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OCASO BAIANO
Houve atraso no crescimento econômico do Estado na última década
Desigualdade social cresce na Bahia em anos carlistas
WLADIMIR GRAMACHO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
Diversamente do cenário pintado pelos adeptos do ex-senador
Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), os últimos dez anos de administração carlista na Bahia (1991-2001) aprofundaram a desigualdade na distribuição de renda, colocaram mais trabalhadores na
informalidade e atrasaram o crescimento econômico do Estado.
Essas conclusões contrastam
com os elogios propagados pelos
admiradores de ACM, "o pai da
Bahia", segundo a cantora Gal
Costa, ou "o responsável por toda
a beleza existente na Bahia", na
opinião da escritora Zélia Gattai.
Mas elas surgem das estatísticas
oficiais do governo baiano, baseadas em dados de órgãos estaduais
e do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
ACM preferiu não incluir essas
informações sobre a Bahia -segundo ele, "o Estado que deu certo antes do Brasil"- em seu discurso de renúncia, no qual fez um
balanço de sua vida pública, apresentando-se aguerrido combatente da desigualdade social.
Ao criticar o governo Fernando
Henrique Cardoso, ACM alertou
para a necessidade de "correr
atrás do tempo perdido". E ressaltou: "Os salários cada vez menores, a vida do pobre cada vez pior,
chegando a apontar, para o futuro
próximo, a desordem, que só pode ser evitada se medidas urgentes vierem". A desigualdade social
no país não melhorou nos anos 90
(os 50% mais pobres detinham,
em 99, 14% da renda nacional, o
mesmo percentual que tinham
em 92), mas a administração de
ACM e de seus dois sucessores
não trouxe resultados melhores.
De 1992 a 1999, período em que
a Bahia foi governada por ACM,
Paulo Souto e César Borges, o décimo mais pobre da população
baiana ficou ainda mais pobre.
Em 1992, dividia 1,7% da renda
apurada no Estado. Em 1999, passou a repartir menos ainda, 1,5%.
Já os ricos ficaram ainda mais
ricos. O décimo mais abastado da
população elevou sua participação na renda de 46,7% para
47,1%, durante o mesmo período.
Os dados foram divulgados em
2000 pela Superintendência de
Estudos Econômicos e Sociais da
Bahia, órgão ligado à Secretaria de
Planejamento do Estado. Integram a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios, do IBGE.
Assim como no resto do país, as
condições de emprego do trabalhador na Bahia se deterioraram
entre 92 e 99. O número de empregados com carteira (que têm
direitos trabalhistas assegurados)
foi reduzido em 10%, o equivalente a 9.758 postos. O número de
trabalhadores sem carteira assinada cresceu 16%, passando de
1,085 milhão para 1,262 milhão.
Na contramão da reforma administrativa que o governo federal vem tentando impor a Estados
e municípios, a Bahia registrou
aumento de 69% no grupo de
funcionários públicos e militares,
que se elevou de 121,8 mil para
206,2 mil no Estado de 92 a 99.
Apesar disso, obter emprego está mais difícil na Bahia do que em
outros Estados: o PIB baiano vem
crescendo mais devagar que o
brasileiro. Entre 1990 e 2000, o
produto interno bruto do país registrou variação de 30,1%. Nesse
mesmo período, a economia da
Bahia cresceu apenas 26,6%.
Com isso, cresceu o desemprego na região metropolitana de
Salvador, cidade administrada
desde 1997 pelo também carlista
Antônio Imbassahy (PFL).
Informações do Anuário Estatístico de 2000 da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia revelam que a região registrou taxas de desemprego de 21,6% em 1997, de 24,2% em
1998 e 1999 e de 25,2% em 2000.
De acordo com o IBGE, a taxa
de desemprego aberto (30 dias)
em Salvador passou de 10,3% em
novembro de 2000 para 11,1% em
abril de 2001, mas, em Porto Alegre, ela caiu -de 7,0% para 6,3%.
É claro que nem tudo piorou na
Bahia: de 1991 a 2000, a taxa de fecundidade caiu de 3,33 filhos por
mulher para 2,3, a expectativa de
vida subiu de 64,74 anos para 67,7
anos, e a taxa de mortalidade infantil caiu de 61,5 óbitos em cada
mil nascidos vivos para 45,6.
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