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MARKETING
Duda Mendonça avalia que fenômeno Roseana é obra do "eleitor-turista"
Marqueteiro de Lula vê em
Serra seu maior adversário
Arquivo pessoal
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Duda Mendonça durante o "Caminho de Santiago", na região da Galícia, Espanha, em 1999 |
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O fenômeno Roseana é obra do
"eleitor-turista", que não quer
Lula e pula de candidato em candidato. O PT "intelectualizou demais suas mensagens" e "deve falar mais para o povão". Apesar de
não ter cumprido as promessas
sociais, FHC terá lugar "na galeria
de um grande presidente". Serra é
"o melhor candidato do governo". Essas são as opiniões de Duda Mendonça, publicitário que,
aos 57 anos, está lançando o livro
"Casos & Coisas", [ver texto abaixo" no momento em que se prepara para fazer a sua primeira
campanha presidencial e a quarta
de Luiz Inácio Lula da Silva.
"Minha consciência de alguma
forma reclamava isso", diz, explicando por que está com o PT. Duda começou fazendo campanhas
para a oposição baiana, ainda no
regime militar. Transformou-se
em estrela do marketing político
ao eleger em 1992 o então "inelegível" Paulo Maluf (PPB) prefeito
de São Paulo. Ao todo, fez cinco
campanhas malufistas.
A mudança aconteceu em 1999,
depois de uma viagem a Santiago
da Compostela -cidade da região de Galícia, na Espanha, à qual
chegam religiosos e místicos, como Duda, depois de uma caminhada de cerca de 800 km, partindo da França.
Ao analisar a sucessão presidencial do ano que vem, o publicitário avalia que o eleitorado está dividido em três fatias. Uma delas,
com 32%, 33%, "já decidiu votar
em Lula". Os indecisos somam
35%, 37%. Duda diz que a terceira
fatia, de cerca de 30%, é a do "eleitor-turista". E afirma que "grande
parte desse eleitorado parece ter
parado na Roseana", pefelista que
governa o Maranhão.
Para Duda, o "eleitor-turista" já
deu intenção de voto a Ciro Gomes (PPS) e aos governadores Itamar Franco (PMDB-MG) e Anthony Garotinho (PSB-RJ). Ou
Roseana segura esse eleitorado,
ou parte dele pode migrar para o
ministro da Saúde, José Serra,
acredita Duda.
"Na hora que sair o Serra, por
ser o candidato do presidente Fernando Henrique [Cardoso", da
máquina, ele vai ganhar logo quatro ou cinco pontos percentuais."
Folha - Quanto custará uma campanha do Duda Mendonça para o
PT?
Duda - Não tratei disso com o
PT, porque oficialmente não há
candidato. Não abro mão de ter
uma estrutura competitiva. Fiz
dois programas para o PT, que
custaram mais ou menos R$ 300
mil cada um. Não ganhei. Se ganhei, foi porcaria. Ganho de outro
jeito. Eu queria fazer. A minha
consciência de alguma forma reclamava isso. As campanhas do
começo da minha carreira foram
para a oposição. Fiz movimento
estudantil. Enfim, é algo mais
próximo de minha origem. Depois do caminho de Santiago da
Compostela, tive um tempo para
parar e me articular com minhas
metas de vida.
Folha - O sr. elegeu Maluf após seguidos fracassos. Fará o mesmo
com Lula?
Duda - Há muita chance de o Lula ganhar. A coisa mais importante na eleição não é o candidato,
mas o momento político. O momento político de hoje é muito
bom para o Lula.
Folha - Qual é o nome governista
mais forte para disputar?
Duda - O Serra. Eu apostaria todas as minhas fichas de que o candidato será ele. É o melhor candidato que o governo tem. Acho
que o grid de largada será Lula,
Serra, Ciro e o Enéas [Carneiro,
do Prona". Eventualmente a Roseana pode entrar, se houver uma
ruptura entre o PFL e o PSDB, no
que eu não acredito.
Folha - O fenômeno Roseana é
uma bolha ou pode se consolidar?
Duda - Há um eleitorado hoje de
32%, 33% que já decidiu votar no
Lula. Há uns 35%, 37% de indecisos. E há uns 30% que não querem o Lula. Dentro desses 30%,
tem uma parte maior que pode ir
para o candidato do governo e
uma menor para um não identificado com o governo.
Esses 30% de eleitores estão rodando. No começo, foi para o Ciro, depois para o Itamar, uma
parte foi para o Garotinho. Agora,
grande parte parece ter parado na
Roseana. Esse é o eleitor-turista.
Na hora que sair o Serra, por ser o
candidato do presidente, da máquina, ele vai ganhar logo quatro
ou cinco pontos percentuais da
Roseana e encostar ou passar a
Roseana.
Folha - No livro, o sr. diz que o PT
tem de aprender a trabalhar melhor a forma. Na sua opinião, esse é
o maior defeito do PT?
Duda - No livro, a primeira parte
é minha visão de fora do PT. Na
segunda parte, fiquei parado cinco meses, justamente o tempo em
que fui chamado pelo PT.
Numa campanha na TV, a forma é mais importante do que o
conteúdo. A linguagem não-verbal é muito importante: o jeito de
falar, a cara, o brilho no olho.
O PT também precisa fazer um
discurso menos intelectualizado.
O Lula deve falar mais para o povão, aproximar-se mais do povão.
O PT intelectualizou demais suas
mensagens e se fechou. No último
programa de TV do partido, botei
"no fundo, no fundo, você é um
pouco PT". Fiz isso por achar que
aqueles que são "muito PT" nos
levam ao segundo turno, mas para ganhar precisamos daqueles
que são "um pouco PT".
Folha - FHC terminará o mandato
com popularidade e terá destaque
na história?
Duda - O julgamento imediato
não será dos melhores. Mas, no
longo prazo, ele fica na galeria de
um grande presidente.
Folha - Por quê?
Duda - De alguma forma, ele
cumpriu etapas. É um homem
sensato, cordato, não causou
grandes crises políticas. Se não é
um grande executivo, teve a conquista de segurar a inflação, ainda
que a um preço muito alto. Faltaram os grandes investimentos sociais prometidos. A etapa de olhar
para o social poderá ser cumprida
com muito sucesso pelo Lula.
Folha - Como será o candidato Lula em 2002?
Duda - O que ele sempre foi, um
líder autêntico. Ser presidente é
uma missão. Ele não vai governar
de olho em pesquisa, vai olhar
mais para o Brasil do que para a
sua imagem. Essa é a grande diferença do Lula. Quer ser presidente, mas não a qualquer preço. É
um homem confiável. É avô, tem
mais de 50 anos, não é um aventureiro, não é um cometa.
Folha - No livro, o sr. fala como
defendia Maluf muitas vezes acima
de limites profissionais. Ao falar do
PT, o sr. mostra certo engajamento. Como conciliar um engajamento que vai de Maluf ao PT?
Duda - Quando fiz Maluf, era
movido por um desafio. Era um
profissional com uma empresa
pequena. Queria ganhar e eleger o
cara que ninguém elegeu. O caso
do Lula é muito mais maduro e ligado à ideologia. Com Maluf, tinha de puxá-lo para o social. A característica dele eram as obras e
uma imagem polêmica. O Lula eu
não preciso puxar para nada.
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