São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2008

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Araponga afirma que grampo no BNDES partiu de empresários

Adilson Alcântara Matos diz que é "ridícula" a tese de que o governo FHC coordenou a escuta por intermédio da Abin

Dez anos após a descoberta dos grampos ilegais no banco, só duas pessoas foram condenadas: Matos e um funcionário da Abin

DA SUCURSAL DO RIO

Condenado pela Justiça Federal pela execução do grampo telefônico no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), por ocasião da privatização da Telebrás, em 1998, o araponga Adilson Alcântara de Matos, 45, diz não ter dúvida de que a escuta foi encomendada por empresários, e não pelo governo, como sustentou, na época, o Ministério Público Federal. Dez anos após a descoberta dos grampos -que derrubaram o então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, e parte da cúpula do BNDES-, só duas pessoas foram condenadas: Temilson Antônio Resende, funcionário da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), e Adilson Matos. A existência do grampo no BNDES foi revelada pelo jornalista Elio Gaspari, em sua coluna, em 8 de novembro de 1998.
(ELVIRA LOBATO)

FOLHA - Qual foi sua participação no grampo no BNDES?
ADILSON ALCÂNTARA DE MATOS
- Absolutamente nenhuma. Indiciaram e condenaram a pessoa errada.

FOLHA - Quem fez o grampo?
MATOS
- Eu acho que a autoria nunca vai ser esclarecida porque não há interesse que seja descoberta. Quando o caso estourou, o grampo tinha sido retirado fazia tempo. Foi um crime perfeito, sem rastro.

FOLHA - Em sua opinião, o grampo foi encomendado por empresários?
MATOS
- Tudo indica que foi. O governo é que não foi. É ridícula a suposição do Ministério Público Federal, de que o grampo tenha sido feito pela Abin, a mando do governo. O governo tinha interesse em que um grupo ganhasse com a participação da Previ. Iria produzir prova contra ele mesmo? Aquilo foi meramente empresarial, para que o governo cedesse. E foi para o bem da nação. Mostrou que coisas erradas estavam acontecendo. Depois da privatização, a Kroll e a Telecom Italia espionaram, com resultado ridículo. Se pensar bem, o grampo tupiniquim foi o de melhor qualidade. E digo mais: só vazou uma pequena parte do que foi gravado. Todos sabem que o grosso não vazou e que poderia ter causado um estrago federal.

FOLHA - O sr. ouviu alguma fita que não foi divulgada?
MATOS
- Não, mas ouvi comentários sobre o conteúdo.

FOLHA - Quanto o sr. calcula que custou o grampo no BNDES?
MATOS
- Falaram em US$ 10 milhões, na época, mas essa cifra é inverossímil.

FOLHA - Pelo seu conhecimento da atividade, quantas pessoas teriam feito o grampo no BNDES?
MATOS
- Posso afirmar que não foram usadas mais do que três pessoas: o intermediário, que negociou com o contratante, o técnico que fez o grampo e um auxiliar, para trocar as fitas. Hoje em dia não se usam mais fitas. Antes era preciso trocar a fita a cada hora.

FOLHA - O gravador ficava dentro do BNDES? Havia uma pessoa lá trocando as fitas a cada hora?
MATOS
- Claro que não ficava dentro do BNDES. Isso seria uma coisa da idade da pedra, da idade do byte lascado. Não se usa isso.

FOLHA - O inquérito concluiu que o grampo foi feito dentro do BNDES, por causa da qualidade do som.
MATOS
- (rindo) Na minha opinião, ele errou. Minha conclusão é que o grampo foi feito dentro da companhia telefônica. Toda a comunidade de informação sabe que a comunicação dos prédios do BNDES, da Petrobras e da Caixa Econômica Federal, no centro do Rio, passa por uma central telefônica localizada na praça Tiradentes [no centro do Rio de Janeiro] e que grampos dessa natureza são feitos na central.

FOLHA - Como é feito o grampo a partir da central?
MATOS
- Com uma extensão da linha grampeada para um local, que a gente chama de ninho, onde as conversas são gravadas. Para descobrir o grampo é preciso ir aonde fica a central e abrir o distribuidor geral. E não houve perícia na central.

FOLHA - O grampo é colocado por funcionários da empresa telefônica?
MATOS
- Exatamente. O que matou a investigação foi a insistência do Ministério Público Federal em querer dar conotação política ao caso, em dizer que o grampo era coisa institucional.

FOLHA - Esse caso serviu para alguma coisa? Inibiu a arapongagem?
MATOS
- Serviu para institucionalizar o grampo.


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