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Prisão não vai abalar crença, afirmam fiéis
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os fiéis presentes aos cultos
de ontem na Igreja Evangélica
Apostólica Renascer em Deus
do Cambuci (região central)
afirmaram que a prisão do casal
de pastores Sônia e Estevam
Hernandes não abalou em nada
sua crença na religião.
"Venho aos cultos pelas graças que eu alcancei, pelo que
aconteceu comigo e eu vivenciei, e não por causa de coisas
que me disseram ou que eu li
nos jornais", diz a dona de casa
Elizabeth (nome fictício), 34,
sentada na segunda fila do
principal templo da igreja, na
rua Lins de Vasconcellos.
Outras fiéis acomodadas por
perto concordam com a cabeça.
Foram dois cultos ontem, um
às 18h, outro às 19h30. No primeiro, havia em torno de 60
pessoas no templo, cuja capacidade é de cerca de duas mil.
Praticamente aos gritos, pastora Orliene prega: "Mesmo
quando há apenas três pessoas,
gente, pode acreditar, Cristo
está ali! Amém!".
Entre uma assertiva e um
conselho, ela cita o nome da
pastora Sônia e do marido, defendendo-os. "O Estêvão [primeiro mártir cristão] foi apedrejado, São João Batista teve a
cabeça cortada, mas nós continuamos aqui porque Jesus sabe
a verdade", ela diz, num tom
crescente, após recolher os envelopes com as doações.
O momento parece delicado:
"Quanta porcaria, com o perdão da palavra, tem sido oferecida por aí, quanto prato de lentilha. Aqui, não! O alimento é de
verdade. Não há engano, não há
roubo, só entrega", afirma.
Um presbítero (cargo logo
abaixo do de pastor) aproxima-se querendo saber as intenções
da reportagem, e informa que
no dia anterior dois jornalistas
foram retirados do templo, revistados e presos.
"Tenho a informação de que
o sr. é jornalista. Olha, eu sou
policial e digo: o artigo 15 nos
autoriza a chamá-lo para fora
do templo, revistar sua bolsa e
limpar fitas gravadas e confiscar filmes."
No palco, pastora Orliene usa
com insistência a palavra "limpeza" (referindo-se à alma, ao
espírito). Apesar do tom impositivo, Orliene precisa recorrer
a Jesus para explicar por que
continua pregando depois do
escândalo recente.
Ela afirma: "Jesus também
foi perseguido, execrado, crucificado. Eu me senti tocada por
Ele há vinte anos, e o instrumento foi a Sônia, por quem tenho a maior admiração."
Fora do templo, a desempregada Daniela, 30, diz que já
doou muito dinheiro para a
igreja, mas não se sente lesada
ao imaginar que sua doação pode ter servido para financiar
mansões ou haras. "Não penso
nisso, porque eles fizeram muita benfeitoria nos templos."
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