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TERRA DIVIDIDA
Moradores exibem faixas contra ONGs e criticam suposta "internacionalização da Amazônia"
Boa Vista se mobiliza contra estrangeiros
MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA
Em Boa Vista, não se vê nenhuma manifestação dos grupos que apóiam a homologação
da reserva indígena. Fazendeiros, comerciantes e servidores
públicos repetem um discurso
xenófobo contra os "religiosos
estrangeiros" e as ONGs que trabalham por uma suposta "internacionalização" da Amazônia.
Nas ruas de Boa Vista, vários
carros e táxis circulam com as
inscrições "Xô Funai", "Fora
ONGs" e "100% Roraima". Garotas com camisetas da Associação dos Municípios de Roraima
escrevem os dizeres com canetas
hidrográficas nos vidros dos carros. Nas ruas, é possível ver faixas estendidas com mensagens
do tipo "Brasil para brasileiros".
"Sou contra a expulsão de gente que está lá [na área destinada à
reserva] há 20, 30 anos. Quem
defende isso são os padres estrangeiros e as ONGs", disse o
taxista Uilton Souza, mineiro
que mora há 23 anos em Roraima e há oito em Boa Vista.
Outro alvo dos protestos é a
Funai, criticada pelos índios que
apóiam os fazendeiros. Esses
grupos dizem preferir a convivência com "os brancos" à "tutela da Funai e dos padres": "A
convivência com não-índios já
existe há séculos. Queremos os
mesmos direitos de todos os
brasileiros, trabalhar no que quiser, pedir um empréstimo sem
precisar da autorização da Funai", disse Jonas Marcolino, da
Sociedade de Defesa dos Índios
Unidos do Norte de Roraima.
Ex-vereador, ele é filiado ao PFL.
"Não queremos ficar isolados.
Não temos vergonha em dizer
que somos aliados dos municípios, do Estado, dos fazendeiros", disse Marcolino. "Os outros índios são controlados pela
diocese. Seguem as diretrizes ditadas por ONGs e religiosos."
Já os índios que defendem a reserva contínua acusam seus adversários de estarem sendo manipulados: "Eles estão sendo
usados pelos fazendeiros, pelos
prefeitos e pelo governador. É só
observar essa manifestação. Como esses índios conseguem fretar tantos ônibus e caminhões?",
disse Jacir José da Silva, coordenador do Conselho Indígena de
Roraima (entidade ligada à Igreja Católica). Ele diz que uma reserva não-contínua é inviável.
"Já vimos que não conseguimos viver junto com os fazendeiros. Eles [fazendeiros] acabam destruindo lagos e igarapés,
envenenam as águas", diz Jacir.
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