São Paulo, domingo, 10 de junho de 2001

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ROMBO AMAZÔNICO

Documento cita empresas na base eleitoral do senador

Lista de projetos da Sudam liga Jader a ex-dirigente

Cristino Martins/"O Liberal"
Arthur Tourinho chega à sede da Polícia Federal em Belém para depor


ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PALMAS

Uma lista com a situação de 26 projetos financiados pela extinta Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) colocou o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB), no centro de uma investigação da Polícia Federal e da Procuradoria da República sobre a influência política, esquemas de fraude e outras irregularidades na autarquia.
A lista foi encontrada por policiais federais na casa de Belém do ex-superintendente da Sudam Arthur Guedes Tourinho, que é acusado de envolvimento em desvio de verbas.
No papel, Tourinho informa ao senador, citado como "sen JB", o estágio de execução de 26 projetos supostamente de seu interesse, a maioria no Pará -mais especificamente na região de Altamira, uma das principais bases eleitorais de Jader.
Na próxima semana, a Polícia Federal encaminha à cidade duas equipes para fazer uma "varredura" nos projetos indicados.
Na avaliação dos responsáveis pelas investigações, delegados e procuradores que atuam no Pará e no Tocantins, a lista encontrada com Tourinho é o primeiro indício ligando pessoalmente Jader aos grupos acusados de desviar recursos da Sudam.
A lista não tem data, segundo apurou a Agência Folha.
Tourinho foi indicado por Jader em 1996 e pediu exoneração em 1999. Neste ano, o governo transformou a medida em demissão porque sindicância da Sudam apontou que ele beneficiou com liberações irregulares José Osmar Borges, empresário acusado de desviar mais de R$ 100 milhões e ex-sócio de Jader em uma fazenda no interior do Pará.

Grupo de Altamira
Entre as empresas da lista, estão pelo menos dez que tiveram financiamento da Sudam para os seis membros do diretório do PMDB de Altamira.
As investigações das fraudes na Sudam estão mais avançadas com relação ao chamado "grupo de Altamira", liderado pelos irmãos José e Romildo Soares, ambos amigos e correligionários de Jader.
Na última quinta-feira, o delegado da Polícia Federal Hélbio Dias Leite indiciou Romildo Soares, acusado de utilizar "laranjas" para desviar R$ 2,5 milhões de financiamentos da Sudam em quatro empreendimentos localizados no Tocantins. Romildo afirma que só fala à Justiça sobre o caso.
"É patente o envolvimento de políticos na liberação de verbas da Sudam. Nós chegaremos lá", se limita a dizer o delegado Dias a respeito das investigações.
Três recibos dados pelo PMDB de Altamira a José Soares, ex-tesoureiro de campanha de Jader na região, também são investigados pela PF. Os recibos somam R$ 70 mil e atestam doação de campanha de José Soares ao atual prefeito do município, Domingos Juvenal de Souza (PMDB). Ambos não foram encontrados para comentar o caso.
A PF e a Procuradoria acreditam que com a quebra de sigilo bancário -ainda em análise pela Justiça Federal- será possível provar que os recursos doados, como se suspeita, saíram de alguma das quatro empresas de José Soares que tiveram financiamento da Sudam.
Os projetos do "grupo de Altamira" foram intermediados pelos escritórios de lobby de Maria Auxiliadora Barra Martins e Geraldo Pinto da Silva, o GPS.
Esses mesmos escritórios prestaram serviços à Centeno & Moreira S.A., o ranário da mulher de Jader, Márcia Zahluth Centeno, investigado pelos interventores da Sudam por suposto desvio em um repasse de R$ 9 milhões feito pelo órgão.
Maria Auxiliadora e GPS são acusados pela PF e pela Procuradoria de serem gerentes de fraudes contra a Sudam. A Advocacia Geral da União já conseguiu bloquear os bens de Maria Auxiliadora e entra na próxima semana com ação semelhante referente a GPS [leia texto nesta página".
A Agência Folha apurou que, a cada pasta de documentos apreendidos em poder de GPS e de Maria Auxiliadora, cristalizam-se mais as indicações de que há relação entre eles e o grupo de Jader Barbalho.
Em fevereiro, por exemplo, Maria Auxiliadora enviou telegrama a Jader parabenizando-o por sua eleição à presidência do Senado. "Comungo alegria e orgulho paraenses pela eleição à presidência do Senado e do Congresso Nacional", diz parte do texto endereçado ao gabinete de Jader.
A PF requereu na sexta-feira um exame grafotécnico de Maria Auxiliadora para atestar serem de sua autoria vários bilhetinhos, anotações e correspondências que estão sendo investigadas.


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