São Paulo, domingo, 10 de junho de 2001

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OCASO BAIANO

Houve atraso no crescimento econômico do Estado na última década

Desigualdade social cresce na Bahia em anos carlistas

WLADIMIR GRAMACHO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Diversamente do cenário pintado pelos adeptos do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), os últimos dez anos de administração carlista na Bahia (1991-2001) aprofundaram a desigualdade na distribuição de renda, colocaram mais trabalhadores na informalidade e atrasaram o crescimento econômico do Estado.
Essas conclusões contrastam com os elogios propagados pelos admiradores de ACM, "o pai da Bahia", segundo a cantora Gal Costa, ou "o responsável por toda a beleza existente na Bahia", na opinião da escritora Zélia Gattai. Mas elas surgem das estatísticas oficiais do governo baiano, baseadas em dados de órgãos estaduais e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
ACM preferiu não incluir essas informações sobre a Bahia -segundo ele, "o Estado que deu certo antes do Brasil"- em seu discurso de renúncia, no qual fez um balanço de sua vida pública, apresentando-se aguerrido combatente da desigualdade social.
Ao criticar o governo Fernando Henrique Cardoso, ACM alertou para a necessidade de "correr atrás do tempo perdido". E ressaltou: "Os salários cada vez menores, a vida do pobre cada vez pior, chegando a apontar, para o futuro próximo, a desordem, que só pode ser evitada se medidas urgentes vierem". A desigualdade social no país não melhorou nos anos 90 (os 50% mais pobres detinham, em 99, 14% da renda nacional, o mesmo percentual que tinham em 92), mas a administração de ACM e de seus dois sucessores não trouxe resultados melhores.
De 1992 a 1999, período em que a Bahia foi governada por ACM, Paulo Souto e César Borges, o décimo mais pobre da população baiana ficou ainda mais pobre. Em 1992, dividia 1,7% da renda apurada no Estado. Em 1999, passou a repartir menos ainda, 1,5%.
Já os ricos ficaram ainda mais ricos. O décimo mais abastado da população elevou sua participação na renda de 46,7% para 47,1%, durante o mesmo período.
Os dados foram divulgados em 2000 pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, órgão ligado à Secretaria de Planejamento do Estado. Integram a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE.
Assim como no resto do país, as condições de emprego do trabalhador na Bahia se deterioraram entre 92 e 99. O número de empregados com carteira (que têm direitos trabalhistas assegurados) foi reduzido em 10%, o equivalente a 9.758 postos. O número de trabalhadores sem carteira assinada cresceu 16%, passando de 1,085 milhão para 1,262 milhão.
Na contramão da reforma administrativa que o governo federal vem tentando impor a Estados e municípios, a Bahia registrou aumento de 69% no grupo de funcionários públicos e militares, que se elevou de 121,8 mil para 206,2 mil no Estado de 92 a 99.
Apesar disso, obter emprego está mais difícil na Bahia do que em outros Estados: o PIB baiano vem crescendo mais devagar que o brasileiro. Entre 1990 e 2000, o produto interno bruto do país registrou variação de 30,1%. Nesse mesmo período, a economia da Bahia cresceu apenas 26,6%.
Com isso, cresceu o desemprego na região metropolitana de Salvador, cidade administrada desde 1997 pelo também carlista Antônio Imbassahy (PFL).
Informações do Anuário Estatístico de 2000 da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia revelam que a região registrou taxas de desemprego de 21,6% em 1997, de 24,2% em 1998 e 1999 e de 25,2% em 2000.
De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego aberto (30 dias) em Salvador passou de 10,3% em novembro de 2000 para 11,1% em abril de 2001, mas, em Porto Alegre, ela caiu -de 7,0% para 6,3%.
É claro que nem tudo piorou na Bahia: de 1991 a 2000, a taxa de fecundidade caiu de 3,33 filhos por mulher para 2,3, a expectativa de vida subiu de 64,74 anos para 67,7 anos, e a taxa de mortalidade infantil caiu de 61,5 óbitos em cada mil nascidos vivos para 45,6.



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