São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2004

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NO AR

"O rapaz era negro"

NELSON DE SÁ
EDITOR DE ILUSTRADA

Mais duas histórias, para concorrer com a morte dos fiscais do trabalho escravo, na miséria brasileira.
A primeira é do Rio. Na dramatização do Fantástico:
- Ellen, que prefere não revelar o sobrenome, tem 15 anos. Ela pegou um táxi em Benfica. Tinha passado o dia com a mãe e voltava para casa.
Corta para Ellen:
- Uma Blazer mandou o táxi encostar. Revistaram minha bolsa e encontraram dinheiro da minha mãe.
Volta o Fantástico:
- Os policiais pegaram R$ 50, pagaram o táxi e dispensaram o motorista.
Corta para Ellen:
- Eles me ameaçaram de todo jeito, ameaçaram me estuprar, me matar, falaram que eu era prostituta.
Perguntaram se tinha mais, ela disse que sim. Pararam no batalhão, tiraram as fardas, foram até seu prédio e levaram, no total, R$ 2.000.
Segundo o Fantástico, cinco policiais já foram identificados e presos.
Na segunda história, de São Paulo, o horror é maior. Na locução do SPTV:
- O dentista Flávio Santana saiu de casa para levar a namorada ao aeroporto de Guarulhos. Foi encontrado morto três dias depois, pela família, no Instituto Médico Legal.
Ele foi acusado por policiais de tentativa de roubo e reação à prisão. Mas a história não era bem assim:
- A vítima do suposto assalto, um comerciante, disse depois que confundiu Flávio com o assaltante, que ele não reagiu e mesmo assim foi morto. Contou que os policiais montaram uma farsa. Puseram uma arma e sua carteira junto de Flávio, para forjar o assalto.
Foram presos seis policiais, um deles depois de ameaçar uma testemunha.
Fátima Bernardes, do Jornal Nacional, acrescentou depois, sobre Flávio:
- O rapaz era negro.
 
De Lula, ontem no programa Café com o Presidente, sobre um personagem que não se viu na televisão, durante o episódio dos fiscais mortos:
- Eu estive com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e disse a ele que os fazendeiros de bem deste país, aqueles que cumprem as leis, que geram empregos, que geram riquezas e distribuem renda, não podem ficar quietos. É preciso que os bons fazendeiros, os bons empregadores, denunciem também o trabalho escravo, porque senão a sociedade fica confundindo, parecendo que está todo mundo envolvido.
Com a palavra, o ministro.


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