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Congresso esvaziado tem desempenho pífio
Em ano eleitoral, Câmara e Senado aprovaram só duas propostas de emenda constitucional; MPs ajudaram a travar a pauta
Problemas internos, como
o nepotismo, CPIs e o caso
dos cartões corporativos também tomaram o tempo dos congressistas neste ano
ADRIANO CEOLIN
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de ter como principal
função legislar e fiscalizar, o
Congresso gastou neste ano,
mais uma vez, suas energias
com problemas internos e disputas políticas que tiveram resultados nulos em vez de aprovação de reformas constitucionais e projetos de relevância.
Se no ano passado as preocupações giraram em torno do escândalo envolvendo Renan Calheiros (PMDB-AL) e a renovação da CPMF, neste ano a Câmara e o Senado acabaram por
concentrar seus esforços nas
questões dos cartões corporativos e do nepotismo.
As eleições e a obrigatoriedade de apreciação de MPs (medidas provisórias) fizeram com
que o desempenho do Congresso fosse pífio por mais um ano.
Até agora, tanto a Câmara
quanto o Senado votaram apenas duas PECs (propostas de
emenda constitucional).
A votação de uma PEC é um
importante indicativo sobre se
o Congresso trabalhou ou não,
já que, para aprová-la, é necessário o aval de 308 deputados e
41 senadores. Por sua vez, as
MPs precisam apenas do voto
da maioria dos presentes.
Apesar de as eleições terem
atrapalhado as votações, apenas 96 dos 594 congressistas
disputaram o pleito como candidatos. Mesmo assim, nas semanas que antecederam o primeiro e o segundo turnos, Câmara e Senado praticamente
não trabalharam.
Ainda assim, a maioria dos
congressistas que tentaram se
tornar prefeitos fracassou. Dos
96 que se candidataram, só 30
conseguiram se eleger. No Senado, o resultado foi pior: os
três senadores que disputaram
nem foram ao segundo turno.
Justificativas
Com um mandato tampão
conquistado após a renúncia de
Renan, o presidente do Senado,
Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), reconheceu que o trabalho foi comprometido pelo excesso de MPs, eleições e o desgaste com CPIs e o nepotismo.
"Principalmente no meu caso, que peguei o bonde andando, é difícil fazer com que se
prevaleça a regulamentação
das MPs", disse Garibaldi. "Sou
o primeiro a reconhecer que
nós perdemos muito tempo
com as CPIs. Elas frustraram o
Senado e a opinião pública."
Na Câmara, as MPs votadas
neste ano representam mais de
50% do total de proposições
apreciadas em 2008. Foram 48
até agora, contra 39 projetos de
lei, duas propostas de emenda
constitucionais e seis projetos
de lei complementar.
Na semana que vem, os deputados terão a missão de votar
mais uma MP, a 443, editada
pelo governo para autorizar o
Banco do Brasil e a Caixa a adquirirem instituições financeiras em dificuldades. A proposta
tem total prioridade no Congresso, sendo que os líderes do
governo abriram mão de votar
outros projetos que tramitavam em regime de urgência.
No primeiro ano de Arlindo
Chinaglia (PT-SP) à frente da
presidência da Câmara, o número de medidas provisórias
foi ainda maior. Do total de 92
matérias apreciadas em 2007,
61 eram MPs, o que representa
66%. A comparação de 2008
com o penúltimo ano eleitoral,
2004, não é muito diferente.
Foram mais MPs (88), mas
também mais propostas apreciadas (127).
Ou seja, do total de projetos
aprovados durante os dois anos
de Chinaglia na presidência da
Casa, foram 58% de MPs. Para
abrir caminho para o Legislativo, ele tentou, durante todo o
segundo semestre deste ano,
colocar na pauta a proposta que
altera o rito de tramitação das
MPs. Por falta de acordo em
torno do texto final, no entanto, a tentativa fracassou.
No segundo semestre -sobretudo no Senado-, os congressistas se desgastaram ao se
deparar com a súmula do STF
(Supremo Tribunal Federal),
editada em agosto deste ano,
que determinou a demissão de
parentes até terceiro grau.
Em junho, o primeiro-secretário do Senado, senador
Efraim Morais (DEM-PB), articulou a criação de mais um cargo de confiança, com salário de
R$ 10 mil, para cada um dos 97
gabinetes da Casa. Em agosto, a
Folha revelou que ele mantinha sete parentes sob seu comando, entre eles, a filha.
Após a decisão do Supremo,
Efraim demitiu todos seus parentes, mas seus colegas resistiram -o que levou Garibaldi Alves a cobrar a exoneração de todos. Ele disse que o episódio o
desgastou. "Aquilo me deu
muitos aborrecimentos que,
graças a Deus, estão sendo superados", afirmou.
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