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DOMINGUEIRA
O século da TV
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo
Como escreveu Otavio Frias
Filho em sua coluna de quinta-
feira, dia 31, o século 20 começou sob o signo utópico da psicanálise, do socialismo e da arte
moderna. Mas, se é verdade que
esses sistemas evoluíram e imprimiram para sempre suas glórias e fracassos na história do
"novecento", sabe-se que foram
gestados no século anterior.
São produtos de uma "episteme" oitocentista, letrada, européia, com raízes iluministas. Um
mundo de conteúdos, estéticas,
filosofias e ideologias que o século 20 acabou por levar ao limite e explodir.
Foi em sua meia-idade, que o
novo século parece ter encontrado a grande arma para romper
com seu antecessor, o meio que
iria se transformar, no final das
contas, em sua maior mensagem: o tubo de imagem.
A partir do advento da televisão e de sua difusão doméstica,
o século 20 começa a livrar-se
definitivamente da herança oitocentista e européia para assumir a face de "american century".
Com a TV, uma nova ordem
cultural passa a impor-se, cada
vez menos baseada no tempo da
letra, cada vez mais no imediatismo da imagem.
A presença de um tubo iluminado no centro da família, com
seu desfile de entretenimento,
informação e alienação -imagem tão difundida pelos anos de
ouro do "american dream"- é
algo já absolutamente estranho
ao mundo de Marx, Freud ou
Cézanne.
Da matriz televisiva deriva o
microcomputador e a Internet,
que o século 20 vai passando
adiante ao nascente 21.
O Brasil "renovado" pelas urnas já tem, ao menos, seu frasista e seu menino maluquinho,
dois pratos cheios para entreter
a mídia.
O primeiro, conhecido pelos
curitibanos, é o falastrão Rafael
Greca, o novo ministro que deixou muita gente indignada com
sua frase sobre o lirismo da pobreza.
É óbvia a inconveniência da
declaração e compreensível a
reação dos críticos. Mas parece
saudável desconfiar tanto dos
que estetizam a pobreza para
ocultar-lhe a política quanto
dos que a politizam sonegando-
lhe a estética.
O outro personagem é o já
mundialmente famoso Itamar
Franco. Que dispensa apresentações.
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