São Paulo, sábado, 10 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Instituto faz pesquisa, mas sindicato diz que não pediu

Entidades nega ter requisitado levantamento; Sensus afirma que houve "erro formal"

Instituto aponta um outro sindicato como contratante; tesoureiro nega, mas depois o presidente da entidade afirmou que fez o pedido


RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A mais recente pesquisa de intenção de voto para a sucessão presidencial registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) indicou como contratante um sindicato que, na realidade, não encomendou a pesquisa.
Procurada pela Folha, o instituto Sensus, que realiza a pesquisa, reconheceu que houve um suposto "erro material". No início da noite de ontem, informou ao TSE o nome de outro contratante. A pesquisa deve ser concluída na segunda-feira.
Mas, no outro sindicato apontado pelo instituto como contratante, houve incongruência nas respostas da diretoria. O tesoureiro negou que houvesse encomendado o levantamento, mas depois o presidente confirmou o pedido.
Pela lei, as pesquisas eleitorais devem ser registradas no TSE cinco dias antes da divulgação. O registro protocolado no TSE no último dia 5 indicava como contratante da pesquisa, por R$ 110 mil, o Sindecrep, sindicato de trabalhadores em concessionárias de rodovias.
Nos registros do Ministério do Trabalho, há três sindicatos denominados "Sindecrep" -todos negaram a contratação.
"Não contratamos. Não foi o nosso Sindecrep, deve ser de outro Estado, eu vi na internet que seria o do Paraná", informou Regiane Nogueira Lopes, secretária-geral do Sindecrep de São Paulo.
A entidade paranaense também negou. "A informação eu confirmei com o presidente, ele me disse que não fez nenhum tipo de pesquisa. Ele me passou a informação de que desconhece esse pedido, ele não fez nenhuma pesquisa", disse a secretária do sindicalista Anderson Luiz Bueno.
O terceiro Sindecrep, do Rio, também negou. "Não fomos, não. A gente não foi", informou Marcos Antônio Pereira Silva, secretário-geral da entidade.
À tarde, o sócio e diretor do Sensus, Ricardo Guedes Ferreira Pinto, reconheceu à Folha que os dados entregues ao TSE estavam errados. "Na hora de preencher as fichas [...] houve um erro material. Os dois sindicatos trabalham no mesmo local", disse Guedes. Ele afirmou que o contratante da pesquisa é o Sintrapav (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada e Afins do Estado de SP).
Filiado à Força Sindical, do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT), o Paulinho, que integra a base de apoio do governo federal, o Sintrapav tem uma receita estimada "entre R$ 1 milhão e R$ 1,2 milhão" anuais -assim, o pagamento da pesquisa corresponde a cerca de 10% do orçamento anual.
O sindicato tem cerca de 4.500 filiados, trabalhadores de empreiteiras de obras públicas e privadas como Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e CR Almeida.

Divergências
Mas as inconsistências nas informações continuaram. O tesoureiro do Sintrapav, Arlindo da Silva, disse à Folha, por volta das 16h, que desconhecia a contratação. "Aqui a diretoria não está sabendo de nada dessa pesquisa", disse. Indagado se houve pagamento à Sensus, Silva negou: "Não, nada. Não estou sabendo de nada. Até na segunda-feira vou conversar com o Wilmar para ver. Eu que assino os cheques. Não [assinei]".
O presidente do Sintrapav, Wilmar Gomes dos Santos, disse, às 17h30, que a pesquisa não fora contratada para atender aos interesses do Sintrapav, mas, sim, aos da Fenatracop (Federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada), embora o pagamento tenha sido feito "através" do Sintrapav. Santos preside as duas entidades.
"A federação nacional é que tem interesse, e [o contrato] foi feito através do sindicato. Por quê? Porque o sindicato tinha condições financeiras de arcar com esse compromisso nesse momento. A federação é devedora do sindicato."
Santos afirmou não ser filiado a nenhum partido, mas "simpatizar" com o PT. Disse estar "contratualmente impedido" de revelar detalhes do contrato e não confirmou o valor registrado no TSE. "Não sei onde vocês arrumaram esse número." Alegou ainda que a versão do tesoureiro sobre o pagamento não era correta.

PAC continua?
Santos disse que "é do interesse direto" da federação saber quem será o próximo presidente da República. Indagado se outras pesquisas já não estariam apontando tais tendências, Santos afirmou:
"As pesquisas são interessantes, estamos acompanhando. Mas nós queremos a nossa pesquisa, com os nossos questionários. Temos um interesse grande nisso", disse Santos, citando como dúvida "se o PAC vai continuar ou não". Contudo, ele disse que "muito possivelmente" daqui para a frente não pedirá novas pesquisas.
O sindicalista disse que houve "outras rodadas de pesquisa" -"essa é a última rodada de quatro, se não me falha a memória"-, mas não há registro semelhante no TSE.
Santos aparece em reportagens de 2009 falando em nome de trabalhadores que fizeram paralisações nas obras do Rodoanel de São Paulo.
Por volta das 18h20, o registro no TSE sobre a pesquisa foi alterado, com a inclusão do nome do outro contratante, o Sintrapav. Tanto Santos quanto Guedes, da Sensus, disseram não ter certeza de que a pesquisa será divulgada.
Previsto para ontem, o encerramento do trabalho de campo deverá ocorrer na segunda, por causa das chuvas.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.