos, avaliados por Warren J. Mitofsky, e o
desempenho dos brasileiros nas
últimas eleições presidenciais, verifica-se a mesma eficiência:
Para a eleição de 2002, primeiro
turno, apliquei novamente esses
mesmos dois métodos de avaliação, os mais eficientes, constatando que os resultados das pesquisas eleitorais apresentavam excelente desempenho global, com
média geral das diferenças de estimativas apuradas pelos quatro
maiores institutos da ordem de
1,1% (método 2), numa eleição
competitiva com 6 candidatos.
Desempenho
O desempenho desses institutos, no primeiro turno, pode ser
visto nas tabelas 1 e 2. As estimativas pontuais, no entanto, apontaram algumas diferenças entre os
institutos. Datafolha e Ibope superestimaram a votação de Lula,
Vox Populi e Sensus superestimaram Ciro Gomes, e José Serra teve
a sua votação subestimada por todos os quatro institutos. Essas variações podem ser explicadas pela
movimentação do eleitorado, sugerindo a intenção do eleitorado
de não terminar a eleição no primeiro turno, como sugeri, na ocasião, em artigo publicado no jornal "O Globo", de 18 de outubro,
na coluna Observatório Eleitoral.
Se no primeiro turno das eleições deste ano o resultado foi excelente, no segundo turno o desempenho geral já não foi tão
bom como se esperava, apresentando diferença média geral de estimativa de 2,6%, acima da média
histórica mostrada acima.
Nas tabelas 3 e 4 temos as avaliações feitas usando os mesmos
métodos 1 e 2.
Com exceção do Ibope, cujas estimativas pontuais e médias ficaram dentro das respectivas margens de erro previstas, revelando
excelente desempenho, os três
outros institutos tiveram suas estimativas pontuais e médias fora
das respectivas margens de erro,
da ordem de 0,9% a 1,1%. São, evidentemente, erros médios relativamente pequenos, mesmo considerando que o instituto Sensus
trabalhe com margem de erro de
3%.
Razão do erro
Diante desta observação não
basta apontar o erro, mas indicar
uma possível razão. Examinando
as estimativas pontuais dos institutos vemos claramente que a
fonte dos seus erros de estimativa
está na estimativa pontal dos declarantes indecisos e de votos nulos ou brancos.
Tomando-se o método 1, votos
totais, vemos que todos os institutos acertaram o voto em Lula.
Mas somente o Ibope acertou as
suas estimativas em Serra e em
votos indecisos, nulos e brancos.
Todos os demais subestimaram a
votação em Serra e superestimaram os indecisos e declarantes de
voto nulo e branco. Consequentemente isso se reflete no resultado
apurado pelo método 2, que é
muito sensível em relação aos votos nulos e brancos apurados na
eleição.
Neste caso fica claro que está na
captação dos votos indecisos, nulos e brancos a fonte para que as
estimativas médias desses institutos terem ficado fora das respectivas margens de erro. Isto é muito
mais um problema de captação
da informação do que de erro derivado do desenho amostral (ver
as descrições das pesquisas nas tabelas indicadas).
Tomando-se o desempenho
histórico dos institutos avaliados
vemos que foi, justamente, no segundo turno da eleição deste ano
onde tivemos os maiores desvios
das estimativas eleitorais (ver
quadro "Desempenho das pesquisas eleitorais"). Apesar disso,
não houve nenhuma "grita", nem
dos jornais e nem dos políticos.
MARCUS FIGUEIREDO é doutor em
ciência política e professor e pesquisador do Iuperj (Instituto Universitário de
Pesquisas do Rio de Janeiro)
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