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ADVOCACIA
Criminalista afirma que seu caso mais importante será "o próximo"
Evandro espera pelo próximo caso
FERNANDA DA ESCÓSSIA
LUIZ ANTÔNIO RYFF
enviados especiais a Vitória
Aos 88 anos, 68 de vida profissional, o criminalista Evandro
Lins e Silva tem na ponta dalíngua
a resposta quando perguntado
sobre seu caso mais importante:
"O próximo". Ele diz ter "o vício
da defesa da liberdade".
Na quarta-feira, conseguiu outra vitória na defesa de José Rainha Jr., líder do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Em entrevista à Folha, o advogado se declara socialista e diz ser
esse "o caminho".
Folha - O júri de José Rainha foi o último de sua carreira?
Evandro Lins e Silva - Acredito
que sim, não é? É muito difícil que
haja uma causa de interesse nacional, porque só nesses casos é
que sou procurado. É natural que
hoje os advogados mais moços é
que estejam defendendo as grandes causas. Mas nos casos que
têm uma marca política e ideológica, em geral sou eu o lembrado.
Folha - O sr. classifica o julgamento de Rainha como político?
Lins e Silva - O julgamento tinha na sua raiz o MST, que representa hoje uma força de propaganda, sobretudo, da reforma
agrária. Segue a tradição que vem
do século passado, quando se
aboliu a escravatura. Rui (Barbosa), (Joaquim) Nabuco, Quintino
Bocaiúva achavam que a simples
libertação dos escravos não resolveria. Havia necessidade de uma
reforma agrária para essa gente
ter onde trabalhar, porque senão
os escravos iriam vagar pelas estradas, como realmente aconteceu, e depois voltavam ao eito. O
MST representa essa segunda
parte da libertação dos escravos.
Folha - O sr. apóia o MST?
Lins e Silva - Sou socialista. Não
acredito nessa globalização, que
não deu nenhum resultado brilhante. Ao contrário. Está aí o desemprego, a redução do desenvolvimento industrial e econômico do país, a perda do patrimônio
nacional. Tudo que em um regime socialista não seria praticado.
Folha - Muitos consideram o
socialismo fora de moda...
Lins e Silva - Podem considerar
fora de moda qualquer coisa que
queiram. O caminho é exatamente esse. É o do socialismo. Só o Estado pode realizar de modo imparcial as aspirações do povo e da
coletividade. Temos que pregar a
intervenção do Estado na economia. Sou partidário disso.
Folha - O sr. foi muito criticado
em um caso polêmico: a defesa
de Doca Street (que assassinou
Ângela Diniz em 1979).
Lins e Silva - O problema do crime passional existe. Com a libertação da mulher da canga, que ela
carregou durante milênios, isso
perdeu um pouco a moda. Hoje
em dia o passional é quase um crime de museu. Continuarei sustentando que a paixão desintegra
a saúde mental do apaixonado.
Folha - Outro caso rumoroso
foi o impeachment do presidente Fernando Collor.
Lins e Silva - Não era possível
ter na chefia do governo um homem que comandava uma verdadeira quadrilha e ofendia a moral,
a ética e a dignidade do exercício
da função pública.
Folha - E o que o sr. diria às
pessoas que defendem a saída
de FHC?
Lins e Silva - Ainda não vi prova
estrita de responsabilidade dele.
Se diz, por exemplo, "comprou
deputados para prorrogar o mandato". Cadê a prova disso? É vaga.
Folha - Qual é a sua opinião sobre FHC?
Lins e Silva - Eu tive uma grande
decepção com o governo.
Folha - Que causa o sr. gostaria de ter defendido?
Lins e Silva - Eu tenho o vício da
defesa da liberdade. Não escolho
causas para defender alguém.
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