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JANIO DE FREITAS
Os viajantes
É muito original a idéia de
Luiz Inácio Lula da Silva
de, em pessoa, apresentar a miséria a um punhado de integrantes do seu governo, embora
alguns deles já tenham arriscado até a vida para combatê-la e,
como ficou dito aqui, mais lógico seria o governo composto de
conhecedores, ao menos testemunhais, da miséria.
A visita olímpica, bate na borda e volta depressa, nada instruirá a quem ainda hoje, vivendo em país com 54 milhões de
pobres -número oficial deixado pelo governo Fernando Henrique-, ainda precise ser forçado para um primeiro olhar a
um núcleo de pobreza.
Esse tipo de viagem só tem resultado propagandístico. E Lula
não precisa de mais exposição
propagandística do que vem
tendo, motivada pela emoção
popular autêntica e pura e pela
autenticidade de sua resposta a
essa manifestação.
Anuncia-se que decidiu ir à
reunião dos donos da riqueza
espalhada pelo mundo, o mal
denominado Fórum Econômico
Mundial em Davos, na Suíça, e
à reunião do Fórum Social
Mundial em Porto Alegre, no
qual se representam as idéias
críticas à situação do mundo.
Davos é um convescote promovido a ouro, do qual jamais
saiu alguma coisa útil para um
país e muito menos para o mundo, nem mesmo uma ideiazinha
aproveitável. É uma farsante
troca de informações, análises e
previsões que nunca precisam
de mais tempo para desmoralizar-se, seja logo pela obviedade,
seja pelo bestialógico charlatão,
como é próprio das grandes previsões econômicas ou políticas.
O que Lula tenha a dizer aos
de Davos, se é que possa ter, caberia muito bem uma mensagem: nada há que não posso, ou
deva, dizer daqui. Em pessoa,
será uma curiosidade: para alguns, o operário-presidente, que
coisa inacreditável; para outros,
até mesmo como simples operário, que nunca viram de perto,
como certos ministros que, dizem, só agora vêem a pobreza.
No PT e nas "esquerdas" há
reações aborrecidas à ida de Lula a Davos, louvada, porém, sua
ida ao Fórum Social. Mas não
há razão, também, para sua ida
a esse fórum. Vai prestigiar os
adversários da situação mundial? É inimaginável que precise
mostrar por palavras sua posição a respeito, quando bem estará em Brasília para transformá-la em atos que estão sendo esperados. O Fórum Social ainda é
uma grande feira de esquerdismos, neohippismos e protestismos que, ou encontra modos de
se tornar instrumento de consequências, ou tenderá a ser um
evento de folclore político.
Fórum de Davos e Fórum de
Porto Alegre: duas viagens cujos
únicos propósitos perceptíveis
são propagandísticos. Ao fim de
oito anos de viagens inúteis,
aquelas só para turismo e relações de promoção pessoal, acabar com todas as viagens dispensáveis é também introduzir
mudança -com sentido moral,
administrativo e econômico.
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