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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ESTATAIS
Ex-diretor de Marketing nega que prática de adiantar recursos para agência de publicidade tenha começado no governo passado
BB errou ao contestar conclusões da CPI
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na tentativa de desmontar a
conclusão da CPI dos Correios de
que houve desvio de dinheiro público para alimentar o caixa dois
do PT, o Banco do Brasil errou.
Em nota divulgada na última sexta-feira, o banco afirmou que o repasse adiantado de recursos a
agências de publicidade, suspenso em 2004, era uma prática na
instituição desde 2001.
A informação foi contestada
ontem por meio de outra nota, assinada pelo ex-diretor Renato
Naegele, atualmente licenciado
do BB. Naegele antecedeu Henrique Pizzolato na diretoria de Marketing do banco. Com a assinatura de outros três funcionários,
Pizzolato mudou as regras, que
garantiram o repasse adiantado
de recursos à DNA Propaganda
até setembro de 2004.
Resultado: R$ 73,8 milhões foram pagos à DNA num período
de meses, antes mesmo da definição de campanhas publicitárias.
O dinheiro integrava o Fundo de
Incentivo Visanet e foi repassado
a uma das agências do publicitário Marcos Valério Fernandes de
Souza por ordem do BB.
"Em 2001 e 2002, os recursos do
fundo foram utilizados para a realização de campanhas, patrocínios e ações de marketing previamente definidas e aprovadas por
todas as instâncias colegiadas do
banco", contestou Naegele, negando o adiantamento de recursos da forma praticada nos dois
anos seguintes. Nos dois últimos
anos de mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a
DNA recebeu R$ 17,3 milhões do
fundo.
A assessoria de imprensa do
Banco do Brasil não reconheceu o
erro, mas afirmou que a expressão "adiantamento" foi usada de
maneira "imprecisa" quatro dias
atrás. Apenas a mudança introduzida em 2003 foi condenada e suspensa em decorrência de auditoria interna realizada em setembro
de 2004, informou o banco.
Na sexta-feira, em dura manifestação contra as conclusões da
CPI, o BB afirmou que o adiantamento de verbas do Fundo de Incentivo Visanet ocorria desde
2001 e que uma auditoria interna
"constatou que tal prática poderia
propiciar falhas processuais e vulnerabilidades de controle".
Os pagamentos antecipados à
DNA sem prévia comprovação de
gastos foram interpretados pelo
relator da CPI, Osmar Serraglio
(PMDB-PR), como um favorecimento à agência do publicitário
mineiro que operou o caixa dois
do PT. A nota do banco também
negava a possibilidade de desvio
de recursos superior a R$ 9,1 milhões. Serraglio falou em desvio
de "pelo menos" R$ 10 milhões.
O destino do dinheiro, no entanto, ainda é objeto de uma auditoria interna do BB que já dura
mais de três meses. Segundo o
presidente do banco, Rossano
Maranhão, o resultado das investigações está em aberto: "Ninguém sabe se os trabalhos de auditoria do BB e da CPI não vão
convergir por ângulos diferentes", disse ontem.
A nota da sexta marcou uma
mudança de tom em relação à
manifestação da véspera. Numa
primeira reação, o BB dizia condenar "eventuais desvios que possam ter ocorrido na destinação
desses recursos [destinados à publicidade]". A segunda nota só
mencionava eventuais desvios de
conduta de funcionários.
Porta-voz dos ataques do governo contra as conclusões de Serraglio, o deputado Carlos Abicalil
(PT-MT) informou ontem, por
meio de sua assessoria, que apenas divulgara informações transmitidas a ele pelo BB. Pizzolato
não foi localizado ontem.
Colaborou Sheila D'Amorim,
da Sucursal de Brasília
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