São Paulo, sexta-feira, 10 de julho de 2009

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Fundação repassou verba ao contador da família

ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Fundação Sarney repassou R$ 40 mil destinados a um projeto cultural para a empresa de um contador que presta serviços para a família Sarney há pelo menos dez anos. Localizado pela Folha, ele não soube explicar que trabalho executou.
Os recursos são provenientes da Petrobras, que repassou R$ 1,3 milhão para a Fundação Sarney preservar o seu acervo.
Parte desse bolo foi destinado à MC Consultoria Empresarial Ltda. A empresa pertence a Marco Aurélio Bastos Cavalcanti, contador e advogado que trabalha para a TV Mirante, afiliada da "Rede Globo" em São Luís (MA), dos Sarney.
No ano de 2000, Cavalcanti assinou um documento da Junta Comercial do Maranhão como testemunha da alteração do capital social da TV Mirante, que passou a R$ 8,1 milhões, divididos em partes iguais pelos três filhos de José Sarney: Fernando Sarney, Roseana Sarney e Sarney Filho.
Por telefone, o contador confirmou ter sido contratado pela fundação, mas não conseguiu explicar para quê. "Foi serviço de assessoria para fazer um projeto. Fiz o serviço, está lá." Questionado sobre que tipo de assessoria, disse: "Assessoria para fazer o projeto, só isso".
A Folha insistiu. Quis saber para que projeto Cavalcanti prestou assessoria: "Foi um projeto lá da Fundação com a Petrobras (...) Assim de cabeça eu não vou me lembrar. Eu não posso me lembrar de tudo".
Depois de obter o documento mostrando que ele foi testemunha da TV Mirante, a Folha tentou novo contato com o contador, mas ele não estava.
Sua mulher, Lucileide, confirmou que ele presta até hoje serviços para a emissora. "[Ele presta serviço] quando precisa assim de uma consulta, para resolver tributação, negócio de despesa. Tipo uma consultoria mesmo para a empresa, onde pode melhorar, essas coisas."
A MC Consultoria não funciona no endereço informado à Receita. Mudou-se duas vezes, mas não atualizou os dados. Agora, está instalada em um escritório no bairro Calhau. Reportagem de "O Estado de S. Paulo" diz que a empresa é fantasma. O contador nega: "Sou conhecido em São Luís. Minha empresa existe. A prova é que você está falando comigo".
Em nota, a Fundação Sarney disse que a empresa está em "pleno funcionamento" e atende a diversas empresas de São Luís. Sobre os serviços prestados pela MC Consultoria, afirma que eles "foram realizados conforme as cláusulas estabelecidas no contrato".
A fundação também nega a afirmação de que essa e outras empresas que receberam recursos provenientes da Petrobras são fantasmas. Diz a entidade que elas têm endereço fixo e outros clientes.
A assessoria da Petrobras disse que sua responsabilidade no patrocínio era só comprovar se o nome da estatal era divulgado pela fundação na mídia ou em catálogos. Isso, segundo a companhia, foi cumprido.
Responsável pela prestação de contas do dinheiro repassado, o Ministério da Cultura afirmou que a fundação tem até o fim do mês para apresentar relatório final da aplicação do dinheiro e não comentará o caso até o julgamento do processo. A Controladoria Geral da União poderá abrir auditoria para verificar a aplicação dos recursos pela fundação. Ontem, o ministro Jorge Hage pediu informações preliminares sobre o patrocínio ao colega da Cultura, Juca Ferreira.



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