São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

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JANIO DE FREITAS

Os aniversariantes

Sejam quais forem os verdadeiros motivos dos condutores do PT para dispensar uma comemoração histórica hoje, como se esperaria de um partido popular que chega a um quarto de século, a decisão já estava previamente justificada, e não de pouco tempo. A celebração íntima entre uns poucos da cúpula partidária e do governo, quase como um aniversário em família, é muito mais apropriada. Não por discrição, que os 25 anos de um partido de massas não a requereriam. Por uma razão que se impõe a todo o partido e reflete muito além dele: o PT foi privatizado por um pequeno grupo, que o conduz e utiliza sem levar em consideração, seja para o que for, o corpo partidário.
O populismo assistencialista, ou meramente caritativo, do governo petista é mais do que uma modalidade de conservadorismo. É populismo com tonalidade direitista, não muito diferente, na essência, do que foi praticado por um Adhemar de Barros, para exemplificar. O que tem o PT a ver com tal populismo? Ninguém encontraria jamais, por tênue que fosse, uma conexão entre os dois. É em nome do PT e dos petistas, no entanto, que o governo pratica o populismo assistencialista.
Ao assumir o governo, a cúpula do PT pôs em prática, sem nenhum tipo de consulta ou outra consideração ao corpo partidário, um conjunto de políticas que renegam o próprio petismo. Ao primeiro sinal de fidelidade às idéias e à história partidárias, a cúpula organizou a imediata condenação à pena capital na política - a expulsão. O terror se instituiu como método de condução partidária, na relação com as representações do petismo na Câmara, no Senado, nas Assembléias e nos diretórios regionais. Que o digam a hoje prefeita Luizianne, de Fortaleza, o derrotado Raul Pont em Porto Alegre, agora mesmo o deputado Virgílio Guimarães, que responde, como candidato avulso à presidência da Câmara, à arbitrariedade trapaceira que o alijou da indicação pela bancada.
A democracia petista foi-se. Os petistas têm muita dificuldade de percebê-lo, mas o que o grupo privatizador do PT pratica é tê-los como massa de manobra. A analogia parecerá talvez exagerada, mas o PT, de tanta originalidade no passado, em sua prática política de hoje em dia começa a lembrar a sujeição da Arena e do PDS. Ouvir José Genoino e os líderes parlamentares do PT, justificando tudo o que repeliram na vida toda, é ouvir outra vez, freqüentemente até com as mesmas palavras, os "líderes" arenistas que tudo deviam justificar.
O PT ficou mais velho do que a sua idade.
Criado como alternativa para a esquerda alheia ao PCB, o PT privatizado se tornou uma alternativa cômoda e rentável para a direita.

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