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NO AR
"O rapaz era negro"
NELSON DE SÁ
EDITOR DE ILUSTRADA
Mais duas histórias, para
concorrer com a morte
dos fiscais do trabalho escravo,
na miséria brasileira.
A primeira é do Rio. Na dramatização do Fantástico:
- Ellen, que prefere não revelar o sobrenome, tem 15 anos.
Ela pegou um táxi em Benfica.
Tinha passado o dia com a mãe
e voltava para casa.
Corta para Ellen:
- Uma Blazer mandou o táxi
encostar. Revistaram minha
bolsa e encontraram dinheiro
da minha mãe.
Volta o Fantástico:
- Os policiais pegaram R$ 50,
pagaram o táxi e dispensaram o
motorista.
Corta para Ellen:
- Eles me ameaçaram de todo jeito, ameaçaram me estuprar, me matar, falaram que eu
era prostituta.
Perguntaram se tinha mais,
ela disse que sim. Pararam no
batalhão, tiraram as fardas, foram até seu prédio e levaram,
no total, R$ 2.000.
Segundo o Fantástico, cinco
policiais já foram identificados e
presos.
Na segunda história, de São
Paulo, o horror é maior. Na locução do SPTV:
- O dentista Flávio Santana
saiu de casa para levar a namorada ao aeroporto de Guarulhos. Foi encontrado morto três
dias depois, pela família, no Instituto Médico Legal.
Ele foi acusado por policiais de
tentativa de roubo e reação à
prisão. Mas a história não era
bem assim:
- A vítima do suposto assalto, um comerciante, disse depois
que confundiu Flávio com o assaltante, que ele não reagiu e
mesmo assim foi morto. Contou
que os policiais montaram uma
farsa. Puseram uma arma e sua
carteira junto de Flávio, para
forjar o assalto.
Foram presos seis policiais,
um deles depois de ameaçar
uma testemunha.
Fátima Bernardes, do Jornal
Nacional, acrescentou depois,
sobre Flávio:
- O rapaz era negro.
De Lula, ontem no programa
Café com o Presidente, sobre um
personagem que não se viu na
televisão, durante o episódio dos
fiscais mortos:
- Eu estive com o ministro da
Agricultura, Roberto Rodrigues,
e disse a ele que os fazendeiros
de bem deste país, aqueles que
cumprem as leis, que geram empregos, que geram riquezas e
distribuem renda, não podem
ficar quietos. É preciso que os
bons fazendeiros, os bons empregadores, denunciem também o trabalho escravo, porque
senão a sociedade fica confundindo, parecendo que está todo
mundo envolvido.
Com a palavra, o ministro.
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