São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

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CAMPO MINADO

Um dos irmãos foragidos foi coordenador estadual dos sem-terra

Suspeitos de matar policial foram líderes do MST em PE

Tuca Vieira/Folha Imagem
Vista do assentamento Bananeira, em Quipapá (PE), onde um policial militar foi morto e outro ficou refém no final de semana


FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM QUIPAPÁ E CARUARU (PE)

Os irmãos José Ricardo e José Sérgio Rodrigues, principais suspeitos de envolvimento no assassinato de um soldado da Polícia Militar em um assentamento controlado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) em Quipapá (200 km ao sul de Recife) integraram a cúpula do movimento em Pernambuco.
Sérgio era coordenador estadual, função de maior poder na hierarquia da entidade. Ricardo era coordenador da microrregião de Belém de Maria, no Agreste do Estado. Os dois, que estão foragidos, presidiam ainda associações de trabalhadores rurais em assentamentos onde atuavam.
Ricardo era ainda uma espécie de "proprietário" dentro do MST. Além de uma casa no assentamento Bananeira, onde o policial foi morto, ele dizia ser dono de cinco lotes no assentamento Gulandy, em Belém de Maria. No local, mantinha um rebanho com 70 cabeças de gado.
Segundo o movimento, os dois foram expulsos do MST em novembro passado porque, além de ocuparem irregularmente as casas e as glebas, estariam envolvidos em assaltos e roubo de carga nas regiões onde atuavam.
Para o movimento, os dois são os responsáveis pela morte do policial. O crime no assentamento aconteceu no final da semana passada. Três PMs em trajes civis perseguiam Ricardo e uma mulher, quando entraram no local.
Ricardo pediu socorro, e um grupo de trabalhadores rurais correu para ajudá-lo. No conflito, o soldado Luiz Pereira da Silva foi baleado e morreu. O sargento Cícero Jacinto da Silva foi amarrado e feito refém. O terceiro policial, soldado Adilson Alves Aroeira, fugiu e pediu reforço.
O carro dos PMs -um Fiat branco- foi depredado. Armas e equipamentos da corporação foram tomados e parcialmente devolvidos horas depois. O sargento foi libertado, após a chegada do reforço policial. Ele apresentava sinais de espancamento.
De acordo com o principal líder do MST no Estado, Jaime Amorim, os irmãos usavam o medo e a influência de seus cargos para controlar os trabalhadores rurais. Os dois, declarou, montaram no assentamento de Quipapá uma base para suas articulações.
"Não tenho dúvida de que o grupo de Ricardo matou o soldado", disse ontem Amorim. "O Ricardo estava armado quando entrou no assentamento, e estava acompanhado de dez ou 12 pessoas de sua quadrilha." Amorim disse que os nomes dessas pessoas já foram passados ao Incra.
Amorim acusa Ricardo de tomar de uma assentada a casa em que vivia no local. O ex-dirigente sem-terra teria agido da mesma forma em Belém de Maria para obter os lotes e os animais.
Dos dois irmãos, apenas Sérgio é assentado regularizado. Ele tem uma área no assentamento Pedra Vermelha, em Arcoverde, na divisa entre o Agreste e o sertão.
Os moradores do assentamento de Quipapá tratam Ricardo como um morador do local. Dizem que ele tem uma casa, e que nunca maltratou ninguém. "É boa gente, ajuda muito", disse o presidente da Associação dos Trabalhadores Rurais de Bananeira, Severino Virtuoso da Silva, 39.
"Ele nunca faltou com ninguém, e ninguém nunca ouviu falar que ele era bandido", declarou. Após o crime, Sérgio, Ricardo e a mulher dele desapareceram. Ninguém informou para onde foram.

Outra versão
O presidente da associação contesta a informação da PM, de que os policiais foram cercados e agredidos sem reagir. Segundo ele, os policiais "entraram atirando" no assentamento, perseguindo o carro de Ricardo.
"Não sabíamos que eram policiais, eles não estavam fardados nem se identificaram", afirmou. "Pensamos que eram pistoleiros atirando contra um dos nossos." O líder do assentamento diz que não viu quem matou o soldado.
Segundo Amorim, apenas Ricardo sabia que os homens que o perseguiam eram policiais. "Ele sabia, mas não disse nada para se aproveitar do momento", disse o líder. "Na multidão, fica mais difícil identificar quem fez isso ou aquilo", afirmou.

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