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São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999
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Texto Anterior | Próximo Texto | Índice CASO SIVAM Investigação de conta de diplomata em agência do BB nos EUA visa esclarecer "crescimento patrimonial' Juiz pede quebra de sigilo de embaixador
ABNOR GONDIM da Sucursal de Brasília O juiz da 12ª Vara da Justiça Federal em Brasília, Marcos Vinícius Reis Bastos, pediu à Justiça norte-americana a quebra do sigilo bancário do embaixador Júlio César Gomes dos Santos, ex-chefe do cerimonial do Palácio do Planalto, que tem conta na agência do Banco do Brasil em Nova York. A quebra do sigilo visa concluir investigações iniciadas há três anos pela Polícia Federal sobre supostas vantagens obtidas pelo embaixador para tentar acelerar no Senado a votação do empréstimo de US$ 1,4 bilhão destinado ao projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia). A medida foi requisitada pelo Ministério Público Federal para elucidar "indícios de crescimento patrimonial injustificado" contidos nas declarações de Imposto de Renda de 94 e 95 do embaixador. O embaixador não quer falar sobre o inquérito, que transcorre sob sigilo de Justiça. Desde 1997, Santos trabalha em Roma como representante do Brasil na FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação). Antes de decidir enviar o pedido aos EUA, o juiz da 12ª Vara Federal havia determinado a quebra do sigilo bancário à direção do Banco do Brasil. No dia 11 de dezembro passado, a assessoria jurídica do banco respondeu que não poderia atender a ordem porque a agência de Nova York está submetida à legislação norte-americana. O suposto envolvimento do embaixador na aprovação do empréstimo foi revelado por um grampo instalado ilegalmente pela PF na sua casa em Brasília, a pretexto de investigar um traficante conhecido por "JC". O grampo revelou que Santos viajou de carona em 95 aos EUA num jato de José Affonso Assumpção, dono da Líder Táxi Aéreo. O empresário representava no Brasil a Raytheon, empresa norte-americana contratada para implantar o Sivam. Se tivesse fretado o jato, Santos pagaria hoje R$ 125 mil. O valor do frete do Lear Jet para a viagem aos EUA foi obtido na própria Líder por meio de consulta à central de atendimento. A consulta foi feita em nome da Folha. O cálculo da viagem foi baseado na rota seguida pelo embaixador, que viajou com sua mulher, Flávia -Belo Horizonte, Brasília, Miami, Las Vegas, Washington, Nova York, Boa Vista e Brasília. O dono da Líder e sua mulher acompanharam a viagem a partir dos EUA. No início deste ano, o juiz Bastos determinou a quebra do sigilo bancário, fiscal e dos cartões de crédito do embaixador, de sua mulher e do empresário no Brasil. O Ministério Público investiga se ele recebeu outras vantagens do dono da Líder. Se isso for comprovado, Santos poderá ser processado por corrupção. Por causa da viagem, a PF já indiciou o embaixador sob acusação de praticar o crime de exploração de prestígio, previsto no artigo 322 do Código Penal ("obter, para si ou outrem, vantagem ou promessa a pretexto de influir em funcionário público no exercício da função"). Em uma das conversas grampeadas, o embaixador disse ao dono da Líder que falaria com o então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e perguntou a Assumpção quanto queria o senador Gilberto Miranda (PFL-AM), relator do empréstimo ao Sivam. O embaixador deverá ser também processado com base na Lei de Improbidade Administrativa, por viajar sem autorização oficial. A PF diz ter provas de que ele não estava oficialmentde folga. Por causa do grampo, o então ministro da Aeronáutica, Mauro Gandra, pediu demissão. Ele foi citado na conversa entre o embaixador e Assumpção por ter ter dormido dois dias na casa do dono da Líder em Minas. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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