São Paulo, segunda, 10 de maio de 1999

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Democratização pegou ensino despreparado

da Reportagem Local

A violência nas escolas é consequência perversa de algo positivo e de um processo mais que desejável: a democratização do ensino no Brasil.
"Antigamente, a escola era para poucos. Por uma série de movimentos sociais e políticos a escola se tornou democrática, um espaço no qual diferentes grupos sociais convivem. Se há violência na rua, e se a escola abriu as portas para todos, a violência acaba entrando na escola", diz Lino de Macedo, professor titular de Psicologia do Desenvolvimento da USP (Universidade de São Paulo).
O problema, continua Macedo, é que a escola não foi e continua não preparada para assumir as consequências de um processo que, em si, é bom.
"O professor está muito acuado. Ele tem de ser preparado para lidar com essa nova situação. A escola tem de mudar o sistema de avaliação e a maneira como se relaciona com o aluno."
² Nova clientela

Opinião semelhante tem a secretária da Educação do Estado de São Paulo, Rose Neubauer. Ela vê, como uma das grandes vitórias das ações governamentais na área da educação nos últimos anos, a incorporação de contingentes que antes estavam excluídos do sistema educacional.
No entanto, ela admite que é preciso criar mecanismos para atender essa nova clientela de maneira mais adequada.
Quanto ao combate à violência, no entanto, Rose defende um trabalho mais amplo, que inclua políticas governamentais nas áreas da educação, da saúde e da assistência social.
Para o educador Júlio Groppa Aquino, professor da Faculdade de Educação da USP, o combate à violência nas escolas passa sobretudo por uma reformulação das relações internas.
"A escola não é apenas vítima da violência que está nas ruas e em casa. A violência que se manifesta na escola tem matizes próprios da instituição escolar", diz ele.
Essas características específicas assumidas pela violência escolar são decorrentes, diz Aquino, de mecanismos inerentes à própria escola, que ainda se vale de mecanismos de exclusão para disciplinar e controlar os alunos.
"É comum que as escolas adotem códigos de normas rígidos que exigem a obediência dos alunos porque era assim que ela era boa. Mas esse é um modelo do passado. É preciso trabalhar dentro de uma perspectiva de inclusão", diz ele. (MAv)




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