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CAMPO MINADO
Alerta foi feito por dom Geraldo Majella, presidente da entidade
Brasil não pode esperar por reforma agrária, diz CNBB
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil), dom Geraldo Majella Agnelo, 70, disse "que o Brasil não
pode mais esperar pela reforma
agrária". "O Brasil não pode esperar que se faça um bolo gostoso
para repartir com todo mundo",
disse o cardeal primaz do Brasil.
Ao fazer uma referência a "bolo
gostoso", o cardeal sugeriu que a
população mais carente, como os
sem-terra, não pode esperar pela
retomada do crescimento da economia para que o governo possa
solucionar as questões sociais
mais prementes.
O cardeal voltou a defender a reforma agrária. "Até 30 anos atrás,
80% da população estava no campo. Hoje, acontece exatamente o
contrário, o que é muito mais
preocupante."
De acordo com dom Geraldo
Majella, o crescimento desordenado das grandes cidades é o
principal fator para o elevado índice de desemprego registrado no
Brasil. As declarações do cardeal
foram dadas anteontem à noite,
após participar de uma cerimônia
religiosa, na Catedral Basílica de
Salvador, no Terreiro de Jesus
(centro histórico da cidade).
Na mesma noite, cerca de 12 mil
trabalhadores rurais ligados ao
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) deixavam a propriedade da empresa
Veracel, uma das maiores multinacionais do país, em Porto Seguro (705 km ao sul de Salvador),
que havia sido invadida na madrugada da última segunda-feira.
Os sem-terra destruíram 25
hectares de eucaliptos e plantaram arroz, milho e mandioca.
Após a desocupação, cerca de
1.500 famílias (aproximadamente
6.000 pessoas) retornaram para o
lado de fora da cerca que separa a
estrada da propriedade.
A tomada da fazenda em Porto
Seguro pelos sem-terra ocorreu
dentro da onda de invasões
-chamada de "jornada de luta"
ou de "abril vermelho"- que foi
deflagrada em 27 de março. O objetivo do movimento é pressionar
o governo para apressar a reforma agrária e também lembrar o
assassinato de 19 sem-terra em Eldorado do Carajás (PA), em 1996.
A "jornada de luta " deve seguir
até o próximo dia 17. Desde o dia
10 de março, o MST já invadiu 59
propriedades em todo o país (veja
quadro na página 5).
Fome Zero
Ainda segundo o arcebispo de
Salvador, há coisas mais urgentes,
que necessitam de um rápido
atendimento. "A principal, para
mim, é a questão do emprego. Depois, estão a educação e a saúde,
setores em que precisamos dar
passos gigantes."
Para dom Geraldo Majella, a
educação brasileira é de má qualidade e não chega para todos.
O cardeal também criticou o
principal programa social do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o
Fome Zero. "O Fome Zero ainda
não deu aquilo que se esperava
dele. Por outro lado, acho que o
programa não preenche todas as
necessidades. É claro que a gente
tem de dar comida a quem não
tem, a quem está com fome, de
uma forma que não seja assistencialista. Não podemos deixar de
prover o emprego necessário para
tanta gente."
Ao final da cerimônia, dom Geraldo Majella disse que não pretende disputar a reeleição à presidência da CNBB (o pleito acontecerá em 2007). "Reeleito, teria
apenas mais um ano de mandato,
antes de atingir a aposentadoria
compulsória", disse o religioso ao
se referir à idade de 75 anos, limite
dado pelo Vaticano para se atuar
pela Igreja Católica.
O cardeal disse também que faz
críticas ao governo Lula porque
sabe que as suas observações são
ouvidas pelo fato de a Igreja Católica ser uma presença forte no cenário brasileiro. "Não há uma
reunião da CNBB sem a participação de um ministro, de embaixadores. Eles querem ouvir a CNBB
e trocar idéias conosco", disse
Majella.
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