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MORADIA CAMARADA
Casa banca aluguel (estimado em R$ 2.000), condomínio e telefone e diz esperar solução "amigável"
Câmara paga apartamento de ex-deputados
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um ano e quatro meses depois
de encerrar seus mandatos parlamentares, 19 ex-deputados continuam usufruindo dos apartamentos funcionais que a Câmara
possui no Plano Piloto de Brasília,
um dos metros quadrados mais
caros do país. Entre os políticos
que perderam o mandato, mas
não perderam a casa, estão os cartolas do futebol Eurico Miranda
(Vasco) e Zezé Perrella (Cruzeiro)
e o ministro Waldir Pires (Controladoria Geral da União).
Além de morar de graça e de ter
parte das despesas pagas pela Câmara, alguns estenderam o benefício a atuais e ex-assessores . Os
imóveis são para uso exclusivo de
parlamentares.
À exceção do ministro e da ex-deputada Esther Grossi (PT-RS),
que argumentam ter aberto mão
de auxílio semelhante que teriam
por prestar serviços ao Executivo,
os outros 17 nomes não prestam
ou prestaram serviços à União.
Os contatados pela Folha se dividem em explicações as mais variadas, como a expectativa de voltar a ser deputado, no caso dos suplentes, e o fato de que mais de
200 dos 432 apartamentos da Câmara estão vazios (há imóveis
com problemas e os deputados
podem escolher entre eles e um
auxílio mensal de R$ 3.000).
A Câmara não lançou mão de
nenhum dos dois instrumentos
legais que possui para forçar a desocupação: acionar o TCU (Tribunal de Contas da União) e entrar na Justiça. O presidente da
Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), disse desconhecer o caso e
que tão logo tome conhecimento
vai determinar a desocupação.
O deputado Ciro Nogueira
(PFL-PI), 4º Secretário da Câmara
e responsável pela administração
dos apartamentos, espera que até
julho o problema esteja resolvido:
"Devido a essa sobra [de apartamentos], estamos sendo tolerantes, mas alguns não são sensíveis
aos apelos e teremos de tomar
medidas mais duras".
O secretário-geral da Câmara,
Sérgio Sampaio, disse que os gastos com os ex-parlamentares, incluindo uma taxa de ocupação de
cerca de R$ 700/mês, serão cobrados, amigavelmente ou não. Ele
não informou o valor da dívida.
Apartamentos similares aos da
Câmara -com 225 metros quadrados e três quartos- têm aluguel avaliado em mais de R$ 2 mil,
se em bom estado. A Casa paga
ainda condomínio e telefone.
O ministro Waldir Pires disse
ter aberto mão do auxílio-moradia -R$ 1.800 ou outro apartamento funcional- a que teria direito por ser ministro: "Preferi ficar, partindo do pressuposto de
que todos os bens são da União.
Como havia vagas, indaguei a Câmara sobre a possibilidade".
A ex-deputada Esther Grossi
disse ter usado o apartamento
após o término de seu mandato
porque convênio entre a Câmara,
o Ministério da Educação e a
ONG da qual ela participa daria
direito à moradia. Ela diz ter devolvido o apartamento em janeiro. O outro imóvel em seu nome
está, segundo ela, sob cuidados da
Comissão de Educação da Casa.
Com assessor
Um dos apartamentos abriga o
ex-chefe-de-gabinete do ex-deputado Zezé Perrella (PSDB-MG).
Segundo ele, a culpa é da Câmara,
que "encobre safadezas". Ao ser
contatado pela pela reportagem,
afirmou desconhecer o caso. Minutos depois ligou de volta dizendo que soube por uma ex-assessora que seu ex-chefe-de-gabinete,
José Guilherme Cardoso, mora
em um apartamento funcional
desde 2003. "Minha funcionária
disse que ele continua lá porque a
Câmara deixou." A Casa nega.
Outro imóvel abriga a ex-deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA), ex-mulher do deputado Jader Barbalho. Ela afirma que deve
entregar o imóvel porque já comprou um apartamento novo.
"Quando fui devolver, disseram
que era melhor eu ficar, para conservar o apartamento." A Câmara
também nega.
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