São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2004

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TERRA DIVIDIDA

Moradores exibem faixas contra ONGs e criticam suposta "internacionalização da Amazônia"

Boa Vista se mobiliza contra estrangeiros

MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA

JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA

Em Boa Vista, não se vê nenhuma manifestação dos grupos que apóiam a homologação da reserva indígena. Fazendeiros, comerciantes e servidores públicos repetem um discurso xenófobo contra os "religiosos estrangeiros" e as ONGs que trabalham por uma suposta "internacionalização" da Amazônia.
Nas ruas de Boa Vista, vários carros e táxis circulam com as inscrições "Xô Funai", "Fora ONGs" e "100% Roraima". Garotas com camisetas da Associação dos Municípios de Roraima escrevem os dizeres com canetas hidrográficas nos vidros dos carros. Nas ruas, é possível ver faixas estendidas com mensagens do tipo "Brasil para brasileiros".
"Sou contra a expulsão de gente que está lá [na área destinada à reserva] há 20, 30 anos. Quem defende isso são os padres estrangeiros e as ONGs", disse o taxista Uilton Souza, mineiro que mora há 23 anos em Roraima e há oito em Boa Vista.
Outro alvo dos protestos é a Funai, criticada pelos índios que apóiam os fazendeiros. Esses grupos dizem preferir a convivência com "os brancos" à "tutela da Funai e dos padres": "A convivência com não-índios já existe há séculos. Queremos os mesmos direitos de todos os brasileiros, trabalhar no que quiser, pedir um empréstimo sem precisar da autorização da Funai", disse Jonas Marcolino, da Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima. Ex-vereador, ele é filiado ao PFL.
"Não queremos ficar isolados. Não temos vergonha em dizer que somos aliados dos municípios, do Estado, dos fazendeiros", disse Marcolino. "Os outros índios são controlados pela diocese. Seguem as diretrizes ditadas por ONGs e religiosos."
Já os índios que defendem a reserva contínua acusam seus adversários de estarem sendo manipulados: "Eles estão sendo usados pelos fazendeiros, pelos prefeitos e pelo governador. É só observar essa manifestação. Como esses índios conseguem fretar tantos ônibus e caminhões?", disse Jacir José da Silva, coordenador do Conselho Indígena de Roraima (entidade ligada à Igreja Católica). Ele diz que uma reserva não-contínua é inviável.
"Já vimos que não conseguimos viver junto com os fazendeiros. Eles [fazendeiros] acabam destruindo lagos e igarapés, envenenam as águas", diz Jacir.


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