São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Governador usa chapéu de palha para rebater FHC, que desafiou "rebeldes" a tomar "caminho da roça"

Itamar se lança à presidência do PMDB

Cristina Horta/"Estado de Minas"
Newton Cardoso põe chapéu de palha em Itamar, que aceitou ser candidato a presidente do PMDB


OTÁVIO CABRAL
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE

RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), assumiu ontem em Belo Horizonte sua candidatura à presidência de seu partido e disse que abandona o governo do Estado em caso de vitória na convenção do partido, marcada para 9 de setembro.
A decisão foi anunciada na inauguração da nova sede estadual do PMDB. Estavam presentes dois líderes nacionais: o presidente interino da legenda, senador Maguito Vilela (GO), e o ex-governador Paes de Andrade (CE). Ambos renunciaram às suas candidaturas em prol de Itamar.
O objetivo do ex-presidente ao aceitar disputar o controle do PMDB é, em caso de vitória, impor seu nome para concorrer ao Planalto no ano que vem. Se derrotado em setembro pelos governistas da sigla, Itamar deve sair e disputar pelo PDT ou PL.
Pelo estatuto do PMDB, o presidente do partido não pode acumular cargos de chefia no Executivo ou Legislativo, e assim Itamar teria de deixar o governo de Minas. Nesse caso, o Estado será assumido pelo vice-governador Newton Cardoso (PMDB).
Seguindo estratégia acertada há vários dias, coube ao presidente da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, lançar a candidatura de Itamar.
O deputado divulgou um documento com quatro pontos: candidatura própria em 2002, entrega imediata dos cargos do PMDB no governo federal, lançamento de Itamar à presidência do PMDB e, em 2002, ao Planalto.
O documento foi assinado pelos 23 deputados estaduais do Rio e por 95% dos delegados do Estado à convenção do PMDB. Cabral Filho disse que outros 11 diretórios, além do fluminense, o apóiam.
Nomes de peso do partido deixaram de comparecer. O deputado Hélio Costa (MG) contava com 18 diretórios estaduais e de líderes como Orestes Quércia (SP), Roberto Requião (PR) e Pedro Simon (RS). Quércia está viajando. Requião, em Curitiba, divulgou nota de apoio a Itamar.
Em Porto Alegre, Simon, que também quer concorrer ao Planalto, disse que não resta alternativa ao partido a não ser entregar seus cargos no governo federal e deixá-lo, seguindo o "caminho da roça" sugerido por FHC.
"Se o MDB [nome do partido em sua origem" não sair do governo agora, vai se esvaziar e ser expulso", disse. "As últimas declarações do Fernando Henrique deixam claro que ele quer o MDB fora do governo."
A cerimônia de ontem foi marcada por críticas ao presidente Fernando Henrique Cardoso, principalmente à declaração feita por ele na sexta-feira de que o PMDB descontente deveria seguir o "caminho da roça". A banda da PM mineira tocou músicas com referências caipiras. Itamar usou um chapéu de palha ao discursar.
"O PMDB vai seguir seu caminho. Vai deixar o governo, ter candidato próprio à Presidência e vai seguir o caminho da roça, caminho da fartura, que não tem acordos espúrios com o Fundo Monetário Internacional", declarou Maguito Vilela.
Itamar criticou a presença de FHC ontem em Minas, onde liberou recursos para as obras da rodovia Fernão Dias. "Ele veio a Minas hoje para mais uma vez tentar enganar os mineiros", afirmou.
Itamar também ironizou a citação à roça. "Quem sabe, presidente Fernando Henrique, quem sabe um dia nós nos encontremos na roça, nessa roça que todos nós amamos, não essa sua roça dos palácios mundo afora, dos grandes salões que Vossa Excelência costuma habitar, esquecendo o povo do Brasil."



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