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Reale Jr. se diz preocupado com "clima policialesco"
Para advogado, operação é sinal de momento delicado
Fernando Donasci/Folha Imagem
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O ex-ministro da Justiça do governo FHC Miguel Reale Júnior |
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O advogado Miguel Reale Júnior, 64, professor titular da
Faculdade de Direito da USP e
ministro da Justiça no governo
Fernando Henrique Cardoso,
entende que a jornalista Andréa Michael, da Folha, não cometeu crime ao revelar, em
abril, a investigação que resultaria na Operação Satiagraha.
Ele manifesta preocupação
com "um clima policialesco
que se está criando".
FOLHA - Como o sr. avalia a atuação da jornalista que antecipou a
Operação Satiagraha?
MIGUEL REALE JÚNIOR - Primeiro,
ela não é obrigada a saber de
que se trata de uma matéria
que esteja sob sigilo. Provavelmente, ela tomou conhecimento disso por via de próprias pessoas da Polícia Federal. O órgão
teria que apurar quem passou a
notícia. Essa notícia não foi
comprada. A Polícia Federal é
que tem permitido o acesso da
imprensa a dados sigilosos. No
Brasil, o segredo de Justiça
apenas não existe para a imprensa. É costumeiro se verificar que trechos de conversas
interceptadas são publicados. É
a própria Polícia Federal que dá
acesso, quando lhe interessa,
que municia a imprensa de dados que estão sob sigilo.
FOLHA - Ela cometeu crime?
REALE JÚNIOR - Ela não cometeu
crime. Não passou para a parte,
não foi agente da parte. Foi
agente do seu ofício. Ela publicou algo que lhe foi transmitido. E no momento que a autoridade passou o dado para ela,
deixou de ser sigiloso. E publicar se transforma em crime? É
absolutamente ilógico.
FOLHA - Como o sr. avalia o comentário do ministro Gilmar Mendes, ao
dizer que esse pedido de prisão "faz
inveja ao regime soviético"?
REALE JÚNIOR - Eu acho que nós
vivemos um momento muito
delicado. Independentemente
do mérito, como advogado não
quero dar qualquer opinião sobre os fatos, me preocupa muito esse clima policialesco que se
está criando. Vi a manifestação,
em um dos sites, de um usuário
perguntando quando é que a
Polícia Federal vai fechar o
Congresso. Isso é um sinal muito perigoso de um Estado ditatorial, que está sendo levado à
população como o Eliot Ness
nacional [agente do Tesouro
dos EUA que combateu o crime
organizado em Chicago]. Um
clima de salvação nacional.
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