São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Sofrimento

Ganhou atenção aqui e na Argentina uma declaração de Lula no Rio:
- Eu confesso que quase não venho, de sofrimento.
Falava do primeiro tempo do jogo com a Argentina, mas nos telejornais e outros surgiu em meio ao escândalo.
Só em Buenos Aires a frase foi aparecer, ridicularizada, no meio do futebol. Na home page do "Clarín":
- O presidente Lula admite: "Nunca sofri tanto".

 

E no Congresso avançou o "sofrimento" real.
Começou à tarde o show da CPI dos Correios. Ao vivo na Band News, Globo News e nos canais legislativos, lá estavam Jefferson Péres, Heloísa Helena e colegas.
Mas, pelo menos ontem, os protagonistas do "impasse", no dizer da escalada do "Jornal da Record", foram o petista Aloizio Mercadante e o tucano Arthur Virgílio.
Na primeira manchete do "Jornal Nacional", "Congresso instala CPI, mas sessão é adiada por falta de um acordo entre o governo e a oposição".
E nada de decisão, até terça. O que não quer dizer que faltou emoção ao espetáculo, ontem, em especial da parte do PFL de Agripino Maia.
 

E vem CPI por aí. Segundo a Globo News, "Renan Calheiros avisou que vai aceitar todos os pedidos".
Então, tome a governista CPI da Compra de Votos, ontem na Folha Online:
- Base aliada cria CPI para investigar o suposto pagamento de mesada pelo PT e denúncias de compra de votos na emenda da reeleição de FHC.
E tome a oposicionista CPI do Mensalão, na Globo News:
- Deputado Raul Jungmann, do PPS, anunciou que já tem as assinaturas. Vai aguardar um pouco para entregar com maior número de deputados.
Segundo o "JN", o Senado tem ainda uma terceira CPI sobre o mensalão.
 

Enquanto isso, o pivô Roberto Jefferson "mandou recados", no dizer do "JN". Entre outros, por José Múcio:
- Ele pediu que eu avisasse ao país que não tem fitas.
É porque, segundo o colega emissário, "fitas são coisa de araponga, coisa que ele não é". O blog de Jorge Bastos Moreno atribuiu outras declarações a Jefferson:
- Não, eu não vou detonar o governo. Eu vou detonar o PT, vou provar o esquema montado pelo PT. Para isso, infelizmente, vou arrastar algumas pessoas do PP e do PL.
 

No mundo, a repercussão avança. Ontem foi a vez do "Los Angeles Times" e de novo -agora em tom preocupado e algo crítico em relação a Lula- do "Financial Times":
- Esta não é uma boa semana para Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente brasileiro enfrenta sua crise mais séria desde que assumiu.

CADA VEZ PIOR
Reuters             TV/Reprodução
Na "Economist" (à esq.) e na Globo, cenas da Bolívia

Na CNN em espanhol, as imagens são de confrontos, incêndios, ambulâncias. E o enunciado recorrente, na barra de informações, é "cada vez pior". Para a enviada da Globo, "as manifestações paralisam o país há 20 dias" e o perigo agora é "guerra civil".
Mas para a cobertura no Brasil só importa o gás. Foi o que concentrou a atenção do "JN":
- Segundo o sindicato das empresas distribuidoras, nas residências não há risco de faltar gás.
 

Para a "Economist", a Bolívia está "encurralando o gás e a democracia", no título da reportagem. O "caos" do país rendeu editorial, avaliando que "a democracia ainda precisa de socorro" na região e cobrando o papel para a Organização dos Estados Americanos:
- É a América Latina -e não os EUA- que mais tem a ganhar com a proteção à democracia.
Também em editorial, o "Los Angeles Times" foi na mesma linha e culpou a "falta de tato" de George W. Bush e a "imaturidade de muitos líderes de esquerda, a começar de Lula", pela rejeição da OEA como garantia da democracia no hemisfério.

O que será
Do comentarista do "JN":
- As preliminares têm peso menor do que se imagina. Basta lembrar a CPI do Collor. Aliás, ela se chamava CPI do PC Farias. O governo fez questão de limitar as investigações. E colocou na presidência um deputado fiel. Nada adiantou e Collor entrou na roda... Portanto, vamos para as investigações. E o que tiver de ser será.
Pouco tempo
Do blog tucano E-agora:
- Os grandes meios que mantinham doses exageradas de boa vontade com o governo têm pouquíssimo tempo para fazer uma inflexão em sua política editorial, adotando uma posição mais independente... Mas ao que tudo indica já começaram a fazer tal inflexão.

@ - nelsondesa@folhasp.com.br

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