São Paulo, quarta-feira, 09 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ESTATAIS

Ex-diretor de Marketing nega que prática de adiantar recursos para agência de publicidade tenha começado no governo passado

BB errou ao contestar conclusões da CPI

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na tentativa de desmontar a conclusão da CPI dos Correios de que houve desvio de dinheiro público para alimentar o caixa dois do PT, o Banco do Brasil errou. Em nota divulgada na última sexta-feira, o banco afirmou que o repasse adiantado de recursos a agências de publicidade, suspenso em 2004, era uma prática na instituição desde 2001.
A informação foi contestada ontem por meio de outra nota, assinada pelo ex-diretor Renato Naegele, atualmente licenciado do BB. Naegele antecedeu Henrique Pizzolato na diretoria de Marketing do banco. Com a assinatura de outros três funcionários, Pizzolato mudou as regras, que garantiram o repasse adiantado de recursos à DNA Propaganda até setembro de 2004.
Resultado: R$ 73,8 milhões foram pagos à DNA num período de meses, antes mesmo da definição de campanhas publicitárias. O dinheiro integrava o Fundo de Incentivo Visanet e foi repassado a uma das agências do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza por ordem do BB.
"Em 2001 e 2002, os recursos do fundo foram utilizados para a realização de campanhas, patrocínios e ações de marketing previamente definidas e aprovadas por todas as instâncias colegiadas do banco", contestou Naegele, negando o adiantamento de recursos da forma praticada nos dois anos seguintes. Nos dois últimos anos de mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a DNA recebeu R$ 17,3 milhões do fundo.
A assessoria de imprensa do Banco do Brasil não reconheceu o erro, mas afirmou que a expressão "adiantamento" foi usada de maneira "imprecisa" quatro dias atrás. Apenas a mudança introduzida em 2003 foi condenada e suspensa em decorrência de auditoria interna realizada em setembro de 2004, informou o banco.
Na sexta-feira, em dura manifestação contra as conclusões da CPI, o BB afirmou que o adiantamento de verbas do Fundo de Incentivo Visanet ocorria desde 2001 e que uma auditoria interna "constatou que tal prática poderia propiciar falhas processuais e vulnerabilidades de controle".
Os pagamentos antecipados à DNA sem prévia comprovação de gastos foram interpretados pelo relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), como um favorecimento à agência do publicitário mineiro que operou o caixa dois do PT. A nota do banco também negava a possibilidade de desvio de recursos superior a R$ 9,1 milhões. Serraglio falou em desvio de "pelo menos" R$ 10 milhões.
O destino do dinheiro, no entanto, ainda é objeto de uma auditoria interna do BB que já dura mais de três meses. Segundo o presidente do banco, Rossano Maranhão, o resultado das investigações está em aberto: "Ninguém sabe se os trabalhos de auditoria do BB e da CPI não vão convergir por ângulos diferentes", disse ontem.
A nota da sexta marcou uma mudança de tom em relação à manifestação da véspera. Numa primeira reação, o BB dizia condenar "eventuais desvios que possam ter ocorrido na destinação desses recursos [destinados à publicidade]". A segunda nota só mencionava eventuais desvios de conduta de funcionários.
Porta-voz dos ataques do governo contra as conclusões de Serraglio, o deputado Carlos Abicalil (PT-MT) informou ontem, por meio de sua assessoria, que apenas divulgara informações transmitidas a ele pelo BB. Pizzolato não foi localizado ontem.


Colaborou Sheila D'Amorim, da Sucursal de Brasília


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