São Paulo, quarta-feira, 09 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ AVISO FEDERAL

Servidores reclamam de a instituição ter virado "bandeira política" do governo e de falta de estrutura; atos ocorreram em cinco Estados

PF protesta e diz não ser "moleques de recado"

MARCELO SALINAS
MICHELE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO

Servidores da Polícia Federal fizeram ontem uma "paralisação de advertência" em cinco Estados para exigir melhores condições de trabalho e para protestar contra o uso político que, segundo os organizadores do ato, o governo federal vem fazendo da instituição.
Sem uma pauta de reivindicações específica, os líderes do protesto consideram que a PF está sendo tratada como "moleque de recado" pelo governo. Segundo representantes sindicais dos servidores, a estrutura presente nas megaoperações divulgadas pela mídia não correspondem à realidade da instituição.
"Tem sido muito bom para o governo usar a Polícia Federal como equilíbrio para o desgaste que vem sofrendo. É raro um discurso do presidente Lula em que ele não cite as ações da PF. Mas como podemos dar seguimento às grandes operações se há quatro peritos disputando um computador?", afirmou ontem o delegado Armando Coelho Neto, presidente da Federação Nacional dos Delegados da Polícia Federal.
Seis entidades sindicais assinaram uma nota em que "denunciam a realidade da instituição" (leia trechos nesta página).
Para Coelho Neto, a PF é vítima da falta de estrutura em casos divulgados recentemente, como o desaparecimento de 136 quilos de cocaína da Superintendência da Polícia Federal em São Paulo.
"Não há estrutura de controle efetivo sobre os materiais apreendidos em operações, como armas, drogas e contrabando, porque faltam peritos, computadores, sistemas de vigilância interna", disse ele, que cobra uma sinalização positiva do governo até o dia 15.
Até lá, segundo disse, estarão em "estado de vigília" para articular com as bases um protesto nacional, caso não sejam atendidos pelo Ministério da Justiça, que não comentou a paralisação.
A "falta de estrutura" é exemplificada por Francisco Sabino, presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Federal do Estado. "Os policiais às vezes têm de contribuir com combustível, comprar a munição e a própria arma. Usamos nossos próprios celulares e temos de comprar o Nextel para comunicação, porque, senão, ficamos ilhados. As imagens das operações são lindas, mas não correspondem à realidade, pelo menos não aqui em São Paulo."
Enquanto isso, afirma ele, "o Márcio Thomaz Bastos [ministro da Justiça] inaugura uma delegacia na cidade natal dele [Cruzeiro, interior de São Paulo]".

"Operação padrão"
Segundo os organizadores do ato de ontem, houve paralisações em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Espírito Santo, no Rio Grande do Sul e em Alagoas. Na Superintendência Regional do Rio, o serviço de emissão de passaportes foi interrompido à tarde. No aeroporto Santos Dumont, a "operação padrão" resultou em longas filas. Nessa operação, segundo os organizadores, os agentes fazem o controle que deveria ser feito em embarques e desembarques, mas não acontece por falta de agentes.
Em São Paulo, foram realizados protestos nos aeroportos de Guarulhos e de Congonhas. Em Guarulhos, o público não foi afetado, pois o movimento de passageiros foi baixo. Na Superintendência da PF em São Paulo, onde há emissão de passaportes, os delegados cruzaram os braços pela manhã.


Colaborou a Sucursal do Rio

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