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A visita do papa
Papa aparece por 4 minutos para 15 mil
Reunido em frente ao mosteiro de São Bento, onde o pontífice se hospeda, público recebeu-o com "olê, olê, olá, Bentô, Bentô"
No final da saudação, papa escorrega no português e se despede da multidão em espanhol, com "buenas noches" e "muy obrigado"
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Das 18h às 18h04 -quatro
minutos. Esse foi o tempo que a
multidão concentrada no largo
do mosteiro de São Bento, região central de São Paulo, teve
para ver o papa Bento 16, em
seu primeiro compromisso de
massas em solo brasileiro. A
Polícia Militar calculou em 15
mil o número de pessoas presentes nesse encontro.
"É uma igreja em festa! De
todos os cantos do mundo estão rezando pelos frutos desta
viagem, a primeira viagem pastoral ao Brasil e à América Latina que a Providência me permite realizar como sucessor de
Pedro", disse Bento 16 no discurso de 97 palavras (o tamanho de 2,5 ave-marias), proferido por detrás de proteção blindada, na sacada do mosteiro.
Foi em bom português que o
papa se expressou -ele leu o
breve discurso. Depois de
abençoar a multidão com o "em
nome do pai, do filho e do Espírito Santo" em latim, entretanto, veio a escorregada para o espanhol: "Muy obrigado" e "buenas noches".
"Bentôôô, Bentôôô"
Bento 16 ainda não tem um
hit como o "João de Deus", que
acompanhava o papa João Paulo 2º em seus compromissos. O
jeito, então, foi improvisar:
"Olê, olê, olê, olá, Bentôôô,
Bentôôô", cantou o povo à moda das torcidas de futebol. O
outro grito era mais simples:
"Viva o papa, viva o papa".
Teve gente, como o auxiliar
administrativo Edimar Fernandes, 28, de São Paulo, que
reclamou quando Bento 16 saiu
do púlpito blindado para dentro do mosteiro, onde ficará
hospedado durante a visita a
São Paulo. "Pô, foi tudo tão rápido, quando eu ia começar a
ouvir, já tinha acabado".
Os fiéis começaram a chegar
logo pela manhã, mas foi a partir das 16h que o local se encheu. Várias delegações latino-americanas identificavam-se
por suas bandeiras nacionais.
A estudante de psicologia
Alejandra Fernandez, 19, chegou ao Brasil anteontem com
um grupo de 140 garotas organizadas pelo Opus Dei do Chile.
As jovens pretendem acompanhar todos os compromissos de
Bento 16 e voltar ao seu país na
segunda-feira.
Lucia Peña, 15, veio da Argentina com um grupo de 90
adolescentes. Para ela, o papa é
"um modelo de vida". Lucia
acredita nos valores da igreja.
"Os jovens devem esperar até o
casamento para manter relações sexuais."
"Esta acolhida tão calorosa
comove o papa! Obrigado por
terem querido aguardar-me.
Estes dias para todos vocês e
para a igreja estarão cheios de
emoções e de alegrias", disse
Bento 16.
À distância de 15 metros do
prédio do mosteiro -o cordão
de isolamento era guardado
por homens do Exército e das
polícias civil, militar e federal,
além da Guarda Civil Metropolitana-, a multidão agitava
bandeirinhas distribuídas pelos organizadores 15 minutos
antes da chegada do papa.
Camelôs vendiam -a R$ 5-
lenços brancos para serem agitados. Calendários saíam por
R$ 2. Camisetas, por R$ 20. E
até um insólito diploma "eu vi o
papa" era oferecido a R$ 5.
Mas nada saiu tanto quanto
as capas de chuva, vendidas a
R$ 20 (o preço normal é R$ 5).
Garoou durante todo o dia de
ontem sobre São Paulo.
Era um público católico especial. Formado em sua maioria por praticantes dos preceitos religiosos, por militantes de
movimentos organizados e por
sacerdotes e freiras, o pessoal
que esperava o papa é antiaborto e vai com freqüência à missa.
Mesmo assim, havia quem
divergisse um pouco. A doméstica Nilda dos Santos, 57, levou
seis netas para ver o papa. Nilda
conta que teve nove filhos. "Na
minha época, ninguém usava
camisinha." Ela ressalta que
não é contrária ao uso, nem ao
sexo antes do casamento. "Cada um faz o que quer", diz.
O estudante Kleison dos Santos, 18, concorda: "Sexo antes
do casamento, união homossexual e o uso da camisinha são
opções pessoais."
Com CLARA FAGUNDES e MARIANA BENEVIDES, colaboração para a Folha, e GUILHERME CAMPOS, da Folha Ribeirão, em São Paulo
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