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Garoto de milagre vira celebridade instantânea
Enzo, 7, nasceu após mãe tomar pílulas de frei Galvão
FÁBIO VICTOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Se anjos existem e são como
os pintaram os renascentistas,
o menino Enzo de Almeida Gallafassi, 7 anos, bem poderia
passar por um. Tem bochechas
rosadas, cabelos claros (mas
sem cachos) e olhos verdes.
A reforçar a imagem ainda há
uma ocorrência tida como divina: ele é o fruto do segundo milagre atribuído ao frei Galvão,
aquele que consumou a canonização do santo brasileiro.
A mãe de Enzo, Sandra Grossi de Almeida, 37, tem má-formação do útero e, antes de dar à
luz, sofreu dois abortos espontâneos, um deles de gêmeos.
Tomou pílulas do frei Galvão
durante a terceira gravidez, novamente atribulada e de alto
risco. Enzo nasceu prematuro e
com problemas pulmonares.
Hoje é saudável. Bastam alguns minutos de contato para,
da aura sagrada, escapulir um
garoto próximo do que mesmo
católicos praticantes chamam
candidamente de diabinho -irrequieto, esperto e sempre com
respostas desconcertantes.
Alvo certo da mídia nesses
dias carregados de religiosidade, o menino-milagre tem tido
uma agenda cheia. Veículos de
várias partes do mundo querem contar a sua história.
Para a mãe, essas aparições
todas são como uma missão irrevogável: "Sei que minha família foi escolhida para representar um povo inteiro. Então,
tenho o compromisso comigo
mesma de mostrar meu caso".
Para o garoto, é um saco. Indagado sobre o que tem achado
de tantas entrevistas, diz somente "chato", e logo sorri.
Quando o tema é futebol, Enzo conta que, além do Palmeiras, torce para a Itália, terra dos
ancestrais dos pais. E por quê?
"Porque o Brasil é ruim."
Está adiantado na escola.
Cursa o terceiro ano do ensino
fundamental (antiga segunda
série) num colégio de classe
média em Brasília, onde a família, paulistana, vive há quatro
anos e meio. Ele se destaca numa turma de 25 alunos.
"O Enzo é superinteligente.
Em matéria de domínio de assunto, é o primeiro de sua classe", comenta a professora Kênia Cristina de Queiroz.
O desafio é tentar tratar normalmente uma criança que, de
repente, foi cercada de mesuras
e holofotes. Após uma das primeiras aparições na TV, a classe o aplaudiu quando ele entrou no dia seguinte. Na última
segunda, muitos o cumprimentaram pela reportagem exibida
no "Fantástico" da véspera.
A professora diz que ele fica
tímido. "Preparo a turma [para
encarar com normalidade], e
tento explicar, sem entrar em
detalhes, por que é famoso."
Num terreno intangível mesmo para adultos, não é fácil.
"No início, [os colegas] diziam
coisas como "Enzo, que legal,
você nasceu'", relembra Kênia.
A reportagem conversou
com um aluno de turma de Enzo, que disse saber da maratona
de entrevistas do colega, mas
não soube responder o motivo.
Informado pelo repórter, exclamou: "Sério? Que doido".
Todo o resto é normal. Enzo
largou o piano e o judô; faz aulas de basquete e de futsal. Adora videogame, especialmente
os jogos Need For Speed Underground 2 e Fifa-2007.
Ainda não fez a primeira comunhão. Os pais esperam que
ele receba a hóstia inaugural de
Bento 16 na missa de amanhã
no Campo de Marte, quando
frei Galvão será canonizado.
"Vamos ver se vai dar certo",
diz Sandra. De um coisa Enzo
está convicto, caso fique cara a
cara com o pontífice: o que gostaria de pedir a ele. "Um Hot
Wheels", diz, citando a marca
dos minicarrinhos de ferro.
Aliás, mais um para sua coleção, que, diz ele, soma 132.
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