São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2000


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CAIXEGO
R$ 5 milhões desaparecidos há um ano e quatro meses são depositados em conta da Fazenda Pública
Dinheiro desviado reaparece em Goiás

LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília

Um ano e quatro meses após terem sumido de forma misteriosa, reapareceram em Goiânia, no dia 3 deste mês, na conta da Fazenda Pública Estadual, os R$ 5 milhões desviados da Caixego (Caixa Econômica de Goiás).
Denúncia do Ministério Público Estadual afirma que o dinheiro foi desviado para a campanha do PMDB nas eleições de 1998. O principal acusado é o coordenador da campanha, Otoniel Carneiro, suplente e irmão do senador Iris Rezende (PMDB-GO).
Assim como o sumiço, a devolução do dinheiro está envolta em mistério. Há uma semana, foi depositado na conta da Fazenda Pública na agência central do Bradesco em Goiânia, pelo ex-subprocurador-geral do Estado Isaías Carlos da Silva, que teria participado do desvio em 1998.
Em ação apresentada à Fazenda Pública, Silva disse que fez o depósito a pedido dos advogados que fecharam um acordo entre a Caixego e seus ex-funcionários naquele ano. O acordo teria sido armado para possibilitar o desvio do dinheiro, segundo diz a denúncia do Ministério Público.
A Caixego havia sido liquidada judicialmente. Por meio de ação trabalhista, 124 ex-funcionários da empresa obtiveram o direito de receber R$ 10 milhões pelas rescisões contratuais.
Um grupo de advogados convenceu os ex-funcionários a aceitar apenas R$ 2,5 milhões. A mesma quantia teria sido distribuída entre os advogados, entre eles Isaías da Silva.
O dinheiro teria sido entregue agora a Silva pelo advogado Valdemar Zaidem, que também participou do acordo e recebeu um cheque de R$ 5 milhões na época.
Zaidem negou ontem que tenha entregue os R$ 5 milhões a Silva e reafirmou que jamais viu esse dinheiro. Disse que endossou o cheque na época do acordo e que o dinheiro teria sido entregue ao liquidante da Caixego, Edivaldo Andrade.
O Ministério Público apurou que Andrade descontou o cheque de R$ 5 milhões, em dinheiro vivo, na tesouraria central do BEG, no dia 21 de outubro de 1998.
Acondicionou as 92.250 cédulas de R$ 100 e R$ 50 em quatro caixas e depositou-as no porta-malas de um Ômega de cor escura que estava estacionado em frente ao banco.
Segundo o Ministério Público, o dinheiro teria sido entregue a Geraldo Bibiano, coordenador financeiro da campanha do PMDB, e repassado à coordenação geral da campanha, que estava a cargo de Otoniel Carneiro.
Andrade teve prisão preventiva decretada em 29 de janeiro do ano passado. Em 5 de março de 99, Carneiro foi preso. Ambos foram soltos no dia 10 de março do ano passado.
Zaidem confirma que recebeu apenas cerca de R$ 400 mil pela participação no acordo. "Não tenho a menor idéia de onde surgiram os R$ 5 milhões. É estranho que surja às vésperas das eleições municipais, para limpar o nome de políticos", disse.
O presidente do PMDB de Goiás, senador Mauro Miranda, afirmou ontem que o surgimento do dinheiro "prova que Otoniel e o PMDB não tiveram nenhuma participação no episódio".
O advogado de Carneiro, Ney Teles, disse que vai pedir que o Ministério Público exclua o seu cliente da denúncia feita à Justiça. O processo está paralisado porque o Tribunal de Justiça ainda não decidiu qual vara será encarregada do caso.
A procuradora Leudelina Angélica Campanhalo, do Ministério Público Estadual, afirmou ontem que o surgimento do dinheiro não encerra o caso. Corrigido pela inflação, o desvio seria de R$ 5,49 milhões hoje. Corrigido pela poupança, estaria em R$ 5,8 milhões.

Incêndio
Em abril de 99, cerca de um milhão de documentos do arquivo-geral do BEG foram destruídos por um incêndio. Houve suspeita de que o ato teria sido criminoso, porém a maior parte dos documentos relativos ao caso já havia sido anexada ao processo ou já teria sido microfilmada.


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