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Araponga afirma que grampo no BNDES partiu de empresários
Adilson Alcântara Matos diz que é "ridícula" a tese de que o governo FHC coordenou a escuta por intermédio da Abin
Dez anos após a descoberta dos grampos ilegais no banco, só duas pessoas foram condenadas: Matos
e um funcionário da Abin
DA SUCURSAL DO RIO
Condenado pela Justiça Federal pela execução do grampo
telefônico no BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), por ocasião da privatização da Telebrás, em 1998, o araponga Adilson Alcântara de Matos, 45, diz
não ter dúvida de que a escuta
foi encomendada por empresários, e não pelo governo, como
sustentou, na época, o Ministério Público Federal.
Dez anos após a descoberta
dos grampos -que derrubaram
o então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça
de Barros, e parte da cúpula do
BNDES-, só duas pessoas foram condenadas: Temilson Antônio Resende, funcionário da
Abin (Agência Brasileira de Inteligência), e Adilson Matos. A
existência do grampo no
BNDES foi revelada pelo jornalista Elio Gaspari, em sua coluna, em 8 de novembro de 1998.
(ELVIRA LOBATO)
FOLHA - Qual foi sua participação
no grampo no BNDES?
ADILSON ALCÂNTARA DE MATOS -
Absolutamente nenhuma. Indiciaram e condenaram a pessoa errada.
FOLHA - Quem fez o grampo?
MATOS - Eu acho que a autoria
nunca vai ser esclarecida porque não há interesse que seja
descoberta. Quando o caso estourou, o grampo tinha sido retirado fazia tempo. Foi um crime perfeito, sem rastro.
FOLHA - Em sua opinião, o grampo
foi encomendado por empresários?
MATOS - Tudo indica que foi. O
governo é que não foi. É ridícula a suposição do Ministério
Público Federal, de que o grampo tenha sido feito pela Abin, a
mando do governo. O governo
tinha interesse em que um grupo ganhasse com a participação
da Previ. Iria produzir prova
contra ele mesmo? Aquilo foi
meramente empresarial, para
que o governo cedesse.
E foi para o bem da nação.
Mostrou que coisas erradas estavam acontecendo. Depois da
privatização, a Kroll e a Telecom Italia espionaram, com resultado ridículo. Se pensar
bem, o grampo tupiniquim foi o
de melhor qualidade. E digo
mais: só vazou uma pequena
parte do que foi gravado. Todos
sabem que o grosso não vazou e
que poderia ter causado um estrago federal.
FOLHA - O sr. ouviu alguma fita
que não foi divulgada?
MATOS
- Não, mas ouvi comentários sobre o conteúdo.
FOLHA - Quanto o sr. calcula que
custou o grampo no BNDES?
MATOS - Falaram em US$ 10
milhões, na época, mas essa cifra é inverossímil.
FOLHA - Pelo seu conhecimento da
atividade, quantas pessoas teriam
feito o grampo no BNDES?
MATOS - Posso afirmar que não
foram usadas mais do que três
pessoas: o intermediário, que
negociou com o contratante, o
técnico que fez o grampo e um
auxiliar, para trocar as fitas.
Hoje em dia não se usam mais
fitas. Antes era preciso trocar a
fita a cada hora.
FOLHA - O gravador ficava dentro
do BNDES? Havia uma pessoa lá trocando as fitas a cada hora?
MATOS - Claro que não ficava
dentro do BNDES. Isso seria
uma coisa da idade da pedra, da
idade do byte lascado. Não se
usa isso.
FOLHA - O inquérito concluiu que o
grampo foi feito dentro do BNDES,
por causa da qualidade do som.
MATOS - (rindo) Na minha opinião, ele errou. Minha conclusão é que o grampo foi feito
dentro da companhia telefônica. Toda a comunidade de informação sabe que a comunicação dos prédios do BNDES, da
Petrobras e da Caixa Econômica Federal, no centro do Rio,
passa por uma central telefônica localizada na praça Tiradentes [no centro do Rio de Janeiro] e que grampos dessa natureza são feitos na central.
FOLHA - Como é feito o grampo a
partir da central?
MATOS - Com uma extensão da
linha grampeada para um local,
que a gente chama de ninho,
onde as conversas são gravadas.
Para descobrir o grampo é preciso ir aonde fica a central e
abrir o distribuidor geral. E não
houve perícia na central.
FOLHA - O grampo é colocado por
funcionários da empresa telefônica?
MATOS - Exatamente. O que
matou a investigação foi a insistência do Ministério Público
Federal em querer dar conotação política ao caso, em dizer
que o grampo era coisa institucional.
FOLHA - Esse caso serviu para alguma coisa? Inibiu a arapongagem?
MATOS - Serviu para institucionalizar o grampo.
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